Beste Grüße



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Michael Krüger (1943/Wittgendorf), considerado um dos maiores expoentes da poesia alemã, iniciou na área literária, em 1966, como crítico. Desde 1986, trabalha como editor na editora Carl Hanser Verlag. Também é editor da renomada revista literária Akzente. Em 1972, Michael Krüger lança seu primeiro livro de poemas Reginapoly. Em 1984, estréia como narrador com a coletânea de contos Was tun? Eine altmodische Geschichte (O que fazer? Uma história antiga). Surgiram diversas coletâneas de contos, romances, edições e traduções. Em 1990, é publicado seu primeiro romance Das Ende des Romans (O fim do romance), seguidos dos títulos, Der Mann im Turm (O homem na torre), e Die Cellospielerin (A violoncelista). Seus versos refletem os passos de sua vida e os de sua geração que procuram banir as sombras da mortalidade, refletem a natureza que domina toda a existência e cuja diversidade serve para combater a monotonia do indivíduo encarcerado na rotina cotidiana. Michael Krüger vive em Munique.
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Nachtflug

 

Weil alle Flugzeuge verspätet landeten

und nicht mehr abheben durften,

kamen wir, ein vielsprachiger Rest,

in eine Maschine, die schon ausrangiert war.

 

Ich saß auf 34 B, in der ungeliebten Mitte,

rechts von mir ein nachtschwarzer Engel,

der seelenruhig seinen Müll sortierte,

links ein Herr, der Platon las, im Original.

 

Rauchen war nicht verboten, auf Reihe 20

Kam sogar eine Wasserpfeife zum Einsatz.

Im Gang wurde Fußball gespielt, und vorn

In der ersten Klasse übte eine irische Band

 

das Requiem von Verdi. Auch ich habe mir

meinen Lebensabend anders vorgestellt,

sagte die müde Stewardess und bot Zeitungen an

vom vergangenen Jahr. Der Pilot lächelte

 

im Schlaf. Wer kommt schon an, wo er hinwollte,

brummte der Engel, und Platon nickte ein.

Gegen Morgen, als auch mir die Augen zufielen,

gingen wir in die Luft.

 

vor dem Gewitter

 

 

 

Voo noturno

Porque todos os voos pousaram atrasados
e não mais puderam  decolar,
chegamos, um grupo multilingue,
em uma aeronave que já tinha parqueado.

Eu estava sentado na 34 B, na odiada fila do meio,
à minha direita, um anjo negro como a noite
que separava o seu lixo com toda a serenidade da alma,
à esquerda, um senhor lendo Platão no original.

Fumar não era proibido, na fileira 20
até mesmo um charuto de água teve a sua atuação.
no corredor jogava-se futebol, e lá na frente,
na primeira classe, uma banda irlandesa ensaiava

a Requiem de Verdi. Também eu imaginei
o noturno da minha vida de maneira diferente,
disse a aeromoça cansada oferecendo o jornal
do ano passado. O piloto sorria

sonhando. Quem é que chega, onde se quer chegar,
rosnou o anjo, e Platão acenou com a cabeça.
Pela manhã, quando também os meus olhos cerraram,
levantamos voo.

 

(Poema extraído da coletânea Antes da tempestade)

 

 

Nächtlicher Spaziergang

 

Immer wenn wir hinuntergehen

zum Wasser, versperrt uns der Mond den Weg,

Noch lärmen fiebrig die Grillen

Und zerren die Erinnerungen aus dem Gebüsch,

unter dem still die Enten nisten.

An solchen Tagen hockt die Stille im See,

bereit, sich auf uns zu stürzen.

 

vor dem Gewitter

 

 

Passeio noturno

Toda vez que descemos
ao lago, a lua bloqueia nosso caminho.
Os grilos ainda cantam febrilmente
e arrancam as lembranças dos arbustos,
os patos aninham-se no sossêgo.
Nesses dias, o silêncio debruça-se no lago,
pronto a atacar-nos.

 

(Poema extraído da coletânea Antes da tempestade)

 

 

Zikaden

 

Wer von der Maßlosigkeit träumt,

dem endlosen Raum, der den Raum

überwölbt und das Rufen echolos

aufnimmt in seinem ewigen Mittag,

den sehen wir bald unter den Bäumen

Schattendienst halten: all der Dämmer,

im Umgänglichen wurzelnd,

entmachtet die blicklose Weite.

Und jedes Wort, das gesagt wird,

wird von Zikaden zersägt.

 

vor dem Gewitter

 

 

Cigarras

Quem sonha com o exorbitante,
do espaço infinito,  que cobre
o espaço e o chamado do eco não existente
absorvido em seu eterno meio-dia,
logo veremos debaixo das árvores
o serviço das sombras: todo o alvorecer,
nas afáveis raízes ,
desarmando a distância cega.
E cada palavra dita
será serrada pelas cigarras.

