Pneus a cantar
Poemas do livro “Pneus a cantar”:
.
noite
nenhuma lua
no céu
montado
na Harley Davidson
segue
.
devora
quilômetros
percorre
a vida dele na estrada
por entre a cadeia
de montanhas
guias as minúcias
do passado
a cada instante, uma
nova curva
conduz à lembrança
antigos pedaços de asfalto
pelo retrovisor, assiste
o replay de algumas
lombadas vencidas
no caminho
o motor gira
dirige à memória
pequenas
enormes ultrapassagens
a moto entra na rotatória
o pensamento dele
circula, circula acelerado
debaixo do capacete
a moto dobra à direita
ele escolhe
umas das inúmeras
possibilidades que lhe vem
deixa a rotatória para trás
acelera ainda mais
sozinho, continua
a viagem dele
.
solidão
às seis
da manhã
estrada vazia
lembranças
em alta velocidade
um mar
de avisos
insinuando
pare
muitas dúvidas
amor
não indo
embora
caminho sem
volta
desejo
atravessando
abrupto
.
jogar sinuca
requer paciência
uma mesa verde
de tecido bem coberto
um bom taco
que não seja torto
concentração para mirar
a bola batendo na outra
que vai
para a caçapa
requer
ciência das tabelas
dos efeitos
para
sair das situações difíceis
a companhia
dos amigos
a torcida das mulheres
um bar
com muita bebida
homens
que não se importem
de aqui
acolá
serem
suicidas
.
o sol
é a metade
de uma grande
bola vermelha
no horizonte
da estrada
sigo
de óculos
escuros
com a minha
Harley-Davidson
ao encontro dele
vestido numa
calça de couro
de cor preta
sem camisa
com a jaqueta
marrom-escuro
calço botas
que garantem
a pisada
na cabeça
o capacete
com asas
de abutre
.
Ivaldo Ribeiro Filho é piauiense de nascimento e, desde os 3 anos, mora no Ceará. É poeta e contista. Ama tanto comer peixe frito na praia do futuro, em Fortaleza, quanto devorar um prato de Maria Isabel com pegado, em Teresina. Já viu o açude de Orós a sangrar; Já desceu o rio Acaraú, saiu pela foz e mergulhou no mar; já viu o naturismo reinar em Canoa Quebrada; já dormiu com medo da Cruviana lhe pegar, em Jaicós; já comprou carne de sol no meio das ruas de Campo Maior; já esperou o vento Aracati vir do Aracati para esfriá-lo em Jaguaruana; Já jogou bola na praça do Ò, em campos Sales; é natural da cidade de Picos, e por isso mesmo tem altos e baixos. Publicou O chão visitado, No intuito de nenhuma via e Cruviana e Quebranto. E-mail: irfescritor@gmail.com
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