Identidade Literária


A voz central e a voz periférica a partir do pós-colonialismo

por Daniel Osiecki

 

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No ensaio Capelas imperfeitas: configurações literárias da identidade portuguesa (2001), Isabel Allegro de Magalhães atenta para o detalhe da (re) formulação da identidade literária portuguesa a partir da reconfiguração da identidade nacional pós 25 de abril. Em meados dos anos 70, tanto em Portugal quanto nas ex-colônias, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, etc, houve de fato uma dissolução de conceitos tradicionais de identidade. Há de se levar em consideração a descentralização do indivíduo com sua identidade unificada, geralmente branca, europeia, socialmente integrada em um meio privilegiado e que no pós-colonialismo torna-se múltipla. Novamente aqui retomamos as acepções de Boaventura de Souza Santos sobre o pós-colonialismo, o histórico e o cultural, pois principalmente depois da derrocada do império colonial português no continente africano, os dois elementos passam a fazer parte um do outro. Aponta Magalhães:

Pouco depois da independência de novos países, começavam os movimentos de deslocação ou de êxodo maciço de populações várias do mundo em direção aos países ex-colonizadores. E a realidade dessas sociedades ocidentais, até então relativamente homogénea de um ponto de vista étnico-cultural, rapidamente se transforma numa realidade pluricultural. Daí que novas vozes, partindo das margens da nação (e já não só do seu centro), começam a emergir, apesar de serem quase sempre sufocadas pela imposição de um discurso pedagógico que permanece incólume às alterações do tecido social. No entanto, sobretudo nos países cujo colonialismo terminou há várias décadas, diversas reformulações do discurso da nação vão emergindo, e com especial relevo em certas obras literárias. Estas refractam e reconfiguram (tanto em narrativas de ficção como na poesia ou no teatro) as actuais questões da procura de identidade, o confronto com antigas/novas alteridades (MAGALHÃES, 2001, p. 308).

Se levarmos em consideração, de fato, as questões da identidade para o âmbito artístico como um todo, nota-se que os processos intrínsecos da identidade são linguísticos e literários. Mais ainda nas ex-colônias portuguesas, nas quais houve logo após a independência a urgência de afirmar sua própria identidade, o que é percebido nos discursos estéticos. Os vários escritores angolanos, moçambicanos, cabo-verdeanos (Pepetela, Mia Couto, Germano Almeida) provam isso em suas obras que vieram à luz a partir de final dos anos 70 e início dos 80.

Em muitas sociedades atuais a ruptura com o tradicional é levado muito em consideração (vejamos os exemplos da Primavera Árabe), e essa ruptura com as tradições possibilita ao indivíduo conectar-se a outros sistemas sociais e culturais. O indivíduo moderno que assimila essa quebra de paradigmas, muitas vezes sem ter consciência disto, sofre uma crise de identidade, já que o rompimento com o tradicional acarreta algumas transformações culturais e a mudança de uma identidade una, inteira, para uma gama de identidades paralelas no indivíduo.

O problema com as identidades torna-se mais evidente nos chamados indivíduos seculares, ou seja, naqueles que são filhos de imigrantes ou representantes de uma geração familiar que de certa forma já é assimilada com a cultura vigente atual (exemplo da colonização interna). Essa é uma característica da pós-modernidade, o secularismo fragmentado e muitas vezes gerador de conflito, pois geralmente tratar da identidade não é uma tarefa amistosa nem para o indivíduo e nem para a sociedade da qual é membro.

As transformações do passado para a modernidade afetaram o sistema social como um todo, religião, cultura, etnia, mas o impacto maior foram as mudanças pessoais, que ocorreram por consequência da primeira, e assim assimiladas, as mudanças atingem diretamente a identidade. Como observa HALL:

Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um sentido de si estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma crise de identidade (HALL, 1998, p.9).

Mais adiante Stuart Hall observa que a identidade é formada a partir da interação entre o indivíduo e a sociedade, fato que permite algumas considerações. Stuart Hall defende a tese de que é essa fragmentação que produz o sujeito pós-moderno, ou seja, a quebra com o tradicional e a constatação de uma identidade híbrida formam o sujeito da pós-modernidade. O indivíduo que aceita pacificamente sua identidade, não se dá conta que essa identidade singular e sem origem conhecida é formada por outras identidades e elas se completam entre si. Portanto, parte do próprio indivíduo a noção de pluralidade, de alteridade, e vale ressaltar aqui a tese que Hall defende, dizendo que as noções de identidade e de linguagem podem ser comparadas, pois ambas são formadas através de elementos diversos. Assim como um discurso implica outro discurso, uma identidade implica outra identidade. “O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o eu real, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem” (HALL, 1998, p. 11).

