A noite continua num gole de cerveja


 

 

A despedida do profeta depois de vomitar palavras de amor

 

Os arcanjos choravam pétalas de falsos

…………………………………………………..[girassóis

Enegrecidos pela fuligem oriunda de um

Jovem bêbado que vomitava palavras de amor

Cenas de uma profecia celta,

Gravada nos tijolos de chaminés de fast food

……………………………..[estadunidense, de 1970

Os hieróglifos tingiram as masmorras

…………………………………………………..[televisivas

Incrustadas na testa do bestial

Inseto Gregor Samsa

Os abutres blasfemam e confabulam frases

………………………………………………………….[místicas

Nas ruas estreitas do centro

Mártires bêbados trespassam os faróis

Dos perdidos veículos

O cheiro elevava o enxofre das petrificadas

Garrafas, do gramado da Praça da Sé

A coxa grossa e trôpega, caía na escusa

Boate do Vale do Anhangabaú

Sombras deliram LSD, ao som de

……………………………………………. [Paulo Sérgio:

“Meu filho, Deus que lhe proteja e onde quer que

[esteja, eu rezo por você”

Logo no Arouche… nas noites de sexo, de

…………………………………………………. [Baco

A pútrida verdade desvia a conduta dos

…………………………………………. [botequins

Impedindo as flâmulas de propagar

Das abelhas, seu néctar

Nas caixolas dos temulentos do centro da

…………………………………………… [cidade.

 

 

.

Sharivan

 

Meu sonho infanto-juvenil foi o de

…………………………. [encrostar-me num bordel

Enquanto peles engorduradas

Gritavam íngremes resíduos de

………………………………………….[coxas suadas

Meu ressequido corpo paralisava

Enquanto a bituca de Marlboro era

Escorraçada no patético e frio cinzeiro

…………………………………………… [de porcelana

 

Engasguei-me nas bolhas poluídas de álcool

……………………….[de um copo, que ontem fora

……………………….[extrato de tomate, trincado

Encardido com um dedo de rum venezuelano

Eu hipnotizado, em frente a TV,

…………………………………[Assistindo Sharivan

A inocência já perdida e eu não sabia

 

 

.

Eu poeta

 

Tenho que escrever ao menos duas poesias por

……………………………………………………………….[dia,

Até fevereiro, quando meu livro de

……………………………[coletâneas será publicado

Poderei dizer que sou poeta,

Só assim declararei um sorriso falso

 

Vou a algum bar,

Pedirei uma cachaça de alambique

Na jukebox, uma seleção de José Augusto

 

Nesta data, poderei dizer que sou poeta

E morrer feliz, mesmo que as dez cópias

Não sejam lidas nem por meus filhos

 

Na lápide de meu túmulo estará escrito:

“aqui jaz o poeta que viveu para criar 60 poemas

……………………………………..[que não serão lidos”

 

.

A noite continua num gole de cerveja

 

Espasmos de lucidez, flashs e gargalhadas

No balcão braços sucumbem,

Mentes vomitam

Cabeças extraviam o ar denso das madrugadas,

Destilando amarguras

O cheiro de suor escorregadio inflama náuseas

 

Risada estridente, bocarras desnudas de ódio

Lá fora, o poeta grita versos de amor,

Enquanto lágrimas reluzem as faces destituídas

……………………………………………….[de vontades

A poesia não é expelida no escritório

Ela brota dos olhos sôfregos de almas

……………………………………[moribundas, esquizofrênicas

 

Sua doença é a música, sua cura é o malte

Luzes caem derretidas dos castiçais divinos

A sonoridade das ruas amaldiçoa as vísceras

Sua cama é o conforto do genocídio,

Cada segundo, uma partícula de silêncio é

…………………………………………………….[executada

Pelos gritos incólumes da alma

 

Ah, se Raskólnikov soubera, estaria a confabular

Com Bukowski na Rua Augusta

Recitando prostíbulos e desilusões diabólicas

……………………[entre garrafas de cerveja e de vodca

 

 

.

sintomas de um querer inebriante

 

é viagem de última hora
em ônibus clandestino
é comprar boneca barbie falsificada
para as meninas do orfanato perto do trabalho
é dirigir olhando para as mensagens do celular
xingando o guarda que vê a imprudência e multa
é rir com o tédio por dentro
quando entra cliente e você nem deveria se levantar
naquela manhã anêmica
é apostar na loteria com aqueles 50 reais
que completam a condução do mês

virar o copo
a espuma da cerveja dissolvendo na garganta
sorrir à uma liberdade falsa
encontrada no olhar da garçonete
esquecer-se sóbrio
fica-se desorientado: vodca
o choro ao olhar-se só
no banheiro, pela manhã
amar amarga
a rotina transborda bilhetes
desiludidos de adeus
daquele amor que não voltará
que nunca foi amor

 

 

 

 

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Marcelo Gaspar de Souza é formado no curso Informática para Gestão de Negócios, da Fatec SP. Nascido no sopé da Chapada Diamantina – BA, reside na cidade de São Paulo há 31 anos. Prepara o livro  A Noite Continua Num Gole de Cerveja (a ser lançado pela editora Multifoco, em 2017). Participou de algumas antologias e administra os blogs: https://klorca.blogspot.com.br/https://euklorca.tumblr.com/ E-mail: marcelo.gaspar.desouza@gmail.com

 




Comentários (2 comentários)

  1. Amanda., Seus poemas são muitos bons. Da pra sentir que vc é uma alma presa a uma vida que não condiz com oq vc sonhou.
    10 julho, 2017 as 15:24
  2. daniel santos, Muito bom meu caro, gostei muito dos poemas
    10 julho, 2017 as 18:42

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