 

(Poema extraído da coletânea Antes da tempestade)
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Über Schatten

 

Ich kannte die guten und die schlimmen Schatten,

die raumlosen Schatten der Träume, in denen Theologen

um einen Zankapfel streiten, und den Schatten,

den Fische werfen und eilige Fliegen.

Mein Grossvater mischte Schatten in die Saat,

damit etwas wächst, was nicht umsonst ist,

und die Spreu sich vom Weizen nicht trennt.

Und einmal sah ich den Schatten von Vögeln,

der hing an den Steinen wie die Wolle am Strauch.

Ab heute wirft auch mein Schlaf einen Schatten

In die immer lichtloser werdende Welt.

 

Ins Reine

 

 

Sobre sombras

 

Eu conhecia as boas e as más sombras,
as sombras sem a dimensão dos sonhos, tanto discutidas
pelos teólogos por causa do ponto de discórdia, e as sombras
que os peixes arremessam e as moscas velozes.
Meu avô misturava sombras nas sementes,
para que algo crescesse o que não é em vão,
e o joio não se separesse do trigo.
E uma vez eu vi as sombras das aves,
estavam penduradas nas rochas como a lã no arbusto.
A partir de hoje, também o meu sonho lança uma sombra
no mundo cada vez mais sem luz.

 

(Poema extraído da coletânea Passar a limpo)

 

 

Ins Reine

 

Wir haben meine Kindheit nachgestellt

mit unscheinbaren Dingen.

Einem Tannenzapfen, Brotkrumen,

Schlüsseln, einem schwarzgeäderten Stein,

alles, was zur Hand ist und beweglich.

Nur haben die Dinge die Neigung,

nach eignem Belieben zu handeln,

und die Bahn, die ich auslegen wollte,

neigt sich ständig vor und zurück.

Ich sehe das, was ich nicht mehr bin,

aber ich sehe nicht mich.

Ein Apfel rollt traurig vom Tisch

Und bricht, wie Wörter brechen,

wenn man sie lang nicht benutzt.

Überlaβ es den Vögeln, das Gekrakel

Ins Reine zu schreiben, auf sie ist

Verlaβ.

 

 

Passar a limpo

Recriamos a minha infância
com coisas insignificantes.
Uma pinha, migalhas de pão,
chaves, uma pedra veiada de negro,
tudo que estava na mão e movimentava.
Entretanto as coisas possuem a tendência
a agir de acordo com seu próprio critério,
e o destino, que eu queria lhes dar,
tende constantemente para adiante e para trás.
Vejo aquilo que não sou mais,
mas não vejo a mim.
Uma maçã rola triste da mesa
e se parte como as palavras se quebram
quando não são utilizadas há muito tempo.

Deixe as aves passar
os rabiscos a limpo, com elas
se pode contar.

 

(Poema extraído da coletânea Passar a limpo)

 

 

Fernsehen

 

Der Wind fluchte, und im Traum

Gab es nur Hingestreckte und Tote.

Ein Auto suchte die Leiche der Stadt ab

Und kehrte um die Stille.

Wir lernten die wenigen Worte,

mit denen man zuhören kann.

Jetzt brennt die Stadt, und die Flammen

Zittern wie die Hände eines Kindes.

Eine Landungsbrücke voller Spatzen

Weist in die Zukunft, ein Schiff

Fährt vorbei, es hat Lämmer geladen,

die davon träumen, Wölfe zu sein.

 

(Unter freiem Himmel)

 

 

Televisão

O vento amaldiçoava, e no sonho
Havia somente executados e mortos.
Um carro procurava o cadáver da cidade
E logo regressava ao silêncio.
Aprendemos algumas poucas palavras,
com as quais podemos ser ouvidos.
Agora a cidade queima e as chamas
tremulam como as mãos de uma criança.
Uma ponte de aterrisagem cheia de pardais
indica o futuro, e um navio
passa carregando cordeiros
que sonham ser lobos.

 

(Poema extraído da coletânea Sob o céu aberto)

 

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Ron Winkler (1973/Iena), poeta e tradutor, estudou filologia germânica e história na Universidade de Iena. Publicou as coletâneas vereinzelt Passanten (Passantes ocasionais, 2004), Fragmentierte Gewässer (Águas fragmentadas, 2007) e Frenetische Stille (Silêncio frenético, 2010), e Torp, uma coleção de novelas. Foi editor de antologias de jovens poetas dos Estados Unidos (2007), de poemas sobre o mar Báltico (2010), jovens poetas de língua alemã (2008), e poemas sobre a neve (2011). É editor da revista intendenzen (desde 1997). De 2003 a 2005, organizou a antologia Lyrik.Log no site satt.org. Ron Winkler vive em Berlim.