Em A Identidade Cultural na Pós-Modernidade (1998), Stuart Hall apresenta três concepções básicas de identidade: a concepção de identidade do sujeito do Iluminismo; a concepção de identidade do sujeito sociológico e a concepção de identidade do sujeito pós-moderno. A primeira concepção em nada se aplica à condição do próspero-calibanizado e nem do caliban, pois segundo Hall (1998, p. 10), “o sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado da capacidade da razão”.Portanto, a identidade do sujeito do Iluminismo é exatamente o oposto da identidade fragmentada do colonizado e do colonizador.

Já a segunda concepção de sujeito, o sujeito sociológico, já pode, em termos, se aplicar à condição do narrador de Os cus de Judas e também dos ex-colonizados. Aponta Hall:

A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava (HALL, 1998, p. 11).

A identidade do sujeito sociológico é uma espécie de fase de transição entre a tradição e o moderno. A terceira concepção de identidade, a do sujeito pós-moderno, se aplica perfeitamente à condição do médico psiquiatra de Os cus de Judas, pois como já apresentado nos capítulos anteriores deste estudo, o protagonista do romanceapresenta uma pluralidade muito significativa na concepção de sua identidade. Essa pluralidade de identidade é a característica principal da pós-modernidade, do sujeito pós-moderno. Como afirma Hall:

Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”; formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1998, p. 12-13).

Não há identidade pacífica. Na modernidade (ou pós-modernidade) o conflito de identidade é inevitável, e para aqueles grupos que não estabelecem vínculos culturais, geográficos e sociais o conflito é mais dramático e duradouro. Portanto, é da pluralidade, do deslocamento que surge o conflito. Basta olhar para a trajetória deste narrador anônimo do romance de Lobo Antunes para perceber esse fato. Toda sua narrativa remete a fugas e desencontros que atingem níveis abissais.

As sociedades modernas, segundo Hall, não são unificadas, e se não se desintegram de vez, é porque algum elemento de seu conjunto ainda permanece. É assim também com o indivíduo que compõe a sociedade, pois as identidades modernas não são unificadas, e se não há a anulação total das identidades é porque, assim como as sociedades, algum elemento permanece. Normalmente o que permanece são fragmentos, ou seja, algumas tradições e elementos autóctones.

Os vários escritores angolanos, moçambicanos, cabo-verdeanos (Pepetela, Mia Couto, Germano Almeida) provam isso em suas obras que vieram à luz a partir de final dos anos 70 e início dos 80.

Fato que também é perceptível como característica de autores portugueses, como Lídia Jorge (seu romance A costa dos murmúrios é extremamente relevante nesse aspecto), Manuel Alegre (Jornada de África), Álamo Oliveira (Até hoje), Teolinda Gersão (A árvore das palavras), e certamente António Lobo Antunes.

O recorte que Lobo Antunes faz nos seus primeiros romances, principalmente na trilogia de África, demonstra que a questão do embate com a permanência ou ruptura com a identidade nacional anterior à derrocada colonial é o ponto fulcral de sua literatura. Em Memória de elefante e em Os cus de Judas há um interesse maior em investigar a relação do indivíduo português com o seu próprio meio de convívio (trabalho, família, relações afetivas), e vemos que sempre é tumultuado, anárquico e acidentado. Os protagonistas dos dois primeiros romances passam por embates e crises morais por sofrerem uma espécie de pesadelo permanente com os horrores e abusos de uma guerra na qual participaram ativamente à sua revelia, e a memória é quase sempre opressora. Em Os cus de Judas vemos o protagonista (metaforicamente anônimo, vale lembrar) buscando e, sem muito sucesso em alcançar, uma espécie de redenção através pela escrita (a metalinguagem é claramente assumida no romance) e percebe-se que ao atribuir a esse seu protagonista anônimo com forte crise existencial as características que atribui (desespero, dor, tentativas frustradas de se reconciliar com o passado) Lobo Antunes faz um mea culpa, critica tudo que pode e considera moralmente nocivo a si próprio e à nova nação portuguesa. Na verdade, para os protagonistas de Memória de elefante e de Os cus de Judas, suas impressões sobre o Portugal do pós-guerra é tão cínico e hostil quanto antes da Revolução do Cravos.

