GUERNUNCA


………[[Pequeno MundoAcrílico sobre painel-50X50cm-2012 – Nestor Lampros]

 

 

.

1

No retângulo, o fabuloso cortejo

de feridas cinzas indefensáveis; estas

nos fitam. Meus andrajos coabitam em meus olhos

………….. em pânico.

Confluir no espaço o amadurecer

do sangue seco e agônico do tempo resumido

arvora-se na noite vaga e cruel

suplicante

……………pelo dia esquecido

na nudez dos corpos apodrecidos.

Em seu destino resumido, cavalga o retângulo e seu

retábulo, no seu contínuo uso diário em exposição

o símbolo da delicadeza jaz morto.

 

O corpo rude do guerreiro sem o sol

que nos faz iluminados e recortados

jaz. no solo que não se faz poroso, não

o assimila.  Não o explica,  se livra

e nos livrará nesse olhar vazio,

–corpo quebrantado pelas dúvidas–

……todo ele partido pelas estacadas do coração extraído.

Distraindo – nos pelo olhar

que se funde ao confuso dom de sermos

quase irmãos?

………………Pois nascemos da fome, sua espera,

sua noite, numa morte configurada pela magreza das forças,

despojadas das certezas absolutas– na palavra que arde arte.

 

Arte: dialoga no fundo das poças,

na maré causada pela refluência das marés inexistentes,

causadas pela mesma consistência do

sangue em seu estado cinza.

…………Aparências desiguais, transfusões

……..em comandos seduzidos

…..pelos icônicos homens atômicos

distribuídos pelos olhos, seus vários olhares, sob a pele

…………do espanto:

– estes nos olham sob seu aparato

fosco, nudez do pranto e correndo sobre

estas patas de cavalo gastos por voar.

Aço pendente em cascos rápidos, em espaços

………….novos e antigos no mesmo jogo

–poderemos vencer e ser  a mercadoria

vivente   a sermos

……violentados e

ausentes, nas flechadas que nutrem

…….as ciências?

 

A arte de naufragarmos

retoca o retângulo amargo do medo,

tende sua rede a ser o sereno dessa noite chuvosa,

madrugada e seus frutos caindo sobre a cidade sobrepesada.

Madrugada – o alvo silente desencanta,

como alvo inaugural,

explodindo no seu templo

nas explosões que não

……………………………dormem

cumpre serem

botina e o exercício dos milicos

em seus olhos comuns

fitando nas notas borrões, tintas, fetos, ossos e a carne

…………………………na álgebra

…………………………da finalidade em seco,

………surdo

………mudo

desse fim de mundo

chamando e sabendo sempre nossos nomes.

 

2

O retrato da mãe, tantas mães

têm seus retratos

esquecidos, menos

por aqueles que notam

os que nelas em nós morrem.

 

Retratos embrutecidos,

retratos de alma e corpos

nos braços

sempre à sua espera movediça.

 

Espera, nada se cumpre

a discórdia daqueles,

daqueles que disparam  a bala, a bomba

em seus blocos e anotações curiosos…

 

Ou na notícia evolam,

somem sem carícias,

mortas na memória,

no rogo capaz de vidas

– na morte e distraída,

sem  de repentes ou talvez.

 

As portas foram-se

naturalmente comportam

janelas, mas é o grito

que abre e fecha

as bocas, as fábricas;

é o grito que destampa

a noite feroz em guerras.

 

3

Touros, bisões, força  bruta,

refazendo suas visões noturnas

passeando pelas televisões, hoje, e nunca.

 

Óbolos conquistados nos labirintos.

E seu fim acompanha os lamentos diagonais.

Abocanha esta estranhada estrutura,

estatura do medo de todos nós,

contornado pelo traço negro do ódio,

vitrificado pelo gelo cinza e prateado,

desses que nasceram no lamento.

 

Visões à prova de vida,

renderão à prisão

a saída em sigilo, cujo

centro  emito  a sua proteção,

e estava escondido na mão

do seu autor – no significado do escorpião,

em cada um,

na destruição e reconstrução

de tantos outros autores que por princípio

revelaram-se e revelam-se,

nas circunstâncias,

contraditas:

– Plutão.

 

Ancestrais dessa tristeza, chamem

a chama extinta

e negativada,

do seio já sem leite,

O menino flácido

pelo torpor da densidade

da morte.

 

Sua mãe chorando

em tuas patas de touro

pisando os dias felizes

que mais não há.

 

Nesta noite recordamos

o  corpo  teso de cavalo, ampulheta

no solo obeso de mais corpos.

Sem qualquer cavaleiro.

 

 

4

Os hinos cantados

tornam-se dor no

interior dos cansaços.

