Archibald MacLeish e Ogden Nash


………Archibald MacLeish (1892-1982) foi poeta, escritor, teatrólogo e ensaísta

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4 POEMAS DE ARCHIBALD MACLEISH

Tradução de Gil Pinheiro e Luiz Roberto Guedes

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ARS POETICA

Um poema devia ser palpável e mudo
Como um fruto polpudo

Surdo
Como velhos medalhões de chumbo

Silencioso como a pedra gasta pelo uso
No peitoril das janelas onde cresce o musgo –

Um poema devia ser sem palavras
Como o voo das aves

Um poema devia restar imóvel no tempo
Enquanto a lua ascende

Deixando, enquanto a lua liberta
ramo a ramo o arvoredo noturno-emaranhado

Deixando, como a lua detrás das folhas invernais,
Lembrança por lembrança, a mente –

Um poema devia ser imóvel no tempo
Enquanto a lua ascende

Um poema devia ser igual a:
Não real

Por toda a história da dor
Um portal vazio e uma simples flor

Para o amor
A relva inclinada e duas luzes sobre o mar

Um poema não devia significar
Mas ser

[Tradução: Luiz Roberto Guedes]

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ARS POETICA

A poem should be palpable and mute
As a globed fruit

Dumb
As old medallions to the thumb

Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown –

A poem should be wordless
As the flight of birds

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,

Leaving, as the moon behind the winter leaves,
Memory by memory the mind –

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

A poem should be equal to:
Not true

For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf

For love
The leaning grasses and two lights above the sea –

A poem should not mean
But be

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UMA ETERNIDADE

Não há poente por vir,
Nem aurora que já era,
Há só o agora, e agora,
E o vento pela relva.

Dias de que me lembro
São no coração agora;
Dias que sonho abrirão
Em botão de pessegueiro.

Morrer nunca há de ser
Agora ao vento fugaz;
Agora ao sopro das folhas
Não houve morte jamais.

[Tradução: Luiz Roberto Guedes]

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AN ETERNITY

There is no dusk to be,
There is no dawn that was,
Only there’s now, and now,
And the wind in the grass.

Days I remember of
Now in my heart, are now;
Days that I dream will bloom
White the peach bough.

Dying shall never be
Now in the windy grass;
Now under shooken leaves
Death never was.

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VIAGEM DE VOLTA

Meu tempo no meu tempo hauri de porto em porto
Meu tempo no meu tempo e não achei meu rosto.

Imitador de céus estranhos e outros ares,
Na serra alerta, rio preguiçoso no vale,

No hotel do lago, checo o livro de registro:
Indecifráveis data, estância, identidade.

Kum fica ao sul de Rá e a seu leste, o deserto:
Nos muros pessegais para o festim dos ratos.

Havia em Greasy Grass uma que conhecia
Não meu nome de nome, é, mas de mim sabia.

E onde estará Jesus tão fascinante amante?
Minha vida ruiu: vêm pisá-la os passantes:

Álamos crescerão do coração partido.
Vim da porta de casa e não posso ir além.

[Tradução: Gil Pinheiro]

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JOURNEY HOME

I have wasted my time in my time in many places
My time in my time and have not found my face.

Imitator of climates and strange skies,
In the mountains alert, in the south a lazy river,

At the lake hotel, I examine the register:
The place and the time and the name of my life are illegible.

Kum is southward of Re and the desert  is east of it:
Peach boughs over the walls and the rats feasting.

On the Greasy Grass in the night there was one that knew:
She could not speak my name by name but she knew me.

And where is Jesus that gentle lover?
My life is blown down: the ramblers are over it:

There are poplars growing from the broken heart.
I have come from the door of my house: I can go no farther.

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LIBERDADE

Quando é menina inconsequente
E anda sem rumo e a bel-prazer,
A liberdade ingentemente
A tocha em chamas faz chover.

Quando é senhora bem casada
E mantém tulhas e currais,
A liberdade, recatada,
Abafa a tocha e pede paz.

[Tradução: Gil Pinheiro]

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LIBERTY

When liberty is headlong girl
And runs her roads and wends her ways
Liberty will shriek and whirl
Her showery torch to see it blaze.

When liberty is wedded wife
And keeps the barn and counts the byre
Liberty amends her life.
She drowns her torch for fear of fire.

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.……………….Ogden Nash (1902-1971), poeta norte-americano


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7 POEMAS DE OGDEN NASH

Tradução de Luiz Roberto Guedes

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The Abominable Snowman

I’ve never seen an abominable snowman,
I’m hoping not to see one,
I’m also hoping, if I do,
That it will be a wee one.

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O abominável Homem das Neves
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Nunca vi um abominável homem das neves,
E espero jamais ver o seu focinho,
Também espero, se vir algum,
Que seja um bem miudinho.

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The Dog

The truth I do not stretch or shove
When I state that the dog is full of love.
I’ve also found, by actual test,
A wet dog is the lovingest.

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O Cachorro

É a pura verdade, sem tirar nem pôr:
Cachorro é um bicho cheio de amor.
Pois confirmei um fato comprovado:
O mais amoroso é o cachorro molhado.

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The Fly

God in his wisdom made the fly
And then forgot to tell us why.

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A Mosca

Deus criou a mosca em Seu saber
Só esqueceu de nos dizer por quê.

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The Octopus

Tell me, O Octopus, I begs
Is those things arms, or is they legs?
I marvel at thee, Octopus;
If I were thou, I’d call me Us.

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O Polvo

Diga lá, ó Polvo, seu bichaço:
Tudo isso aí é perna ou braço?
Pra mim, nem parece um polvo só:
Se eu fosse você, me chamava Nós.

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The Termite
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Some primal termite knocked on wood
And tasted it, and found it good!
And that is why your Cousin May
Fell through the parlor floor today.

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Os Cupins

Os cupins bateram na madeira,
Provaram e acharam de primeira!
Foi por isso que sua tia Lala
Afundou pelo assoalho da sala.

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The Shrimp

A shrimp who sought his lady shrimp
Could catch no glimpse
Not even a glimp.
At times, translucence
Is rather a nuisance.

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O Camarão

Um camarão procurou
sua patroa: procurou-a…
E nem sinal da camaroa.
Tem vez que translucidez
Dá nisso: sumiço.

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The Ant
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The ant has made herself illustrious
By constant industry industrious.
So what? Would you be calm and placid
If you were full of formic acid?

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A Formiga

A formiga se fez mais que famosa
Por sua conduta industriosa.
E daí? Você seria um calmo cósmico
Se andasse cheio de ácido fórmico?

 

 

 

 

 

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Gil Pinheiro é jornalista. Trabalhou, entre outras redações, no Estado de S. Paulo, Veja e Placar. Foi também editor de livros e redator publicitário. Dizer que é poeta e tradutor parece redundante, ou o que estaria fazendo aqui? Mas é bom advertir que na lira é bissexto pois digitar é preciso, versejar não é preciso. E-mail: gppress@hotmail.com

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Luiz Roberto Guedes é poeta e escritor. Publicou, entre outros,    Calendário Lunático — Erotografia de Ana K (2000),  O Mamaluco Voador (2006),  Minima Immoralia/ Dirty Limerix (2007), Meu Mestre de História Sobrenatural (200 8), e Alguém para amar no fim de semana (2010). E-mail: lrguedes@hotmail.com




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