Já no terceiro livro da Trilogia de África, Conhecimento do inferno, o protagonista, António Lobo Antunes (assim como o autor-pessoa, ver capítulo 2), também tece considerações pessoais sobre sua relação com os ambientes pelos quais passou, mas nesse romance há um tom mais metafórico, mais sugerido sobre a questão da viagem. O foco principal da investigação de Lobo Antunes neste romance é a relação do protagonista consigo próprio, como o vazio que vai de fora para dentro, ou seja, como seu alterego está escrevendo um romance (mais uma vez a metalinguagem é assumida abertamente) o vazio existencial que provou na vida profissional (a psiquiatria é fortemente criticada em sua narrativa), na guerra e no retorno, acabam por deixar lacunas em sua escrita, tornando a linguagem do romance mais alegórica do que nos dois primeiros livros. As impressões do protagonista de Conhecimento do inferno sobre a fragmentação do indivíduo contemporâneo se reflete nesta linguagem estilhaçada com elementos de sentido deixados à deriva para um eventual leitor. A linguagem dessa forma (naturalmente não linear), segundo Biagio D’Angelo, se aproxima muito de uma sessão psiquiátrica.

É interessante notar também que a viagem que, nesse romance, se propala durante uma longa excursão au bout de La nuit, consiste numa série de encontros, diálogos, reflexões, comemorações, flash-backs – todo um ritual alucinatório, não linear, que mais parece uma sessão psiquiátrica – não é a viagem “serena”, ou “positiva” da literatura tradicional. Ainda seria de perguntar-se se nunca existiu uma literatura de viagem que não se constituiu como simbolização de uma “paranoia”. Em Lobo Antunes, o tema da viagem, que interessará também a outros romances como, por exemplo, As naus, apresenta-se despojado de toda forma de romantismo ou de sua fruição banal como descobrimento burguês de lugares distantes. A pergunta sobre quem é o outro se reveste dos aparatos pós-coloniais de conhecimento, em que o desconhecido se revela, fora da aceitação pacificada típica da narrativa de viagem do Grand Tour romântico, em toda sua aparência limitada e cheia de preconceitos (D’ANGELO, 2014, p. 19-20).

Mesmo o protagonista de Conhecimento do inferno buscando certo grau de ordem nessa sua viagem, ele não atinge seus objetivos. A trama é  propositalmente desarticulada fazendo prevalecer o “caos” estrutural tanto no romance do António Lobo Antunes, autor-pessoa, quanto no livro de António Lobo Antunes, autor-personagem.

Desde a partida da Isabel, da história triste, meses antes, da partida de Isabel, que se acostumara a estar sozinho, sem ajudas, agarrado às crinas da vida com a teimosa força do desespero e da esperança, e sentia-se, por agora, completamente exausto de lutar: queria apenas voltar para casa, fechar a porta à chave sobre o andar sem ninguém, instalar-se à secretária e completar o romance que escrevia, narrativa de guerra desordenada e febril, queria reaprender a pouco e pouco o isolamento, o eco sem resposta dos próprios passos pelo tunel sem fim do corredor (ANTUNES, 1981, p.30). 

Lobo Antunes explora essa temática do abandono do indivíduo causado pela guerra. Por mais que seus protagonistas sempre estejam acompanhados, são extremamente solitários. Novamente sequelas deixadas pelas lembranças da guerra. Em Memória de elefante o protagonista se relaciona com seus pacientes; em Os cus de Judas o protagonista se relaciona com uma mulher desconhecida em um bar; e em Conhecimento do inferno o protagonista se relaciona com sua esposa, da qual irá se separar. Portanto, por mais que haja diversos elementos convergentes nos romances que compõem a Trilogia de África, cada um dos livros apresenta características bastante peculiares. Eduardo Lourenço exemplifica esses aspectos.

A obra de António Lobo Antunes é uma descida, não apenas nesse inferno particular que nós chamamos realmente de loucura, mas qualquer coisa de mais interessante e mais profundo. É uma descida a um subterrâneo, para empregar uma imagem de Dostoievski, que é a um subterrâneo que sempre esteve presente, naturalmente, e que os grandes autores sempre foram capazes, de Dante até Dostoievski, de recuperar (LOURENÇO, 2004, p. 354-355).

Essa descida metafórica ao inferno a que Lobo Antunes propõe a seus personagens é uma incursão ao interior da própria linguagem, como fica evidente nos três romances. A descida ao inferno é a viagem, mas não no sentido literal, pois a viagem no sentido literal, pacífica e que propicia um encontro consigo próprio, nos romances antunianos é o oposto, pois causa desencontro, agonia e morte. É para a morte que os soldados portugueses vão ao viajar para África. Senão para a morte, para o encontro com a noção da realidade de sua presença, e isso é fundamental para a compreensão dos romances que tratam da guerra colonial.

Naturalmente não faria sentido escrever sempre o mesmo livro, repetindo os mesmos enredos, se de fato o enredo fosse seu elemento principal. Por isso Lobo Antunes, ao descrever seus traumas pessoais da guerra colonial em Angola, através de seus alteregos, também faz uma viagem através do deslocamento da linearidade linguística que, exatamente por não ser estanque, é causadora de conflitos. Lembremos que a linguagem e/ou o próprio ato de escrever (que é claramente assumido nos dois últimos romances da Trilogia de África) são simbólicos, representa nas entrelinhas, no não dito, no espaço em branco, no silêncio, a guerra.

