Toalhinhas bordadas


 

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cauções
.
abrir os olhos
abrir a todas as manhãs
seguir a tempestade fluxo
perder e ganhar peso ao longo do dia
saber que não há velas em casa
ao fim da tempestade
início de outra
ter do finzinho dum todo horizonte estendido
frágil
no fundo da caneca de chá
ser
menos forte quando as conversas
tentam converter ao coração
perguntar-se
como uma estrela bordada na toalha do banheiro
como
ela, do mesmo tamanho da outra e da lua
e pensar em átomos
nessas nossas mãos
saber como uma folha caída está
interligada ao que quero dizer-te
cada galho da velha figueira
batendo à janela
quando na outra
um jovem americano diz:
You should sing. You should sing and you should sing right now!

 

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uma cobiça

quero estar lá
com os antigos
que falam em diferentes pausas
tão naturais quanto cavernosas
atalhos de pesares
violas em voz alta
países distantes dos dentes
aos fundos de tacinhas
ou de canecões
estes antigos
estes velhos
que fazem o retorno dum caminho marítimo
num mapa perdido
nalgum lugar da íris
os velhos
e estão todos de mãos dadas
e em silêncio absoluto
tremem ao limite de seus brancos cílios.
.

corriqueiro notar

e quarado
e escuro
diácono e delícia
é negro
como um homem negro
espécie de deus
doutras fomes
um tarado de nascenças agudas
e é gelo e é prumo de gelo
e deságua
sendo gelo
degela e quebra
teria nome de faca
e de marretada na cabeça do bode
e é maquina de torturas e guloseimas e mija
sim
mija pra tudo que é lado
marca o território macho
de cheiro de cedro purulento
é trilha e barragem e desconstrução
é gasto e regozija das gasturas, feito cão
é rastejante feito cobra e se esconde quando quer
quando não
é meu nome. é só um nome, paixão.

 

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estirada nada
.
tudo isso?
abrir armários onde
o molde duma vida aos fungos
isso tanto
papéis em branco
curvos, úmidos
cartas não mandadas
postais esmigalhando cidades
fotos de brisas sobre as pessoas nas fotos
fotos apenas
brisas amenas
umas erradas
um pedaço de corrimão
meia folha seca junto ao pé
subtítulos, subtítulos do que
abrir uma gaveta
sem hesitação
tomá-la por moscas vagas
a dizerem de aparições
sobre a linha escusa dum outro horizonte
de sachês e paus de canela
toalhinhas bordadas dum mar que já vai-se
amarelando
vai
com restos.
tudo isso e tanto.
abrir armários. abrir-se a gaveta. abrir aos olhos e.

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ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – XI

Na bruma
embebidas do nada
as divisórias e as portas
as rochas pichadas de folhas
o teto das venetas de Deus
adentro o caminho de romãzeiras
nossas antigas vagas.
Na bruma, a cidade tão longe
tremendo ao vinho
o vinho à toalha
ditando de estrelas traiçoeiras
que perdem lugar a uma romã aberta, ao cheiro aberto da romã do dia inda sob a vaga névoa da manhãzinha nas sementes de águas róseas e tão caudalosas, meu bem.
Meu bem dentro da bruma, meu bem, meu bem.


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ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – X

quase escondida
na palavra que quer do teu gesto
a tua charada
fico líquida
quase que goteira e gota
ou todas elas
as gotas
sim, goteira de todas as gotas
e quero tanto dizer
gota em gota
da calmaria
de quando isso de me esconder
repetida
na palavra da paisagem para qual aponta
teu queixo profícuo
a tua charada sobre a mesa sem razão
que não é do vazio da casa
já entre os teus dedos
tuas migalhas de gestos
sobre o papel em extinção
a altivez do teu queixo
quase escondido
na palavra de boca chamada
PROCURAÇÃO.

 

 

 

 

 

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Carla Diacov morou em Londrina e, agora, em São Bernardo. Já fez teatro e nele se desfez. Um de seus blogues: http://poesiafalsidadeideologica.blogspot.com.br/ E-mail: carladiacov@gmail.com




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