Traduzindo os New Poems
Apresento a seguir as traduções da “Introduction” e de seis poemas do livro New Poems, publicado em 1938 pelo poeta americano e. e. cummings.
Essas traduções fazem parte do projeto de um livro chamado Eu.E.Cummings, composto de versões de poemas extraídos de várias obras do poeta das “tortografias”.
Para a tradução da “Introduction”, contei com a revisão de Luiza de Toledo (a despeito disso, todos os prováveis “erros” na tradução são de minha inteira responsabilidade).
Boa leitura!
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I N T R O D U C T I O N
The poems to come are for you and for me and are not for mostpeople
–it’s no use trying to pretend that mostpeople and ourselves are alike. Mostpeople have less in common with ourselves than the squarerootofminusone. You and I are human beings;mostpeople are snobs.
Take the matter of being born. What does being born mean to mostpeople? Catastrophe unmitigated. Socialrevolution. The cultured aristocrat yanked out of his hyperexclusively ultravoluptuous superpalazzo,and dumped into an incredibly vulgar detentioncamp swarming with every conceivable species of undesirable organism. Mostpeople fancy a guaranteed birthproof safetysuit of nondestructible selflessness. If mostpeople were to be born twice they’d improbably call it dying–
you and I are not snobs. We can never be born enough. We are human beings;for whom birth is a supremely welcome mystery,the mystery of growing:which happens only and whenever we are faithful to ourselves. You and I wear the dangerous looseness of doom and find it becoming. Life,for eternal us,is now;and now is much too busy being a little more than everything to seem anything,catastrophic included.
Life,for mostpeople,simply isn’t. Take the socalled standardofliving. What do mostpeople mean by “living”? They don’t mean living. They mean the latest and closest plural approximation to singular prenatal passivity which science,in its finite but unbounded wisdom,has succeeded in selling their wives. If science could fail,a mountain’s a mammal. Mostpeople’s wives could spot a genuine delusion of embryonic omnipotence immediately and will accept no substitutes.
-luckily for us,a mountain is a mammal. The plusorminus movie to end moving,the strictly scientific parlourgame of real unreality,the tyranny conceived in misconception and dedicated to the proposition that every man is a woman and any woman is a king,hasn’t a wheel to stand on. What their synthetic not to mention transparent majesty, mrsandmr collective foetus,would improbably call a ghost is walking. He isn’t a undream of anaesthetized impersons, or a cosmic comfortstation,or a transcedentally sterilized lookiesoundiefeelietastiesmellie. He is a healthily complex,a naturally homogenous,citizen of immorality. The now of his each pitying free imperfect gesture,his any birth of breathing,insults perfected inframortally milleniums of slavishness. He is a little more than everything,he is democracy;he is alive:he is ourselves.
Miracles are to come. With you I leave a remembrance of miracles: they are somebody who can love and who shall be continually reborn,a human being;somebody who said to those near him,when his fingers would not hold a brush “tie it to my hand”–
nothing proving or sick or partial. Nothing false,nothing difficult or easy or small or colossal. Nothing ordinary or extraordinary,nothing emptied or filled,real or unreal;nothing feeble and known or clumsy and guessed. Everywhere tints childrening,innocent spontaneous,true. Nowhere possibly what flesh and impossibly such a garden,but actually flowers which breasts are among the very mouths of light. Nothing believed or doubted;brain over heart, surface:nowhere hating or to fear;shadow,mind without soul. Only how measureless cool flames of making;only each other building always distinct selves of mutual entirely opening;only alive. Never the murdered finalities of wherewhen and yesno,impotent nongames of wrongright and rightwrong;never to gain or pause,never the soft adventure of undoom,greedy anguishes and cringing ecstasies of inexistence;never to rest and never to have;only to grow.
Always the beautiful answer who asks a more beautiful question
E. E. Cummings
I N T R O D U Ç Ã O
Os poemas a seguir são pra você e pra mim e não pra todomundo
–não adianta tentar fingir que todomundo e nós somos todos iguais. Todomundo tem menos em comum com nós todos do que a raizquadradademenosum. Você e eu somos seres humanos;todomundo é esnobe.
