O bairro das horas uivantes
O BAIRRO DAS HORAS UIVANTES
Um anno interminavel foi-se embora,
saudades sem deixar. Sacudo o pó
do tempo nas sandalias e ao brechó
separo mais um livro, ou jogo fora.
As noites silenciam, quasi, agora
que todos viajaram e estou só.
Ah, como dum cachorro sinto dó!
Escuto o seu chamado: ah, como chora!
Ao longe uivando, ouvil-o só peora
a minha solidão e apperta o nó
que trago na garganta. Nem totó
mimoso, nem rueiro, é o cão da aurora.
No longo feriadão, sente a demora
dos donos, num quintal qualquer, mas, oh,
quizera estar com elle, que xodó
me passa a ser! E eu choro, sem ter hora…
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Glauco Mattoso (paulistano de 1951) é poeta, ficcionista e ensaísta, autor de mais de trinta títulos, entre os quais as antologias “VÍCIOS PERVERSOS: CONTOS ACONTECIDOS” e “POESIA DIGESTA: 1974-2004″, além dos romances “MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR: AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS” e “A PLANTA DA DONZELA”. E-mail: mattosog@gmail.com
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