Corvos em Van Gogh
o raio
.
o raio
é uma linha
que liga
o centro à superfície
o raio
é uma linha
que liga
a nuvem à terra
o raio
é uma linha
que liga
o sol aos olhos
uma linha
é o que liga
dois pontos
é, portanto, um segmento
não infinito
que une o infinito
entre
dois pontos
paralelepípedos
.
os paralelepípedos aparecem apenas nas fotografias
e na cicatriz que tenho daquele gol perdido
os semi paralelos paralelepípedos
trôpegos
desaceleravam o caminho
mas o progresso é um rolo compressor acariciando o asfalto quente
e na superfície lisa
que faz com que a bola
deslize
as rodas giram
abutre
.
o abutre abre
o corpo
pelo bico
separa o que permanece
o que resta
e nesta frágil fresta
frequenta o desejo da asa pela altura
cortina de fumaça
.
a brutalidade do jasmim
de longe invade
a minha casa
um espaço que se expande em mim
busco fôlego
trôpego oxigênio
mas só sinto teu cheiro
pulsando no esôfago
teu perfume me para
me fura, me espera
com força fecho
a janela
e me perco a fumar
entrelaço
o que nos une
é a velocidade
com que mudamos
não que tudo
é o mesmo
nem nós seguimos
mas há sincronia no passo
e mãos dadas
as minhas e as tuas
criando calos
juntas
e assim se moldam
acolhendo melhor
as rugas e as rusgas
que acumulam entre os dedos
se ajeitando
começo
do ponto onde meço:
o momento em que me aceitas
é meu recomeço
pó de estrela
big bang todo em átomo
ínfimo espalha infinito
prisma contém íntimos
significante
rompe com a roupa
nua vira pura metáfora
mostra seu reflexo
carbono
compro pó-grafite
panela de pressão e nela
explodo diamantes
translúcido
da água ao absinto
num sucinto alvo suspiro
lava alma que sinto
a luz, sina
traços de van gogh
quando olho a noite no espelho
áspera luz, rogo
.
Rodrigo Luiz Pakulski Vianna nasce em uma noite de inverno na Porto Alegre de 1981. Profissionalmente, torna-se jornalista, revisor e editor. Exerce a poesia e é seleto com o que soa nos fones de ouvido. Reside em São Paulo desde 2012. Não há saudade do minuano; há, porém, do beira-rio. E-mail: subversos@gmail.com
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