Claro que a metáfora da viagem como algoz da memória, além de indicar perdas consideráveis, como a visão mais ingênua e pequeno-burguesa da infância e da vida de estudante antes da partida para a guerra, também representa o regresso. E novamente pode-se perceber a complexidade da formação (ou deformação) dos protagonistas de Lobo Antunes, pois ao mesmo tempo que percebem que estar em um continente estranho, em uma guerra na qual não acreditam e que anseiam retornar a Portugal, quando retornam, não encontram mais o meio ao qual pertenciam, nem em casa, nem no trabalho e muito menos na sociedade. Talvez essa seja a principal característica que se repete nos romances não só da Trilogia de África, mas em outros do autor, como em Explicação dos pássaros (1983), O esplendor de Portugal (1997), Não entres tão depressa nessa noite escura (2000), Que farei quando tudo arde? (2001), Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? (2009) e outros. Magalhães contextualiza:           

De algumas dessas partidas há, depois, também os regressos. E na literatura mais recente, as viagens de que se fala são de facto quase todas de nostos, isto é, de retorno ao chão pátrio. A literatura da guerra revela o carácter agónico dessa nova leva de partidas: a dos alistados no exército colonial para o combate em África, até certo ponto (como veremos) paralelo ao fracasso de tantos momentos de nossa História. Em alguns dos romances, o embarque das tropas é narrado de um modo que “espelha” ficcionalmente os dois lados de um cais. De um lado, como em Álamo de Oliveira, os batalhões do exército que partiam e as suas atitudes perante este tipo de “viagem”, numa interrogação sem nome (…) Do outro, os que ficavam revelavam, na maneira da despedida, um determinado olhar, que mostra em miniatura uma imagem do povo português: temente e apoiante, porque incapaz de discordância (MAGALHÃES, 2001, p.314).

Há no modo de agir e pensar dos protagonistas antunianos a ideia de regresso à pátria aliada ao pós-colonialismo, tanto em sua acepção cultural quanto histórica. Assim como houve a reelaboração da chamada “narrativa do colonizado”, também houve a tentativa de reelaboração de uma narrativa do colonizador. Claro que, como vimos, Portugal não soube lidar muito bem com a derrocada de seu império, o que foi mais um fator gerador de conflitos.

Esse fator é muito bem descrito por Lobo Antunes principalmente em Os cus de Judas, quando o protagonista não consegue se relacionar com nada que lhe traga algum eco do passado; por isso há esse encontro com uma estranha em um bar e seu discurso só é proferido tão francamente por causa do álcool. O que o protagonista vê ao retornar da guerra não é mais seu lugar, e vários elementos vão se acumulando para tornar sua situação ainda pior, como o divórcio, a distância entre ele e suas filhas, a desilusão com a psiquiatria, a vontade de escrever que nem sempre é correspondida por ele próprio, etc. Por isso a necessidade de uma reafirmação de sua própria identidade; não da identidade nacional coletiva, pois esta morreu na guerra colonial, mas uma identidade só sua, mesmo que híbrida, mas sem inferências de elementos externos e, como isso não é possível, o resultado é catastrófico.

Por outro lado, a acepção histórica do conceito de pós-colonialismo serve como a tentativa de seguir em frente, por mais que esteja preso em um presente estático. Mesmo a derrocada do império tendo deixado marcas indeléveis na identidade portuguesa tradicional, há um sopro de esperança e de novidade com a Revolução dos Cravos. Vemos que os protagonistas antunianos são seres à deriva, sempre em movimentos circulares (através da memória, do pesadelo), porém estáticos.

É curioso pensar nesse período de transição pelo qual Portugal passou como uma polarização bastante clara entre o tradicional e o novo, entre o reacionário e o progressista. Boa parte dos soldados que voltaram da guerra, como vimos com os protagonistas de Lobo Antunes, voltaram modificados, entregues, não pela derrocada do império, mas pelos horrores que presenciaram. Em contrapartida, os pais dos filhos enviados para África, boa parte deles, principalmente a classe média branca, economicamente bem estabelecida e reacionária, tanto na partida quanto na chegada de seus filhos foram ao cais orgulhosos do poder militar que tentou bravamente lutar contra o fantasma do socialismo.

Noutros casos, torna-se manifesto um orgulho nacionalista exacerbado por parte das famílias em relação aos militares seus filhos, uma satisfação pela semelhança do seu filho com imagens de filme, o que é revelador da força de um mito e da falta de consciência crítica (…) De modo idêntico, à chegada, a presença das famílias no cais de Lisboa é sentida pelos militares como de excessivo afecto, mas simultaneamente alheia, ignorante e desinteressada da experiência rela vivida pelos soldados nas colónias em guerra: uma espécie de emoção paralisada que paralisa um povo (MAGALHÃES, 2001, p.315).

