Antes da criação do mundo


 

BEFORE THE WORLD WAS MADE

IF I make the lashes dark
And the eyes more bright
And the lips more scarlet,
Or ask if all be right
From mirror after mirror,
No vanity’s displayed:
I’m looking for the face I had
Before the world was made.
What if I look upon a man
As though on my beloved,
And my blood be cold the while
And my heart unmoved?
Why should he think me cruel
Or that he is betrayed?
I’d have him love the thing that was
Before the world was made.

 

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ANTES DA CRIAÇÃO DO MUNDO

SE faço os cílios mais escuros

E os olhos mais brilhantes

E na boca um matiz mais rubro

Ou pergunto se estou bem

A cada espelho que vejo

Não há vaidade neste assunto.

Busco o rosto que tinha

Antes da criação do mundo.

E se ao olhar um homem

Ainda que seja meu amado,

Meu sangue se congela

E meu peito fica estagnado?

Pra que pensar que sou cruel

Ou que o traio, lá no fundo?

Eu o faria amar aquilo que fui

Antes da criação do mundo.

 
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The Folly Of Being Comforted
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One that is ever kind said yesterday:

‘Your well-beloved’s hair has threads of grey,

And little shadows come about her eyes;

Time can but make it easier to be wise

Though now it seems impossible, and so

All that you need is patience.’

Heart cries, ‘No,

I have not a crumb of comfort, not a grain.

Time can but make her beauty over again:

Because of that great nobleness of hers

The fire that stirs about her, when she stirs,

Burns but more clearly.  O she had not these ways

When all the wild Summer was in her gaze.’

 

Heart! O heart! if she’d but turn her head,

You’d know the folly of being comforted.

 

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A tolice de ser consolado

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Alguém ontem disse-me com seu doce ar:

“A fronte de tua amada começa a pratear

E ao redor dos olhos surge uma sombra leve;

O tempo te trará sabedoria em breve.

Por enquanto parece impossível, portanto

Sejas paciente.”

O peito grita, no entanto:

“Não vejo gota de consolo, nem farelo.

O tempo só reforça o belo e o faz mais belo

E essa grande nobreza que nela habita?

O fogo que a agita, quando ela se agita,

Arde mais forte. Oh, ela não tinha esses modos

Quando se via o Verão em seus jovens olhos.”

 

Oh, Coração! se ela tivesse se voltado

Verias a tolice que é ser consolado.

 

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[Tradução de Clarice Goulart e Leo Gonçalves]

 

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William Butler Yeats (1865-1939), nascido em Dublin, foi um dos poetas de maior influência na língua inglesa no século XX. Suas primeiras obras tinham fortes marcas da cultura celta e da língua gaélica. Considerado simbolista por muitos, seus poemas tornaram-se mais modernos e concisos no século XX, especialmente após conhecer poetas como T. S. Eliot e Ezra Pound. Escreveu obras teatrais e um livro místico, A vision (1925). Esteve também envolvido com a política irlandesa, tendo sido senador por vários anos, cargo que o cupou com seriedade e pessimismo. Recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1923.

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Clarice Goulart (1981) é tradutora e produtora cultural. Curadora da mostra de cinema independente BrasilCine que acontece anualmente em Estocolmo e a partir de 2013 acontecerá também em Gotemburgo, Suécia.

Leo Gonçalves (1975) é poeta e tradutor. Autor de Use o assento para flutuar (Patuá, 2012) e das infimidades (in vento, 2004). Traduziu Juan Gelman, Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor, William Blake e Allen Ginsberg, entre outros.

 




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