9 biografitti de Luiz Roberto Guedes

Instantâneos poéticos fixando
lembranças remotas

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#emulsão
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meu pai enchendo a

colherona de óleo de

fígado de bacalhau:

“Você quer Scott

ou quer chicote?”

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#rádio
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o rádio ligado

o menino escondido

debaixo da mesa

chorando

“O que esse menino tem?”

“Essa novela é muito triste”

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#cisne
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era um cisne branco de louça

(um objeto oco) cheinho de

balas de coco

quem me deu foi a namorada

que meu tio nunca esqueceu

nem eu

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#noite
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noite fechada lá fora

barulho de gente no quintal

a mãe escuta em silêncio

a lâmpada amarela de medo

|vai pegar o revólver do teu pai|

|mãe, o pai não tem revólver|

|psiu|

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#herói
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muito antes que os

soldadinhos verdes

ganhassem nomes

o homenzinho de plástico

|vindo de algum país fantástico|

era o xodó do menino

um dia, o colosso minúsculo

caiu da janela e partiu uma perna

numa era sem cola mágica

“ô, pena, gente, o heroizim

de luizim quebrou a perna”

 .

#escorpião
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no barracão de madeira

|espaço de invenção|

ficavam as ferramentas

e outras coisas opacas

tinha uma caixa de cubos

|o Pequeno Construtor? |

pra brincar de fazer torres

e pra não mexer na foice

uma tarde, um escorpião

correu pela parede e se

escondeu bem detrás da

folhinha do sagrado coração

de jesus

 .
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#cemitério
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todas as casas da rua

confinavam com o muro

do cemitério de são miguel

o finado ti’timoti

padrinho do tio  zezito

era vizinho de fundos

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 .

#Brazilian_Army
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pistola           capacete

mochila         fuzil

colher            baioneta

marmita       cantil

tudo made in U.S.A.

|quer dizer últimas

sobras americanas|

meu tio zezito falou

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#realization
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o que me fode

é não ter tido a bota

de Patrulheiro Toddy

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Luiz Roberto Guedes  é poeta, escritor, publicitário e compositor. Publicou, entre outros,  O mamaluco voador  (2006), e  Alguém para amar no fim de semana  (2010). E-mail: poetburo@gmail.com