Tomemos a questão de ter nascido. O que ter nascido significa pra todomundo? Catástrofe absoluta. Revoluçãosocial. O aristocrata culto arrancado do seu superpalácio hiperexclusivamente ultravoluptuoso,e despejado num incrivelmente vulgar campodedetenção misturado com todo tipo concebível de espécies de organismos indesejáveis. Todomundo fantasia um colete salva-vidas garantido à prova de nascimento de indestrutível altruísmo. Se todomundo nascesse duas vezes, ele improvavelmente chamaria isso de morte–
você e eu não somos esnobes. Nós nunca podemos ter nascido o suficiente. Somos seres humanos;pra quem nascer é um supremo e bem-vindo mistério,o mistério de crescer:que acontece apenas e quando cremos em nós mesmos. Você e eu trajamos a perigosa frouxidão da sina e a encontramos vindo a ser. A vida,pra nós eterna,é agora;e o agora está muito ocupado sendo pouco mais do que tudo pra parecer algo, incluindo catastrófico.
A vida,pra todomundo,simplesmente não é. Considere o chamado padrãodevida. O que todomundo quer dizer com “viver”? Eles não querem dizer estar vivo. Eles querem dizer a última e mais recente aproximação plural à passividade singular pré-natal que a ciência,na sua finita mas ilimitada sabedoria,foi bem-sucedida em vender às suas esposas. Se a ciência pode falhar,uma montanha é um mamífero. As esposas de todomundo podem localizar uma ilusão genuína da impotência embriônica imediatamente e não aceitarão substitutas.
–por sorte, pra nós, uma montanha é um mamífero. O maisoumenos se move para cessar o movimento,o estritamente científico jogo de salão do não-real real,a tirania concebida na não-concepção e dedicada à proposição de que todo homem é uma mulher e toda mulher é um rei, não tem uma roda sobre a qual se equilibrar. O que a sintética e pra não dizer transparente majestade, feto coletivo de sr.&sra.,improvavelmente chamaria de fantasma está caminhando. Ele não é um não-sonho de personalizações inestéticas, ou uma cósmica estaçãodeconforto,ou uma transcendentalmente esterilizada visosonosentigosticheirosa. Ele é um complexo saudável,um homogêneo natural,cidadão da imortalidade. O agora de cada seu compassivo livre imperfeito gesto,seu qualquer nascimento do respirar,insultos inframortalmente perfeitos milênios de escravidão. Ele é um pouco mais do que tudo,ele é a democracia; ele está vivo;ele é nós mesmos.
Milagres estão vindo. Com você, deixo uma lembrança dos milagres: eles são alguém que pode amar e que deve ser continuamente renascido,um ser humano; alguém que disse para aqueles perto dele,quando seus dedos não segurarem um pincel “amarre na minha mão” –
nada a provar ou doente ou parcial. Nada falso, nada difícil ou fácil ou miúdo ou colossal. Nada ordinário ou extraordinário,nada vazio ou cheio,real ou irreal;nada débil e sabido ou rústico ou adivinhado. Tudo pinta a infância,inocente espontâneo,verdadeiro. Nenhum lugar possivelmente o que carne e impossivelmente como um jardim,mas na verdade flores cujos seios estão entre as bocas da luz. Nada acreditado ou duvidado;cérebro na frente do coração, superfície:nenhum lugar a odiar ou a temer;sombra,mente sem alma. Apenas como chamas frias imensuráveis do fazer;apenas cada um construindo sempre distintos eus de abertura inteiramente mútua; apenas vivos. Nunca as finalidades assassinas de quandonde e simnão,impotentes nãojogos de certerrado e erradocerto;nunca ganhar ou pausar,nunca a suave aventura de nãosina,ávidas angústias e encolhidos êxtases da inexistência;nunca descansar e nunca ter;apenas crescer.
Sempre a bela resposta que pede uma mais bela pergunta
E.E. Cummings
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un
….der fog
….’s
….touch
slo
….ings
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….gering
….s
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….whichs
….turn
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….to whos
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***
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deva
….dos
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….né
….voa
garz
….quês
….torn
….am-se
….quems
inho
….nós
….vi
….ra
….não
lucky means finding
Holes where
pockets aren’t lucky
’s to spend
laughter
not money lucky are
Breathe
grow dream
die love not
Fear eat sleep kill
and have you am luck
-y is we lucky luck-
ier
luck
-I-
est
.