O médico psiquiatra, tanto de Memória de elefante quanto de Os cus de Judas, apresenta um descontentamento diante do presente que não tem fim. O eterno descontentamento com o tempo presente, do retorno da guerra em Angola, tem alguns fatores fulcrais de sua origem, como a desilusão e saturação com quarenta anos da ditadura fascista de Salazar, o amadurecimento como sujeito da pior forma, ou seja, através do absurdo da guerra, e isso faz com que esses protagonistas anônimos adquiram perfis bastante semelhantes entre si, que por sua vez, se aproximam com frequência do próprio autor.

A experiência da grande maioria das personagens masculinas destes vários romances é afinal a de um constante descontentamento perante o presente, com a consciência de que só talvez um outro lugar, fora de portas pátrias, poderá ser sedutor ou até só viável, porque a sociedade está enclausurada quer durante o período salazarista-marcelista quer depois (MAGALHÃES, 2001, p. 316).

Há de se levar em consideração alguns pontos divergentes desse aspecto do retorno do soldado português e do soldado angolano, pois as perspectivas do colonizador e do colonizado são muito diferentes. Por mais que haja o sentimento de brio ferido pela pátria derrotada em outro continente, mesmo tendo sido em uma ex-colônia, parte dos soldados portugueses voltou orgulhosa por ter combatido o inimigo. Porém, pelo fato de os próprios militares terem liderado a revolução, outra parte não tinha orgulho algum e tampouco via sentido na guerra. O inimigo a combater é o próprio regime fascista e decadente português. Naturalmente não é o que ocorre com os protagonistas antunianos ao retornarem, pois nunca acreditaram na legitimidade da guerra colonial e tampouco na portugalidade como indicador fundamental para a construção da identidade nacional.

Em contrapartida, o soldado angolano, ou moçambicano ou cabo-verdeano, se depara com outra situação no pós-guerra: reconstrução ou reformulação da identidade nacional e da narrativa do colonizado, como vimos anteriormente. Outra situação com a qual o ex-colonizado africano tem que se deparar é a guerra civil, que foi tão cruel ou mais do que a guerra colonial. Ou seja, a questão do retorno como elemento simbólico da afirmação ou negação de suas próprias raízes durou muito mais tempo para os ex-colonizados, pois a busca por sua própria identidade nacional e a ruptura com a identidade do colonizador continuou depois da independência.

Mas um elemento que tem uma relevância salutar em Os cus de Judas é a questão da escrita dentro da escrita, ou seja, o ato de assumir que um livro está sendo escrito dentro do livro, o quetorna possível a realização de outro tipo de retorno: o retorno à infância. Lobo Antunes trabalha com a ideia do retorno simbólico, que só pode ser pleno através da memória como elemento condutor da própria escrita.

Apenas a infância parece ter sido para muitas destas figuras o tempo de uma coincidência exacta de si consigo mesmas e com os lugares; de sintonia de si com a terra, o tempo, as relações sociais e até com Deus. A reconstrução ficcional da infância é frequente, sendo esta mostrada como uma perfeição para sempre perdida – “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, diriam com Álvaro de Campos em “Aniversário” (MAGALHÃES, 2001, p. 316).

Pode-se pensar, sob esse aspecto, nas distintas camadas narrativas do protagonista de Os cus de Judas que, em um momento, dirige-se diretamente à mulher anônima no bar narrando todos os tormentos de sua vida, em outro relata no próprio livro que está escrevendo tanto os acontecimentos mais recentes, como a noite passada no bar e a rotina em seu apartamento vazio, quanto lembranças mais profundas e íntimas de sua infância.

Em alguns dos casos, perante a sociedade sem horizontes no retorno, o sujeito refugia-se na escrita, como horizonte de viagem por dentro de si, com a palavra como única possibilitação de acesso a um futuro. Isso é óbvio na instância autoral (MAGALHÃES, 2001, p.317).

Vemos como uma das características principais na narrativa antuniana, principalmente em Os cus de Judas, o discurso de exaltação militar como ponto de convergência entre a manutenção da lei e ordem em Portugal e a permanência das tropas nas colônias africanas. Mas essa exaltação da portugalidade ou da tradicional identidade nacional portuguesa se dá de forma epidérmica, pois parte do senso comum, de preconceitos de classes arraigados nas famílias e que dificilmente são superados. Segundo Magalhães:

E, nessa realidade, sobressai uma indistinção entre centro e periferia do território, na medida em que no essencial da vida quase todas as personagens se descrevem como pertencentes a uma margem de que desconhecem o centro, apesar das nítidas divisórias sociais, económicas e culturais que as distinguem umas das outras os seus locais de pertença (MAGALHÃES, 2001, p.318).

