……………………….[Mário Alex Rosa, Foto by autor]

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Esta série de Mário Alex Rosa, que poderia ser intitulada “Menu”, ou “À la carte”, com grande coerência temática e de fatura, aborda a fome geral do planeta e da poesia. Chega a ser inquietante como Mário se apropria com inteligência dos artefatos e utensílios do âmbito da alimentação e os subverte propondo questões inusitadas. “Ao abate”, com a tábua de cortar carne contendo dezenas de nomes de poetas, dá uma boa ideia do lugar dos poetas e da poesia na história, a persecução a que muitos são submetidos por “violarem” o bem dizer. Na parte superior, essa consideração agônica: “nasce o acaso a palavra o mundo o risco do pensamento não se reconhece nas folhas no talher na colher no prato nada”. Na parte inferior lemos: “entre nós” (com o duplo sentido de “nós”). “Minha carne” nos propõe o quanto há de sangue no poema, esquartejado no açougue do cotidiano. “Fonte do saber” e “Meus mantimentos” tematizam nossa eterna fome de linguagem; palavras são alimentos, sem elas morremos de inanição, com elas podemos fazer um “Tapoema”. E “Fome” sintetiza com primor a realidade de milhões, bilhões de seres humanos com suas marmitas miseráveis, onde sequer se encontra a carne negra, a “mais barata do mercado”. A fome é o grande problema humano, difícil pensar algo que seja mais importante para a vida e mais atual. O oswaldiano “Poema para a massa” e o “ABCdamassa” propõem a utopia de que a poesia pode interessar à maioria dos homens. Por fim, “ovo”, esse palíndromo, se abre para o voo. Há amargura, denúncia, desesperança, mas também há lirismo, aposta, projeção, outras políticas. Que venham novos cardápios, novas receitas. Que comer seja um direito universal.

Ronald Polito é poeta, ensaísta, tradutor e historiador.

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“ABCdamassa”

“Fome”

“Ao abate”

“Fonte do saber”

“Meus mantimentos”

“Minha carne”

“Ovo”

“Poema para massa”

“Tapoema”

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Mário Alex Rosa é autor dos livros: ABC futebol clube (infantil), Ed. Aletria, 2015; Ouro Preto – poemas, Ed. Scriptum, 2012; Via Férrea, Ed. Cosac Naify, 2013; Casa, Impressões de Minas, 2020; Cosmonauta (infantil), Ed. Aletria, 2022; Cartas ao mar, Ed. Scriptum, 2023; e Formigas (infantil), Ed. Impressões de Minas, 2024. Plaquetes: Fresta, Espectro Editorial, 2009; Prelúdio para o mar, Espectro Editorial, 2018; Poemas Pitorescos, Galileu Edições, 2020; Diário de casa, Galileu Edições, 2021; e Doce Poema Doce, Ed. Impressões de Minas, 2023. É Artista visual com diversas exposições.