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***
sorte é achar
Buracos onde
bolsos não têm sorte
é pra gastar
riso
nem dinheiro sorte são
Respirar
crescer sonhar
morrer amar não
Temer comer dormir matar
e foi você sou sor-
tudo é nós sorte sor-
tudo
sort
-eÉ-
tudo
.
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my specialty is living said
a man(who could not earn his bread
because he would not sell his head)
squads right impatiently replied
two billion pubic lice inside
one pair of trousers(which had died)
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minha especialidade é viver dizia
um homem(que não podia ganhar a vida
porque ele jamais se venderia)
direita volver já foram respondendo
dois bilhões de piolhos púbicos dentro
de um par de calças(morrendo)
.
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economic secu
rity” is a cu
rious excu
se
(in
use among pu
rposive pu
nks)for pu
tting the arse
before the torse
.
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segurança econômic
a” é uma desc
ulpa c
uriosa
(usa
da entre p
unks prop
ositivos) p
ara por a peida
à frente do peito
.
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the people who
rain(are move as)proces
-sion Its of like immens-
ely(a feet which is prayer
among)float withins he
upclimbest And(sky she
)open new(
dark we all findingly Spring the
Fragrance unvisible)ges
-tured together
-ly singing ams
trample(they flyingly silence
.
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a gente que
chuva(se move como)procis
-são Isso como que imensa-
mente(meio metro que é reza
entre)flutua dentros ele
subida E(céu ela
)abre novo(
treva nós todos achando Primavera a
Fragrância invisível)ges
-to jun-
tamente cantando sous
pisotear(eles voandamente silêncio
.
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you shall above all things be glad and young
For if you’re young,whatever life you wear
it will become you;and if you are glad
whatever’s living will yourself become.
Girlboys may nothing more than boygirls need:
i can entirely her only love
whose any mystery makes every man’s
flesh put space on;and his mind take off time
that you should ever think,may god forbid
and(in his mercy)your true lover spare:
for that way knowledge lies,the foetal grave
called progress,and negation’s dead undoom.
I’d rather learn from one bird how to sing
than teach ten thousand stars how not to dance
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você deve mais que tudo ser alegre e jovem
Porque, se for jovem,a vida que você tiver
se tornará você;e se você for alegre
a vida seja o que for se tornará você.
Menin(a,o)s podem só o que menin(a,o)s precisam:
eu posso completamente apenas o Amor dela
cujo mistério faz a carne de todo
homem ir pro espaço;e a mente dele dá um tempo
que você deve pensar,pode deus perdoar
e(em sua misericórdia)poupar o de você real amor:
pois nisso o saber reside,a sepultura fetal
chamada progresso,e a negação da nãosina da morte.
Eu prefiro aprender de um pássaro como cantar
a ensinar dez mil estrelas como não dança
.
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Paulo de Toledo é mestre e doutor em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP. Poeta, publicou os seguintes livros: Torrão e outros poemas (Ed. Patuá, 2018), Concreróticos e Outros Versos (Dulcinéia Catadora, 2012), A Rubrica do Inventor (Ed. Multifoco, RJ, 2011), Hi-Kretos e Outras Abstrações (Sereia Ca(n)tadora, 2011) e 51 Mendicantos (Ed. Éblis, 2007; Ed. Amotape, 2013). Participou também dos livros Musa fugidia (Ed. Moinhos, 2017), VAIEVEM (Binóculo Editora, 2011) e LulaLivre*LulaLivro (Fundação Perseu Abramo, 2018). Colaborou com poemas, traduções, contos e ensaios para: Revista Babel, Meteöro, Cult, Revista Ciência & Cultura – SBPC, Coyote, Artéria, Revista Opiniães, Musa Rara, InComunidade, Correio das Artes, Suplemento Cultural de Santa Catarina, entre outros. E-mail: paulodtoledo@uol.com.br
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