Esse elemento da não identificação do meio do qual é proveniente quando se está em uma situação limite, como é o caso da guerra, é vivido e explorado durante praticamente todo o relato do protagonista de Os cus de Judas. O médico psiquiatra, por mais que seja filho da classe média portuguesa reacionária, ou seja, prósperos, não se identifica com esse meio, tanto que ao retornar do continente africano não encontra o que esperava encontrar, sejam quais forem seus anseios. O que encontra é, como vimos, uma sequência de decepções e incertezas sobre tudo que o cerca, inclusive sua própria identidade.

De alguma forma esse protagonista anônimo sente-se culpado por ter voltado para o que um dia já foi seu lar, seu país, mas que não o é mais. Não que ele sinta-se de fato culpado por algum motivo específico, mas uma culpa ontológica, quase metafísica que o oprime mais por aquilo que poderia ter feito e não fez do que de algo que tenha de fato realizado em seu período em Angola.

O quê? A guerra de África? Tem razão, divago, divago como um velho num banco de jardim perdido no esquisito labirinto do passado, a mastigar recordações no meio de bustos e pombos, de bolsos cheios de selos, de palitos de capicuas, movendo continuamente os queixos como se premeditasse um escarro fantástico e definitivo. O certo é que, à medida que Lisboa se afastava de mim, o meu país, percebe?, se me tornava irreal, o meu país, a minha casa, a minha filha de olhos claros no seu berço, irreais como estas árvores, estas fachadas, estas ruas mortas que a ausência de luz assemelha a uma feira acabada, porque Lisboa, entende, é uma quermesse de província, um circo ambulante montado junto ao rio, uma invenção de azulejos que se repetem, aproximam e repelem, desbotando as suas cores indecisas, em rectângulos geométricos, nos passeios, não, a sério, moramos numa terra que não existe, é absolutamente escusado procurá-la dos mapas porque não existe, está lá um olho redondo, um nome, e não é ela, Lisboa começa a tomar forma, acredite, na distância, a ganhar profundidade e vida e vibração, Luanda enevoada subiu ao meu encontro (…) (ANTUNES, 2003, p.112-113).

Este fragmento de Os cus de Judas exemplifica muito bem a questão do eterno trânsito do protagonista antuniano, ou seja, o seu vagar entre império e colônia, centro e periferia, não se inicia quando vai para Angola, mas muito antes, ainda em Lisboa, no seio familiar. A relação direta entre o indivíduo com o espaço onde vive ou do qual é proveniente é desintegrado, estilhaçado e as lembranças que se formam deste mesmo espaço opressor durante a guerra ou depois dela é seu maior gerador de conflito. É interessante pensar que aos olhos deste anônimo que não poupa críticas ao Portugal fascista e decadente, o ambiente deste próspero calibanizado antes e durante a guerra colonial é tão ou mais opressor do que o território distante e desconhecido do caliban africano que começa a adquirir resistência (física e intelectual) e a pensar em uma gênese para a narrativa do colonizado ainda antes das ex-colônias se rebelarem em definitivo contra o império. E é exatamente pelo fato de perceber que toda a geração de jovens soldados que são conclamados a defender a nação são vítimas do maior engodo da história de Portugal, que o protagonista, já distante no tempo, se posiciona veementemente contra ideias falaciosas e de senso comum da importância em lutar, não importando quais as consequências, pela pátria.

A pouco e pouco a usura da guerra, a paisagem sempre igual de areia e bosques magros, os longos meses tristes do cacimbo que amareleciam o céu e a noite do iodo dos daguerreotipos desbotados, haviam-nos transformado numa espécie de insectos indiferentes, mecanizados para um quotidiano feito de espera sem esperança, sentados tardes e tardes nas cadeiras de tábuas de barril ou nos degraus da antiga administração de posto, fitando os calendários excessivamente lentos onde os meses se demoravam num vagar enlouquecedor, e dias bissextos, cheios de horas, inchavam, imóveis, à nossa volta, como grandes ventres podres que nos aprisionavam sem salvação. Éramos peixes, percebe, peixes mudos em aquários de pano e de metal, simultaneamente ferozes e mansos, treinados para morrer sem protestos, para nos estendermos sem protestos nos caixões da tropa, nos fecharem a maçarico lá dentro, nos cobrirem com a Bandeira Nacional e nos reenviarem para a Europa no porão dos navios, de medalha de identificação na boca no intuito de nos impedir a veleidade de um berro de revolta (ANTUNES, 2003, p. 121-122).

