• Segunda-feira, 12 de Maio de 2025

Rimbaud na Rodrigo de Freitas



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Centopeia

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morre a centopeia:

frígida, anelídea

no voo, no beijo,

no chão. Minúscula

 

seus membros

– no campo, no céu –

abertos e eretos recebem os ventos

do norte convergidos pelos

ventos do sul

 

afunda a morta:

milésimo a minuto

 
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Poema em pé

 

unhas estranhas rasgam em círculos incompletos,

acrobáticos e não linear as lisas e macias costas;

é o gozo gritado enrustido da dor.

desce a dor – corre e sacode na morte –

no fio linho do copo de uísque que vagueia

pisando acidamente nos pés dessa gente.

 

o mundo verde adormecera na tradição da contradição

entre risos escondidos e as quedas dos filetes

esguios na curta estrada –

linhas líquidas a caminhar – onde percorre

a esnobe ventania solitária

do dia de domingo.

 

o silêncio, filho do canto, rasteja caminhando

pelo labirinto desordenado das gramíneas jovens.

a jovem lúcida sobe e desce

no altar de seu semelhante,

curva-se diante no corpo derretido no tempo

do subterrâneo, mar de flores vivas.

ela rir passo a passo até a composição das rosas

abrir em seus dedos.

 

poucas velas pingam sobre esse veloz tempo

esverdeado, todos os dias chove diferentes

mares aqui.

do portão eu corro além do toque da música

decaída e diluída por essas vozes de fraco pensamento.

 

só pelas celas acesas e os faróis acesos

que escrevo esse poema abraçando

a próspera  passagem dos olhos.

é nele e por ele que visto cubro e enrolo

o cetro invisível da misteriosa felicidade.

 

 

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Rio

 

I

rios psíquicos de intentos dos javalis.

aves javanesas pousam em montes de mentes.

serras abruptas de crescer sorriem no interior do átimo.

perfuram,

as águas,

o termo caligráfico da ainda

indiluída

nuvem.

 

II

oliva, tâmara, costumes e abóbora

em cima da formosa gruta da coroa.

relógios fervilham no acender do ascender

dos vagas-

lumes

 

III

Rimbaud na Rodrigo de Freitas,

menino in rio de poemas-fontes.

óculos ilustre na Gávea reflete

as asas da Guanabara.

garça usurpadora de pedras em tecidos,

banha-se no hilário corredor.

 

IV

vicissitudes-virtudes das areias na orla,

pés-anfíbios te devoras.

rio psíquico, rio transumante, gorjeia

nas bordas dos portais universais

da poesia.

película infinita na beleza de janeiro…

… rio de caos germinantes.

 

 

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Estilhaço da vez

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Risca

Risca

Risca

Risca

Risca, vai,

Risca minha

Íris com cores

De tua beleza

Oh Árvore e

Árvores.

 

Árvores germinam do concreto.

Olhos diluídos do corpo atado

Às amarras do infinito

Caem como chuva torrencial.

Evapora o medo incrustado no

Ser.

 

O Universo, indeterminado,

Incompleto em mim, incompleto nelas,

Desdobrando-se nos cálidos espaços

Até choca-se, com força, com finitude,

Até incorporar-se em algo, num algo definível,

Esse algo, sem delongas, são elas, elas, as Árvores.

 

As Árvores abraçam-se atadas às existências.

 

 

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Cícero

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A quilha dourada defensiva do seu ego foi

Conquistada próxima à reluzente estrela-mãe de

Explosões nucleares, o sol deu-lhe a intensidade

Supra-irreal da sua existência, o sol é deus.

 

Seus globais nervosos olhos trêmulos

Procuram e observam as parábolas

De verde uniforme, os vales mineiros são obras

De arte arquitetada pelas mãos do sol, ou de deus,

O reflexo sol é congruente com o  inflexo de deus.

 

Derramando-se sobre as colinas desorientadas, suas asas:

Cícero – corpo opaco – companheiro oscilante de

Seu próprio contorno ausente de luz, pinta e repinta com

Seu voo às colinas interioranas.

 

Por forma área, saco aéreo,

Pluma prateada, pluma escura,

Escuso na velocidade perfurante do vento

– vento postural que traz o visual predial –

Cícero ver seu passatempo predileto.

Desjejum.

Cícero, ele mesmo, em calmo pouso,

Indentário, mas nervoso e faminto pelas ratazanas

De Caratinga.

 

 

 

 

Raul V. Ávila de Agrela tem 19 anos e escreve desde os 14 anos. Cursa História na Universidade Federal do Ceará.  Tem dois livros inéditos: “Dezesperamor” de poemas e “Eu mesmo eu e outras direções” de contos. E-mail: raul.agrela@hotmail.com

 

 




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