Hinos, previsões das cortinas exaustas,

luzes sumindo no tempo

dos capuzes e máscaras mortuárias;

hinos rompantes de outros tempos;

hinos mostrando

a fusão dos grandes em esmagar,

sem armas, os pequenos armados

de seus cantos amadores.

De suas vozes

sigam,  persigam novamente nesta noite;

estes, estas vozes

caminhando ao combinar suas vozes

e nascendo no chão ausente, cavado por explosões

o exílio dentro das bocas

cortando calor e amor e dor,

no escarro sorvido sem saber anunciar

ao serem

donos

dessas vozes;

vozes

corroendo

e destilando o amor,

no ódio rudimentar que tenta

o extermínio

de todas

as vozes.

 

5

A mulher recai

sempre

no

espaço:   no ar,

por segundos

ou milênios, tenta

sangrar– nada poderá fazer

ao tentar desatar-se.

 

Seu efeito, sua causa usa

na forma intensa

de ser :  mulher, mãe, irmã,

alma, noite,  ocasião, ocaso também,

da manhã – na parte onde

se escondem as

armas.

O amor louco que tivera

não interessará a mais ninguém…

 

Na noite em sua fuga

rumo à morte,

condenada, no edifício,

–grita:

somente pode gritar,

que seu grito não chegará a

nenhum lugar,

lugar nenhum,

nenhum lugar.

Que seu grito sumirá

no infinito.

E seu grito terá

conotações de noites insones,

de mulher aflita, cozida

pela fome

da noite em sua ilha

de filhos ausentes.

 

Sem quem a escute,

seu grito seguirá

no vazio nu,

sem direções,

sem Norte,

sem quem soubesse,

o que se grita.

 

E negará seu grito

sem corpo possível,

sem a fórmula repensada.

 

Gritará, e gritará

–e gritará,

–e gritaremos.

 

6

Lâmpadas, olhar, veem na

rua a claridade.

Luz ensimesmada e artificial.

Arde o dia na sua intensa e madura inveja,

na sombra da lâmpada da noite,

desta noite.

 

O olho, essa lâmpada, cumprindo

estruturas e pirâmides,

tem a fosca pretensão

de ser na sua imprecisão,

de ser nada na presença neste palco,

descortinando,

pois,

o lume de  sua

ilusão.

 

Os olhos doem, ao se

afastarem

e mostrando

demasiada realidade, e

norteando como ao preenchimento

de outras formas,

o que corroem o coração.

 

Tornemos a contemplar

este olho – não nos vê,  apenas,

escapa por entre seus brilhos

a fosforescência dos ritos humanos.

Na completa exibição

dos conflitos em sua exata noite.

 

Destaca e faz-se norma absoluta e regra dessa guerra,

em sua palavra dita pela imagem,

redita pelo cinza,

transfundida por nada: –o medo.

 

A barbárie

desse segredo revela-se,

na noite

desse retângulo,

exato, cinzento, miraculosos,

retalhado;

–nestes cortes e o espetáculo

do ódio à vida,

do medo à vida,

é quase um discípulo

em que se desprendem

e pedem

à mensagem

sua imensidade

e dissolução.

 

Repetidas, repetidas, repetidas, ao

despistar a mesmíssima repetição.

 

7

Os homens não brigaram

pela noite,

venderão esta pelo

reduzido e fugaz

rumor do inimigo.

 

Nem querem o inimigo,

nem quer que este se afigure

em:

AMOR, ABRIGO, TERNURA, SONHO

– segredos

infinitos, sem nascerem do dolo;

têm estes,

qualquer um à mão estes

segredos…

 

Nenhum dono os contêm

–exclusivos.

 

Rompem, assim, nestas

cadeias, nesta

noite voraz

margeando outras,

e outros carrascos –carrascos novos–no  coração embrutecido, o mundo

contumaz, absurdo desse dilúvio

desse sangue

cauterizado pela violência

e, soturno, na imagem.

 

E assimilando pelos ódios

a morte

e sua indústria iridescente,

que nasce

e renascerá sobre si.

 

Florescerá, ainda hoje,  na noite

como densa   e escura

floresta

 

como

mistérios

salgados,

nus nas paredes,

nuas em paz

em meio a todas as guerras.

 

 

 

 

 

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Nestor Lampros é autor do livro de poemas Roupagem Leve, Nestor Lampros é arte-educador, escritor, artista gráfico, quadrinista e artista plástico. Em 2002 representou Atibaia no Mapa Cultural Paulista, onde em 2004 obteve o segundo lugar. Em 2008, novamente, chegou à final. Participou de diversas exposições, como artista plástico. Criou ilustrações para livros e revistas em editoras, tais como Ática e a Editora Três. É membro-fundador da Academia Literária Atibaiense (ALA). É formado em Letras pela FESB, de Bragança Paulista (2005). É membro do coletivo literário QUATATI. E-mail: nestorisejima@gmail.com

 




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