Esse discurso nacionalista exacerbado que o protagonista ouvia de seus familiares mais velhos muito tempo antes da guerra vai ser reproduzido também durante o período em Angola. Nos romances de Lobo Antunes a ideia de que o exército é o “espelho da nação” é reproduzido e reafirmado na tentativa de tornar-se pedagógico e convencer o soldado, não importa a patente, de que realmente há um inimigo comum que é maligno, na guerra colonial representado pela imagem onipresente (imagem atribuída pelo próprio exército português) do MPLA.

Uma manhã os meus amigos acordam bem dispostos garantia o coronel e levam tudo à frente, aliás acho preferível que isso suceda depressa porque conseguiram tão pouco até agora, o comandante esmagado rodava o boné de pala na mão, Aquele cabrão ainda me desata a chorar diante deste mulo previa o tenente baixinho, Estou farto desta merda pelo amor de Deus arranje-me uma doença qualquer, Deserta gritavam os papéis do MPLA, Deserta Deserta Deserta Deserta Deserta DESERTA, a locutora da rádio da Zâmbia perguntava Soldado português porque lutas contra os teus irmãos mas era contra nós próprios que lutávamos, contra nós que as nossas espingardas se apontavam (ANTUNES, 2003, p. 125).

A consciência de que o verdadeiro inimigo é o próprio colonizador que o protagonista de Os cus de Judas demonstra é uma alusão clara à derrocada imperial que muitos portugueses, inclusive soldados, passam a perceber. Um dos fatores que contribuiu para o português comum, civil ou militar, adquirir a noção de consciência sobre sua própria situação foi a morte da grande figura que dominou Portugal por quase quatro décadas: Salazar. Mesmo que o regime ditatorial tenha permanecido, assim como as campanhas coloniais na África, ficou enfraquecido.

Há de se pensar também que no caso das colônias, principalmente em Angola e Moçambique, havia uma classe que, mesmo oprimida pelo colonizador português, luta a seu favor numa tentativa egoísta de perpetuar seu poder e domínio sobre as classes menos favorecidas se a guerra fosse vencida pelos portugueses e as colônias assim se mantivessem. Lembremos do conceito de “colonização interna” defendido por Boaventura de Souza Santos e dos exemplos dessa tendência abordados por Pepetela em A geração da utopia.

Por consequência da colonização interna os rebeldes africanos se viram imersos em um contexto bastante hostil e complicado, pois além de combater o colonizador português, também tinha que combater o próprio colonizado africano pertencente às classes consideradas superiores, como se fossem também colonizadores. É curioso perceber que a noção de dominação dos portugueses contrários à guerra se assemelha bastante a dos africanos que lutam pela independência, mas nem sempre ocorre o inverso.

A impertinência brutal dos sul-africanos, que nos julgavam um pouco uma espécie de mulatos toleráveis, acendia em mim uma chama crescente de Manuelinho de Évora que a selvajaria dos pides e os abjectos discursos patrióticos da rádio alimentavam. Os políticos de Lisboa surgiam-me como fantoches criminosos ou imbecis defendendo interesses que não eram os meus e que cada vez menos o seriam, e preparando simultaneamente a sua própria derrota: os homens sabiam bem que eles e os filhos deles não combatiam, sabiam bem de onde vinha quem na mata apodrecia, tinham morto e visto morrer demais para que o pesadelo se prolongasse muitos anos, os fuzileiros haviam desfilado uma noite pelo quartel-general do Luso entoando insultos, todas as tardes ouvíamos a emissão do MPLA às escondidas, alimentávamos mulheres e filhos com salários de miséria, demasiados estropiados coxeavam ao fim da tarde por Lisboa (…) Mais tarde conhecemos a hostilidade dos brancos de Angola, dos fazendeiros e dos industriais de Angola reclusos nas vivendas gigantescas repletas de antiguidades falsas, de que saíam para abocanhar prostitutas brasileiras nos cabarés da ilha, entre baldes de péssimo champanhe nacional e beijos sonoros como desentupidores de retrete que se despegam:
– Se vocês cá não estivessem limpávamos isto de pretos num instante
(ANTUNES, 2003, p.137).

Aqui a visão do colonizado, ou seja, do africano caliban, se mistura com a do colonizador português que, como vimos, é a de um próspero-calibanizado, inclusive pela própria elite angolana. Essas mudanças de discursos de colonizador para colonizado, de prósperos para calibans e todo o mesmo processo ao inverso é um painel que representa a situação bastante complexa pelas quais passaram todos os envolvidos na guerra. Lobo Antunes deixa claro que ninguém entra ou sai da guerra incólume; todos, sem exceção, levam marcas consigo, e a representação do médico psiquiatra serve como metáfora para todas essas situações.

