O Pênis do Espírito Santo
O ESTIMULANTE N’O PÉNIS DO ESPÍRITO SANTO
… e quando pensamos que já se escreveufez tudo em poesia (embora todos-os-dias se continuem a escrever poemas, muitas vezes nem isso, apenas versos) que de um modo geral são sempre maisdomesmo, eis que aparece alguém que se autointitula Djami Sezostre e começa a despejar no papelletras, palavras, sinais ortográficos, números, palavras cortadas outras mescladas com outras palavras e, de repente, sentimos que está ali algo de novo que apetece ler. E saborear, porque esta mescla de sílabas e de palavras nem sempre se consegue ler de uma rajada. São poemas (não versos) que apetecetem que se saborear para se/os entender na sua plenitude, na sua imensidão, na sua intensa multiplicidade de sentidos, de significados, das infinitas imagéticas que provoca. E que invoca o leitor a deslindar.
Poesia irónica, criativa, inovadora, inspirada por um erotismo latente, delineada pelo absurdo umas vezes, outras por um danado lirismo que dá vontade de reescrever para se o poder assimilar na sua essência, e eis que aparece um tal que se autodenominaDjamiSezostre
que nos rasteira com palavras escorregadias umas, com escolhos outras, nos quais a leitura tropeça e tem que ganhar balanço para ultrapassar as palavras que não se escolhem, reveses de rara beleza poética, fonética, semântica, de uma inegável visualidade, incluso pelo onírico que transborda e se nos impõe de rompante.
É daquelas poéticas que têm que ser lidas-vistas-ouvidas para se apreender tudo 8 que el7s contêm. Ou quase tudo, porque numa releitura aparecem sempre outras coisas que ainda não se tinha reparado e surgem novos significados, outras representações, diferentes harmonias.
Vai daí aparece alguém que se autodetermina Djami Sezostre para nos arejar os olhos, o pensamento, a voz, os ouvidos. De cortar a respiração.
Com novas palavr(ead)as daquelas que não aparecem nos dicionários nem se conseguem inventar por acordos ortogramáticos ou fonéticosemióticos que servem unicamente para confundir em vez de facilitar, para obstruir em vez de aclarar. Para puxar pela cabeça-do-leitor.
Facilitadora não é a poesia de alguém que se autorreafirma Djami Sezostre e que inventa um novo linguajar/um diferente veículo de comunicação para nos encher a cabeça de diferentes sílabaspalavras que muitas vezes apenas querem dizer coisas antigas mas que ditas assim por esse que se autocertificaDjamiSezostre parecem realmente inovadoras.
Etnopoesia que se transpira no modo como os vocábulosfalados são transcritos, como se ouvem, visualizados pela sonoridade das verbalizações de um mundo (do) interior. Como em Veromeupaicomendobarro.
Subversiva escrita que subverte, verte algarismos que se leem como se fossem letras “7 v7c7 p7rtiu 7 noite” e acabam por formar um novo silabário, reinventa a forma de dizer e inova o processo de escrita. Recria as palavras que existem, cria palavras que passam a existir mas nem por isso subsistem, age como um Deus do vocábulo e dispõe delas a seu bel-prazer. Aquele que se autoatestaDjamiSezostre cria uma linguagem nova, com novas dicções e expressões, inovando aquiloqueescreve naquilo que escreve. Éguame.
O Pênis do Espírito Santo não é um livro nem breve nem simples. É-o com uma linguagem assertiva repleto de reminiscências: cavalos, parentes, chuva, sangue, pássaros, saliva, cabelos, folhas, pele, floresta, vida, coisas e números, muitos números que se dizem (tanto) melhor que letras porque permitem diferentes interpretações na ambiguidade que evidenciam. A matemática a invadir a escrita e a enunciar-se tão bem (o) quanto esta.
