ReverBerrar


 

Turu Pensante

 

Edáfico horizonte, em sua camada mais profunda,

Um ser se entranha, contorce, retorcido,

Ser sem dignidade, na crosta afunda,

O seu couro embranquecido, frio e umedecido.

 

Um silvo profere, ao ver um sulco,

Uma oportunidade, pensaria se pensasse,

Mas há de haver luz, reflete o de tez de talco,

Assim que a cavidade do sulco terminasse.

 

Torce o verme cor de giz,

Raiar do sol, aí vou eu, se pensasse pensaria,

A ele não sabe, que sulcos nem sempre seguem uma diretriz,

 

Sulco sem caminho, sulco sem saída,

O que eu sou, sem direção ou motivação…

…de vida.

.

 

***

 

.

Faroleiro Urbano

 

Uma porta,

Toc-Toc, ô de casa,

Aberta, não… entreaberta,

Que malas pesadas, uma recepção rasa.

 

Sorrisos cróceos, sobressalentes a boca do deboche,

De quem recebe sem querer receber,

Me deixo conduzir, como um fantoche,

Com desdém geral, mas sem perceber.

 

Cheguei em casa… porto seguro?

Faróis podem ser portos seguros, sem ser lar,

Já que faroleiros lá permanecem só pra trabalhar.

 

Um hóspede em casa… na casa,

Liga o farol, estranho no ninho,

Sem subtendidos, vai trabalhar, porque aqui não terás carinho.

.

 

***

 

.
ReverBerrar

 

A penumbra se intensifica em interiores,

Paredes maciças bloqueiam as luzes e o ar,

Sem ar, sem sons, sem clamores,

Mas ainda há o que falar?

 

O que trouxe nessas malas velhas?

Carcomidas pelo de cá para lá?

O que de tão valioso guardas?

Se nada deixas aqui ou acolá?

 

Um reles infante, pedante e errante,

Tropeçando na penumbra, para a outros iluminar,

Dito em crueza nem Gorki ou Kafka ousariam relatar.

 

Ah, como as paredes também retêm,

O ódio, o rancor e o desdém,

De quem te vê como ninguém.

 

 

 

 

Nonato Mendes Júnior é analista ambiental, doutorando em sistemática, taxonomia animal e biodiversidade pelo Museu de Zoologia da USP. E-mail: eelectricus@yahoo.com.br




Comente o texto


*

Comente tambm via Facebook