Tanto nos romances que compõem a Trilogia de África quanto em outros como Fado Alexandrino, O auto dos danados e Manual dos inquisidores, Comissão das lágrimas, Lobo Antunes investiga frequentemente as mazelas causadas pela guerra de forma hiperbólica, fato que permite que o leitor se depare com as diversas formas de olhar o próprio causador do sofrimento, no caso desses romances, a guerra. Vale ressaltar que assim como seus protagonistas, principalmente dos romances iniciais, Lobo Antunes não era militar, apenas serviu em Angola como médico do exército. Desta forma, há muitas aproximações em Os cus de Judas entre as visões de mundo, anseios e angústias de militares e civis. O sofrimento do médico de Os cus de Judas está diretamente ligado aos acontecimentos na guerra, o que, em alguns casos, é diferente da perspectiva dos militares, que apresentam muitas vezes embates mais pessoais.

O sofrimento causado pela guerra nunca será superado, e o regresso à pátria será a continuação do pesadelo iniciado (e nunca encerrado) antes do embarque para o continente africano. As crises pessoais permanecem e se acumulam por motivos diversos, como vimos, e são tão marcantes que o médico se resigna a aceitá-las como elementos integrantes indissociáveis de sua vida atual.

Trata-se, em parte, da impossibilidade de uma reintegração na sociedade civil que suscita uma infinidade de interrogações dramáticas, como ouvimos um soldado perguntar ao seu capitão, ex-companheiro de guerra: se lhe não fora difícil despir o uniforme e ser civil, admitindo quase só saber “pegar numa canhota e andar à caça de pretos pela mata” (ANTUNES, 1988, p.117).

Também aponta Magalhães:

No regresso, a consciência não consegue libertar-se da experiência da guerra, constantemente lembrada e, ao mesmo tempo, intencionalmente recalcada. A memória que incessantemente volta aos locais de África percorre caminhos muito diversos, em que está sempre presente uma espécie de descida interior/atracção inelutáveis vividos (MAGALHÃES, 2001, p.331).

Como vimos, pelo fato de os enredos de Lobo Antunes serem muito parecidos há a impressão de se estar lendo sempre o mesmo livro, ou seja,  apresentam uma espécie de eterna permanência em um plano onírico. A permanência na atmosfera de pesadelo ocorre de duas formas: a primeira in locus, ou seja, no próprio ambiente apocalíptico e miserável do campo de guerra, e a segunda é através da memória, desta forma, uma transformando a outra em um labirinto interno. Através da visão do narrador de Os cus de Judas nota-se que a memória é estática porque a visão que ele tem diante de si durante todo o período que passou na guerra é opressora e árida, ou seja, em Angola o tempo (que é outro elemento fundamental que gera sofrimento) é sempre igual.

Nessa madrugada de Natal absolutamente idêntica a todas as madrugadas que conhecera em África, fitando os soldados que conversavam do outro lado da parada nos degraus da messe de sargentos, e vendo as nuvens de chuva que cresciam do Quando para mim, em enormes rolos de basalto pesados de uma ameaça de tempestade (ANTUNES, 2003, p. 137-138).

A estaticidade do tempo é o que torna o presente tedioso, juntamente com a sequência de recordações terríveis da guerra fazendo com que o tédio, a dor, a sensação de perda também sejam iguais em Portugal, no retorno que, a princípio, é permanente. O lugar que certa vez pertenceu ao médico psiquiatra não é mais o mesmo, e as pessoas também não são mais as mesmas, ou já morreram, assim como as imagens da infância e da juventude com sonhos, muita luz e com a presença de uma atmosfera aberta, bastante diferente da atmosfera rarefeita e opressora do período no continente africano e na Lisboa do retorno.

A imagem do retorno na obra de António Lobo Antunes é metafórica e, como já apontamos, representa toda uma geração de descontentes (para utilizar aqui um termo freudiano) que pelo fato de não só encontrar aquilo que espera no outro ou a representação de si próprio a partir do olhar do outro (como a ideia da exotopia bakhtiniana), o tópos também não é o mesmo, ou seja, o cronotopo, que é o tempo histórico e o espaço social. O espaço mudado, alterado ou até mesmo perdido só o é pela grande influência da memória opressora, que envolta em um terreno obscuro e onírico, deixa o indivíduo sempre à deriva.

 

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[(Capítulo extraído da dissertação de mestrado O pesadelo pós-colonial: identidade e memória em narrativas de António Lobo Antunes, de 2018)]

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Daniel Osiecki nasceu em Curitiba, 1983. Editor e escritor, publicou os
livros Abismo (2009), Sob o signo da noite (2016), fellis (2018), Morre
como em um vórtice sombra
(2019) e Trilogia Amarga (2019). É mestre em
Teoria Literária. Organiza o sarau-coletivo Vespeiro – vozes literárias. E-mail: daniel@kotter.com.br


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