 

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vor Insel 35
für A. P.
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das Meer ist makellos aufgewühlt.
es hätte eine aufregendere Bezeichnung verdient.
der Wind macht im Moment eine pädagogische Phase durch.
die Bäume biegen sich zu absoluten Metaphern.
die Klagemauer des Möwengesangs
lässt dahinter eine ganze Klagesiedlung vermuten.
das Konzept der Brandung findet wahrscheinlich
besonderen Anklang bei Adventisten.
je länger man schaut, desto schaumiger wird es.
aber das lässt sich so schlecht beweisen
wie die Verwandtschaft von See-
Anemonen und Animositäten.

 

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em frente à ilha

para A. P.

 

o mar imaculadamente perturbado

mereceria uma distinção mais emocionante

no momento o vento passa por uma fase pedagógica

as árvores arqueiam em uma metáfora absoluta

o Muro das Lamentações do canto das gaivotas

leva a supor toda uma colônia de reclamações na retaguarda

o conceito do quebrar-se das ondas é provavelmente

mais valioso junto aos adventistas

quanto mais tempo você olha, mais espumoso se torna

mas é difícil de se provar

como o parentesco entre as

anêmonas e as animosidades.

 

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Leitfaden für Landschftstouristen

 

die  Blüten drücken der Luft ihre Stempel auf.

der Wind gehört zu den Konnektoren.

die Bäume sind Feuilletonisten. ihre Äste wirken gespreizt.

die Vögel sind als Monaden der Lüfte erkennbar

die Hasen als Angst. vor der Mattscheibe eines Sees

existiert etwas. es könnte wesentlich sein.

auf einer Oberfläche grasen Tiere.

vielleicht sind sie echt.

am Horizont versinkt etwas Altes.

 

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Orientações para turistas de paisagens

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as flores carimbam no ar as suas formas

o vento pertence aos conectores

as árvores estão cheias de folhetins. como se as hastes estivessem propagadas

os pássaros são como mônade dos ares

as lebres são como o medo. diante do ecrã de focagem de um lago

existe algo. poderia ser essencial

alguns animais pastando sobre a superfície.

talvez sejam reais

no horizonte algo antigo se põe

 

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ein Tag wie Dezember

 

dieser Tag hat glazialen Charakter.

wie könnte es anders sein: ihm liegt Winter zugrunde.

das Couvert der Wolken ist noch nicht geöffnet.

obwohl mich diese Sendung sehr angeht, par Avion.

der Himmel gehört einer Graubranche an.

es herrscht ein neuer Ton irgendwie: diätetisches Licht.

wenigstens wahrt die Sonne den Anschein.

die Pappeln am Horizont Irokesengestrüppe.

Alleen führen noch immer ins Labiale.

auch sie sind von Schneefall punktiert.

was bisher fiel, lässt einen Reifrock vermuten.

die Landschaft so landschaftlich wie lange nicht mehr.

wovon ich auch noch weiß:

einige Tümpel verleihen sich Wäldern als glasige Orden.

aber die Wärmeflocken der Vögel täuschen

darüber hinweg.
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um dia como dezembro

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este dia possui aspecto gélido

não poderia ser diferente:  há inverno no fundamento

o envelope das nuvens ainda não se abriu

embora este envio muito me interesse, par avion.

o céu pertence a um empreendimento cinza

de alguma forma rege uma nova ordem: luz dietética

pelo menos  o sol mantém a aparência

os álamos no horizonte como moitas iroqueses

as alamedas ainda seguem ao labial

também elas são pontuadas pela neve

o que caiu até agora sugere uma crinolina branca

a paisagem tão paisagística como há muito tempo não era

o que ainda posso dizer:

alguns charcos se entregam às florestas como medalhas vítreas

mas os flocos de calor dos pássaros

enganam

 

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Geweiharchiv

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meine Eltern schlugen häufig das Buch
der leisen Streite auf. meist ging ich
in einem solchen Fall mit einem
der drei Hunde meiner Kindheit spazieren.
sie jaulten ganze Idyllen zusammen.
die Schwester spielte Großmutter und hörte
schlecht. die Großmutter selbst hörte gut,
galt aber praktisch als ständig verreist in die Welt
der Walzer. Großvater war bereits
sein eigenes stilles Buch. man las es
aus Fotoalben zusammen. das waren Nachmittage
schwer und verraucht wie die Brokatvorhänge
der guten Stube. grünkohlgrün mit goldener Borte:
jeder Gast lobte die Wahl, dann den Likör.
Besuche waren Friedensfahrten*, man übte
Philanthropie und Freiheit: hier spielten Geweihe
die Rolle der Großen Vorsitzenden an der Wand.
nach der Schule begann das Bewusstsein
als Testbild (zweites Programm), es beruhigte,
wenn die Schwester einen ihrer Pickeltode starb
oder Großmutter den Plattenspieler
auf Tango beschleunigte. ich erntete Kleingeld
von ihr, für meine Geduld, und Pralinen.
erst verabscheute ich sie, später waren sie mir
die süßen Zweigstellen des Stammbaums.
sie ließen die Zunge fliehen.