A aparente abstração de alguns versos não é mais do que uma libertadora forma do leitor se tornar num ativo coautor a par deste que se autodesignaDjamiSezostre, que nos leva sempre a dianteira, que nos arrasta na verborreidade da sua poética, que jorra n(d)o papel como o galopar dos equídeos que tantas vezes invoca. Evoca. Vocabulário que (nos) transporta para outros mundos, até ao (pénis do) Espírito Santo…
Ou mais concretamente, e citando aquele que se autoasseguraDjamiSezostre no poema “Os Dadairas “ – “asjfasfuiuiuasdufasu9as98f9sdf”. Assim mesmo – sem tirar nem pôr!
Salvé Djami Sezostre! Seja bem (re)aparecido no nosso mundo, com uma poética d’alta voltagem. Benvindo com o seu palavrear livre, libertador e libertário queencanta os felizardos que vão ter a possibilidadeprazer de o ler. Para o bem e para o mal fui um dos. Bem-haja, como se diz algures na minha terra, esse que se autoassevera Djami Sezostre.
O Pénis do Espírito Santo é mais um estimulante conjunto de poemas demonstrativos da versatilidade criativa, da imagética do linguajar e da biosonoridade da poiesis de DjamiSezostreJoaquimPalmeiraWilmarSilva.
Fernando Aguiar é um dos grandes poetas visuais do mundo. Transitando entre a iconografia e a poesia e se utilizando de colagens, associando letrismo com imagens gera fagulhas poéticas que iluminam o olhar e as coisas.
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Trechos do livro O Pênis do Espírito Santo, de Djami Sezostre
O MEDIEVAL
esculpir moldar e mesmo talhar a boca do fauno caipira
à minha boca feito brida de cavala esculpida moldada e mesmo talhada
entre espadas e lâminas seria o mais antigo trabalho
o trabalho de melhor e mais esmero
mas eu que sempre plantei joios e nenhum trigal
ganho mais que pedras ao macular os lábios de éter
e entrar para o triângulo
em busca de alguma caverna
medieval ferido a fogo que fosse
sim só o medieval me serve agora ninguém mais ninguém
como esculpir a ema do campo no campo
moldar a peroba na coxa e talhar de calor
a arara arada a faro e lobo e matilha que fosse
doença que ardesse
ah dói mesmo é pensar que sou humano
fosse primitivo meu olho de farol
e meu ouvido cata-ventasse
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EIVA
e que agonia é essa meu deus agonia de perder o norte do passeio
e perder o rumo de casa e esquecer os pés amarrados nas coxas
e esquecer os dedos nos cabelos e esquecer a língua da própria boca
o olho o ouvido o faro e eu por fora e eu por dentro
e eu sem olho e eu sem ouvido e eu sem faro
colado na terra ouvindo o barulho de alguma carroça de roça
que está longe longe mesmo longíssima
carroça de roça carreando caroço de milho
eu e essa boca de animal faminto
eu e essa boca rude de fome
eu e essa boca rude de sede
apenas como o nada e apenas bebo o nada
e depois de comer o nada e depois de beber o nada
ser facho
e eiva e eiva e eiva
a eiva a eiva a eiva
eiva eiva eiva
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GAVIÃO
gavião do bico afiado bica essa carne
essa carniça de embuste
e esse buraco de lagarto
bico de agulha esguio e meio adunco
bico preto de azul que brilha
gavião do bico afiado mete o bico no pescoço
e mete mesmo mete esse facho de bico preto na carne vermelha
mete esse bico e come essa carne como se fosse a última
e como se fosse o primeiro
ave ferida de nojo e ferida de lodo ave do mato
ave do cerrado ceia essa vaca
e deixe em paz o meu o curral
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LANÇAMENTO:
A Editora Patuá e o Patuscada – Livraria, bar & café convidam a todos para o lançamento do livro “O pênis do Espírito Santo”, poemas de Djami Sezostre.
O evento será realizado no dia 17 de abril (terça-feira) a partir das 19h no Patuscada – Livraria, Bar e Café – Rua Luís Murat, 40 – Vila Madalena – São Paulo – SP
Evento no facebook.
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