Sr. Bergier e outras Histórias


A Feliz Companhia do Sr. Bergier e outras Histórias


…….[Uma das capas do livro feitas à mão]

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Anderson Fonseca, escritor e consultor editorial, é um escritor discreto, competente e talentoso. Escreveu um livro que é uma pequena obra-prima que será rechaçada como tal, apesar de sua publicação estar acertada pela editora Oitava Rima e o tempo confirmar essa suspeita através das sucessivas leituras do pequeno livro de fábulas sobre generais que este escritor talentoso, radicado no Ceará, cometeu sem a crença definitiva de que escrevia um pequeno clássico do conto contemporâneo. Quem viver, verá.

O radar dos editores detectou Anderson Fonseca. Beatriz Bajo, poetisa e editora da Rubra Cartoneira, tratou de catá-lo e exigir dele um livro para integrar o seu catálogo. O escritor que compartilha um sobrenome famoso com outro ourives da arte da pequena narrativa sacou de sua mochila o modesto maço de folhas de Sr. Bergier e outras histórias. Modesto é um adjetivo para qualificar apenas o número de folhas do original: trinta. Porque o conteúdo, imodesto, acrescenta ao leitor inúmeras surpresas e malabarismos. A prosa de invenção de Anderson Fonseca possui elegância, limpidez e uma economia de recursos formidável necessária ao gênero cultivado.

O conto-título trata de uma obsessão do autor: o duplo. Um enredo intrincado promete ao leitor uma leitura que dialoga com a melhor tradição de narrativas de mesma natureza; O presente de Evaristo é a retomada da alegoria e os corvos representam o retrato psíquico do narrador; O Bibliotecário, narrativa rara, problematiza o conhecimento e sua infinitude e nossa capacidade para gerenciá-lo ou atingi-lo, sempre menor; A Máquina pode ser comparada com dois outros contos rivais – um de Franz Kafka e outro Adolfo Bioy Casares – sem mostrar sinal de palidez em sua força e criatividade. E o labirinto da informação e a desconexidade do mundo contemporâneo para administrá-la pode ser verificada em The New York Times e Babel.

A editora Rubra Cartoneira acertou ao mirar o escritor Anderson Fonseca que pratica uma literatura trans/gênero, porque não se pode limitá-la a um campo especifico, porque dialoga com outros ramos da ficção como a cientifica, por exemplo, em A Máquina sem tornar o seu material narrativo vítima dos artifícios facilitadores desse outro modo de narrar. Beatriz Bajo, com a publicação de Sr. Bergier e outras histórias, contribui com o espectro vitorioso de uma ficção nascida do estudo, da observação e da diligência com que Anderson Fonseca, com sua discrição, pratica. Se no livro dos generais cometeu em quase todas as narrativas obras-primas que uniam política e poética, aqui produz excelência em pelo menos quatro narrativas: A Máquina, Babel, Loja 203 e A Pétala. Ah, não falei sobre essas narrativas? Foi para deixar o leitor com água na boca e com vontade de ter também o seu Sr. Bergier, uma feliz companhia.

 

 

 

 

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Mariel Reis é ensaísta e escritor. Escreve no blog Cativeiro Amoroso e Doméstico (www.cativeiroamoroedomestico.blogspot.co). É autor de Vida Cachorra (contos), Editora Usina de Letras e A Arte de Afinar o Silêncio (contos), Editora Ponteio. E-mail: marielreis@ig.com.br




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