Rimbaud na Rodrigo de Freitas
Centopeia
.
morre a centopeia:
frígida, anelídea
no voo, no beijo,
no chão. Minúscula
seus membros
– no campo, no céu –
abertos e eretos recebem os ventos
do norte convergidos pelos
ventos do sul
afunda a morta:
milésimo a minuto
.
Poema em pé
unhas estranhas rasgam em círculos incompletos,
acrobáticos e não linear as lisas e macias costas;
é o gozo gritado enrustido da dor.
desce a dor – corre e sacode na morte –
no fio linho do copo de uísque que vagueia
pisando acidamente nos pés dessa gente.
o mundo verde adormecera na tradição da contradição
entre risos escondidos e as quedas dos filetes
esguios na curta estrada –
linhas líquidas a caminhar – onde percorre
a esnobe ventania solitária
do dia de domingo.
o silêncio, filho do canto, rasteja caminhando
pelo labirinto desordenado das gramíneas jovens.
a jovem lúcida sobe e desce
no altar de seu semelhante,
curva-se diante no corpo derretido no tempo
do subterrâneo, mar de flores vivas.
ela rir passo a passo até a composição das rosas
abrir em seus dedos.
poucas velas pingam sobre esse veloz tempo
esverdeado, todos os dias chove diferentes
mares aqui.
do portão eu corro além do toque da música
decaída e diluída por essas vozes de fraco pensamento.
só pelas celas acesas e os faróis acesos
que escrevo esse poema abraçando
a próspera passagem dos olhos.
é nele e por ele que visto cubro e enrolo
o cetro invisível da misteriosa felicidade.
.
Rio
I
rios psíquicos de intentos dos javalis.
aves javanesas pousam em montes de mentes.
serras abruptas de crescer sorriem no interior do átimo.
perfuram,
as águas,
o termo caligráfico da ainda
indiluída
nuvem.
II
oliva, tâmara, costumes e abóbora
em cima da formosa gruta da coroa.
relógios fervilham no acender do ascender
dos vagas-
lumes
III
Rimbaud na Rodrigo de Freitas,
menino in rio de poemas-fontes.
óculos ilustre na Gávea reflete
as asas da Guanabara.
garça usurpadora de pedras em tecidos,
banha-se no hilário corredor.
IV
vicissitudes-virtudes das areias na orla,
pés-anfíbios te devoras.
rio psíquico, rio transumante, gorjeia
nas bordas dos portais universais
da poesia.
película infinita na beleza de janeiro…
… rio de caos germinantes.
.
Estilhaço da vez
.
Risca
Risca
Risca
Risca
Risca, vai,
Risca minha
Íris com cores
De tua beleza
Oh Árvore e
Árvores.
Árvores germinam do concreto.
Olhos diluídos do corpo atado
Às amarras do infinito
Caem como chuva torrencial.
Evapora o medo incrustado no
Ser.
O Universo, indeterminado,
Incompleto em mim, incompleto nelas,
Desdobrando-se nos cálidos espaços
Até choca-se, com força, com finitude,
Até incorporar-se em algo, num algo definível,
Esse algo, sem delongas, são elas, elas, as Árvores.
As Árvores abraçam-se atadas às existências.
.
Cícero
.
A quilha dourada defensiva do seu ego foi
Conquistada próxima à reluzente estrela-mãe de
Explosões nucleares, o sol deu-lhe a intensidade
Supra-irreal da sua existência, o sol é deus.
Seus globais nervosos olhos trêmulos
Procuram e observam as parábolas
De verde uniforme, os vales mineiros são obras
De arte arquitetada pelas mãos do sol, ou de deus,
O reflexo sol é congruente com o inflexo de deus.
Derramando-se sobre as colinas desorientadas, suas asas:
Cícero – corpo opaco – companheiro oscilante de
Seu próprio contorno ausente de luz, pinta e repinta com
Seu voo às colinas interioranas.
Por forma área, saco aéreo,
Pluma prateada, pluma escura,
Escuso na velocidade perfurante do vento
– vento postural que traz o visual predial –
Cícero ver seu passatempo predileto.
Desjejum.
Cícero, ele mesmo, em calmo pouso,
Indentário, mas nervoso e faminto pelas ratazanas
De Caratinga.
Raul V. Ávila de Agrela tem 19 anos e escreve desde os 14 anos. Cursa História na Universidade Federal do Ceará. Tem dois livros inéditos: “Dezesperamor” de poemas e “Eu mesmo eu e outras direções” de contos. E-mail: raul.agrela@hotmail.com

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