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Arquivo de chifre

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meus pais muitas vezes folhearam o livro

das silenciosas brigas. em casos assim

eu geralmente ia passear com um dos

três cães da minha infância.

juntos uivavam contra todo um idílio.

minha irmã brincava de avó e ouvia mal. minha avó mesmo

ouvia bem, mas era praticamente considerada muito viajada pelo mundo

da valsa. meu avô era o seu próprio livro

de silêncio. liamos juntos nos álbuns de fotografias.

eram tardes pesadas e enfumaçadas como as cortinas de brocados

de uma sala de estar. cor verde de repolho verde com as barras douradas:

cada convidado elogiava a escolha. depois o licor.

visitantes eram como ciclistas da paz*.  praticávamos

filantropia e liberdade: brincávamos que o chifre pendurado na parede

possuía o papel do grande presidente.

depois da escola surgia a consciência

como um teste de imagem (a televisão), era tranquilizante

quando minha irmã morria uma de suas mortes de ácne

ou minha avó acelerava o disco

tocando tango. eu colhia dela os trocados

para a minha paciência e chocolates.

primeiro eu as odiava, depois elas eram

os ramos doces da árvore genealógica

derretiam na língua

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* Friedensfahrt, “Course de la Paix“,  “Peace Race”, corrida de ciclismo em prol da paz muito comum na antiga Alemanha Oriental, foi realizada pela última vez em 2006.

 

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Fotomahlzeiten

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Silbergeschirr war das Zaumzeug
des Sonntags, aus der Küche kamen
dampfende Speisen, aus Liebe
Servietten, nichts war uns so nah
wie der Tisch, der den Fortbestand
sicherte. geschlossene Hände beteten
unter ihm hungrige Magerunser,
echtes Stallfleisch, pure Brust,
zum Abschluss ging es immer
ans Eingemachte, die privaten Pflaumen
nach vorwiegend volkseigenen Kartoffeln:
kein Satz war so sauber
geschält, auch wenn die Gespräche
glänzten wie der Foto-
Vater in seinen besten Jahren;
nie zu verhindern am Ende
der Magenbitter einer Müdigkeit
wie von Eulen gemietet.
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Fotografia da refeição

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talheres de prata eram as rédeas

do domingo. da cozinha surgiam

os pratos esfumaçando. do amor

os guardanapos, nada nos era tão acessível

como a mesa, que garante a procriação

mãos fechadas rezavam entre os famintos

da magreza nossa

e a carne autentica de curral, puro peito

no final tudo dava na coisa feita em casa

nas ameixas particulares, na maioria das batatas estatais

nenhuma frase era tão limpa

descascada mesmo que a conversa

brilhasse como a foto

do pai em seus melhores anos

no final não era nunca de se evitar o

bicarbonato de sódio e um cansaço

como que emprestado das corujas

 

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Ansichtskarte von einer See

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wir badeten schräg in der Zeitform des Tauchens
bis die Städte ihre Wirkung verloren. wenigstens scheinbar
stauten wir Küsten in unserem Staunen. und Vorschläge
zu ihrer Umgehung. manchmal schien die Sonne
alles zu sein. dann wieder verrohten die Dinge
in ihren Substantiven. ansonsten ging es uns
eigentlich irgendwie.
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Cartão postal de um lago

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banhávamos oblíquo no formato temporal do mergulho
até as cidades perderem o seu efeito. pelo menos aparentemente
empilhávamos encostas em nosso assombro. e propostas
para desviá-las. às vezes o sol parecia
ser tudo. depois as coisas se embruteciam de novo
em sua substância. no mais levávamos a vida
assim de algum jeito.

 

 

 

 

 

 

 

 

Viviane de Santana Paulo (São Paulo), poeta, tradutora e ensaísta, é autora dos livros Depois do canto do gurinhatã, (poesia, editora Multifoco, Rio de Janeiro, 2011), Estrangeiro de Mim (contos, editora Gardez! Verlag, Alemanha, 2005) e Passeio ao Longo do Reno (poesia, editora Gardez! Verlag, Alemanha, 2002). Participa das antologias Roteiro de Poesia Brasileira – Poetas da década de 2000 (Global Editora, São Paulo, 2009) e da Antología de poesía brasileña (Huerga Y Fierro, Madri, 2007). Participou do VIII Festival Internacional de Poesia em Granada, Nicarágua.  Vive em Berlim. E-mail: vsantanapaulo@yahoo.com.br




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