Nékuia – um diálogo com os mortos


 

Odisseu precisa retornar a Ítaca, sua cidade natal, mas não sabe se conseguirá. A feiticeira Circe o aconselha a consultar Tirésias, que se encontra no mundo dos mortos, o Hades, e lhe ensina o ritual para invocar o falecido adivinho. Esse ritual, nékuia, é relatado por Homero no Canto XI da Odisseia, dando a uma das maiores aflições de um ser humano, saber o seu futuro, a forma literária que atravessou séculos.

Além da tradução do canto – uma recriação estética e rítmica do original –, apresentado aqui em versão bilíngue, o poeta e helenista Marcelo Tápia faz uma jornada fascinante pelas mais conhecidas e reconhecidas interpretações e traduções do trecho, e uma bela reflexão sobre o ato de traduzir.

Diversamente da conturbada jornada do herói grego, o autor alia a fluência agradável à erudição elucidativa e concisa para apresentar ao leitor uma nova invocação do gênio do povo que concebeu a obra clássica – afinal “a atualidade não pode prescindir dos mundos que a antecederam”.

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NÉKUIA – UM DIÁLOGO COM OS MORTOS

Tradução do Canto XI da Odisseia de Homero, seguida de estudos sobre tradução poética
De Marcelo Tápia
Edição bilíngue
Editora Perspectiva

 

SUMÁRIO

Apresentação – Jaa Torrano
Introdução a um Mundo Estranho
“Odisseia”, Canto XI: Uma Recriação
Sobre a Recriação do Canto XI da “Odisseia”
Tradução, Metáfora e Verdade: O Descenso de Odisseu ao Hades Como Referência Metafórica Para a Tradução Poética
Referências
Anexo: Iliadeia: Um Périplo da “Ilíada” Traduzida no Brasil (Ensaio Ficcional)

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TRECHO DA TRADUÇÃO

Odisseia, Canto XI, vv. 582-600
por Marcelo Tápia

582 E vi Tântalo, sim, com suas dores atrozes,
de pé na lagoa; a água se aproximava do queixo,
e ele em pé, sedento, não conseguia bebê-la:
585 quantas vezes o velho, ansiando beber, se curvava,
tantas vezes a água sumia, engolida,
e a terra negra surgia-lhe aos pés; o nume a secava.
Árvores de altas copas vertiam frutas do topo,
pereiras e romãzeiras, macieiras de esplêndidos frutos,
590 doces figueiras e oliveiras viçosas;
mas toda vez que o velho se erguia a fim de tocá-las,
o vento as lançava para as nuvens sombrias.
E vi Sísifo, sim, com suas dores atrozes,
alçando a portentosa pedra com ambos os braços.
595 Nas mãos e nos pés apoiado, ele empurrava
a pedra encosta acima; mas quando ia
passar pelo cimo, a força se revertia;
e, então, rolava de volta ao solo a pedra insolente.
Erguendo-se, ele de novo a empurrava, com muito esforço;
600 suor lhe escorria dos membros, e erguia-se pó da cabeça.

 

 

 

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Marcelo Tápia, poeta, ensaísta e tradutor, é graduado em Letras (português e grego) e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP, onde também realizou pós-doutorado em Letras Clássicas. É professor do Programa de Pós-Graduação em Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA), da mesma Universidade. Publicou, entre outros, os livros Refusões – poesia 2017-1982 (Perspectiva, 2017) e Týkhe – Uma quarentena de poemas (Olavobrás / Dobradura, 2020). Coorganizador do livro Haroldo de Campos – Transcriação (ed. Perspectiva), traduziu, além de outras obras, o romance Os passos perdidos, de Alejo Carpentier (Martins Fontes). É, atualmente, diretor da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, formada por Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Casa Guilherme de Almeida e Casa Mário de Andrade, instituições da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.




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