Poesia mexicana
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LA BESTIA
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CRUZA EL TERRITORIO A 160 KM / HR
es el rastro de un dedo índice pinchado
una máquina programada para devorar y transportar
su aliento lacera el cuerpo
y quienes rozan su vientre desde el ángulo impreciso
caen invariablemente en una fosa común
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FUE UN CALOR REPENTINO
el alargado vientre del ciempés metálico
cruzó interminable sobre mis ojos
me levanté sin brazos ni piernas
la que fui quedó esparcida en las vías
incluso el llanto
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LA BESTIA ME JALÓ POR LOS PIES
aferrada a mis uñas
trepada en su lomo
me dijeron:
no duermas
pero nadie dijo:
no sueñes
recordé a mi padre
é ljugaba a ser mi caballo
y yo a ser el viento con mi cabello
sonreíamos
aquel vaivén no podría ser otra cosa que la felicidad
el triturador de vísceras me jaló por los pies
como la bruja
Verónica González Arredondo poeta mexicana, nascida em 1984, em Guanajuato. Em 2014 ganhou o Prêmio Nacional de Poesia Ramón Lopéz Velarde, da Universidade Autônoma de Zacatecas, nesse mesmo ano foi também agraciada com o Prêmio Dolores Castro Varela, outorgado pelo governo do estado de Aguascalientes. O poema A Besta faz parte do livro Ese cuerpo no soy, de 2015.
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A BESTA
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CRUZA O TERRITÓRIO A 160 KM/H
é o rastro de um dedo indicador espetado
máquina programada para devorar e transportar
sua respiração lacera o corpo
e aqueles que roçam seu ventre desde o ângulo impreciso
caem invariavelmente em uma fossa comum.
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FOI UM CALOR REPENTINO
o alargado ventre da centopeia metálica
cruzou interminável sobre meus olhos
me levantei sem braços nem pernas
e a que fui acabou espalhada pelas pistas
com o meu choro
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A BESTA ME PUXOU PELOS PÉS
aferrada com minhas unhas
subi em seu lombo
e me disseram:
“não durmas”
mas ninguém falou:
“não sonhes”
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lembrei do meu pai
ele brincava de ser o meu cavalo
e eu de ser o vento com meu cabelo
e assim sorríamos
aquele vai e vem não poderia ser outra coisa senão a felicidade
mas o triturador de lixo me puxou pelos pés
como uma bruxa
Tradução: Micheliny Verunschk
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Micheliny Verunschk é autora de quatro livros: Geografia Íntima do Deserto (2003, indicado ao Portugal Telecom no ano seguinte), O Observador e o Nada (Bagaço, 2003), A Cartografia da Noite (2010) e Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida (Patuá, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2015, na categoria Melhor Livro de Romance do Ano – Autor Estreante com mais de 40 anos). Escreve porque é tudo o que pode saber. Gosta de teoria literária, moda, arquitetura, design, arte de rua e, ocasionalmente, de música. É blogólatra e workaholic. Costuma dizer que Osman Lins é seu pastor e por isso a ela nada faltará. Já viveu muitas vidas numa só e está sempre curiosa para saber as cenas do próximo capítulo.
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