Pede-se passagem


 

[Em Florianópolis ônibus são queimados em praias e ruas; pessoas estranhas ou desengonçadas caminham pelas calçadas…]

 

,

– um chinelo de borracha preta

amanhece sozinho no meio

da estrada deserta como um

pássaro deitado que erguesse

aos poucos as asinhas quando o sol

subitamente surge no horizonte

 

– na esquina ao meio-dia o anão

parece inchar sob o sol que tudo dilata

e a áspera pele vermelha do seu rosto

revela desconforto ante o sinal

que não libera logo uma passagem

entre os caminhões e os carros

que crescem ali

 

– um barulho tenso no terraço

como se um galho duro estivesse

sendo fortemente pressionado

para baixo ou para o lado

no entanto apenas uma borboleta

amarela se move livremente ao sol

entre os vasos abundantes

 

– no ponto de ônibus uma mulher

solitária arregaça a manga da blusa

branca como se preparando

para dar um soco em alguém

que já vai chegar

 

 

(Este poema integra o livro inédito Viagens e passeios às ilhas.)

 

 

 

 

 

.

Sérgio Medeiros é escritor e tradutor. Publicou, entre outros livros, O choro da aranha etc. (7Letras, 2013), coletânea de poemas, e O desencontro dos canibais (Iluminuras, 2013), coletânea de contos infantojuvenis. E-mail: panambi@matrix.com.br

 




Comente o texto


*

Comente tambm via Facebook