INDRISOS


 

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El centauro se asoma por la ventana

y la mujer dormida está hablando en sueños.

Llora y ríe, porque un centauro la rapta.

 

Cabalga en su sueño la mujer dormida,

cabalga en su sueño y es cabalgada.

En la selva, nadie la oye cuando chilla.

 

Llora y ríe como nunca en su vigilia.

 

El centauro la mira… por la ventana.

 

 

 

O centauro se assoma à janela

e a mulher adormecida está falando em sonhos.

Chora e ri, porque um centauro a rapta.

 

Cavalga em seus sonhos a mulher adormecida,

Cavalga em seus sonhos, e é cavalgada.

Na selva, ninguém a escuta quando grita.

 

Chora e ri como nunca em sua vigília.

 

O centauro a observa… pela janela.

 

 

 

HISTORIA NATURAL

 

Iluminó los océanos la célula;

pisó la tierra una pata de anfibio;

comió el reptil reptil, y más reptil.

 

Mamó, después del hielo, el mamífero;

se enderezó la espina del primate;

vio que era bueno matar el homínido.

 

Se quemó un árbol, y pensó el hombre.

 

Gimió al pensar, pues añoró ser célula.

 

 

HISTÓRIA NATURAL

 

Iluminou os oceanos a célula;

pisou a terra uma pata de anfíbio;

comeu o réptil réptil, e mais réptil.

 

Mamou, depois do gelo, o mamífero;

endireitou-se a espinha do primata;

viu que era bom matar o hominídeo.

 

Queimou-se uma árvore e pensou o homem.

 

Gemeu ao pensar, quis voltar a ser célula.

 

 

 

RETRATO DE INTERIOR EN VERSO: MUJER DESNUDA APOYADA EN LA VENTANA

 

Puesto que no sabrían mis manos retratarte

con los pinceles húmedos y su policromía

habré de usar palabras para inmortalizarte:

 

el sol posee tus senos, tus nalgas la penumbra,

eres la media luna que en la mitad del día

de fuera a adentro tienta, de dentro a afuera alumbra.

 

Así de hermosa eres la invocación del arte:

 

cuerpo, amor, aire, ensueño… la obra se vislumbra.

 

 

 

RETRATO DE INTERIOR EM VERSO: MULHER NUA APOIADA NA JANELA

 

Pois que não saberiam as minhas mãos retratar-te

com os pinceis úmidos e sua policromia

terei de usar palavras para imortalizar-te:

 

o sol possui os teus seios, tuas nádegas a penumbra,

és a meia lua que na metade do dia

de fora para dentro tenta, de dentro para fora alumia.

 

Assim de formosa és, a invocação da arte:

 

corpo, amor, ar, sonho… a obra se vislumbra.

 

 

 

NUMEN

 

Despiertas las negruras y dormidos los dones

pedí al viejo ermitaño, que en la montaña mora,

alumbrasen sus luces a mis dubitaciones:

 

“Mi verso es blando y pobre, el alma ya no aflora…”.

Y contestó el que sabe de almas y corazones:

“De esos harapos, vístete; de esta raíz, come.

 

Y ahora, acoge el duro límite de la gruta insonora;

 

escucha, de tu centro, voz, nota, cantos, sones…”.

 

 

NUMEN

 

Despertas as negruras e os dons adormecidos

pedi ao velho ermitão, que na montanha mora,

alumiassem suas luzes minhas dubitações:

 

“Meu verso é brando e pobre, a alma já não aflora…”.

E respondeu quem sabe de almas e corações:

“Desses farrapos, veste-te; desta raiz, come.

 

E agora, acolhe o duro limite da gruta insonora;

 

escuta, do teu centro, voz, nota, cantos, sons…”.

 

 

 

OTRA DEFINICIÓN INFRUCTUOSA DEL TÉRMINO “POESÍA”

 

“Palabra rítmicamente ordenada…”,

o vehículo visible para el alma

invisible, o bien la río que mana

 

alimenticia, o la sed que no acaba,

mujer mistérica nuda en la cama,

dios que sopla, o una mala álgebra.

 

O el asombro, o el amar, y/o la rabia.

 

Lo pleno todo, la carente nada.

 

 

OUTRA DEFINIÇÃO INFRUTUOSA DO TERMO “POESIA”

 

“Palavra ritmicamente ordenada…”,

ou veículo visível para a alma

invisível, ora o rio que mana

 

alimentício, ou a sede que não acaba,

mulher mistérica nua na cama,

deus que sopra, ou uma má álgebra.

 

Ou o assombro, ou o amar, e/ou a raiva.

 

O pleno todo, o carente nada.

 

 

 

Tus senos idolatro

(melones estelares,

sugerencias de latro-

 

cinios, bisontes pares,

imanes de la lengua,

mitos de lupanares,

 

exprimibles sin mengua,

 

inefables) y muerdo.

 

 

 

Teus seios idolatro

(melões estelares,

sugestões de latro-

 

cínios, bisões pares,

ímans da língua,

mitos de lupanares,

 

espremíveis sem míngua,

 

inefáveis) e mordo.

 

 

 

SUEÑO DE LA FLOR DE LOTO

 

Soñé: una mujer de color de azafrán.

Soñé a la mujer de las joyas de jade,

del loto danzante en el pubis de pan.

 

Me dijo: “El rocío que posa en mi flor

el sol lo calienta y se endulza de amor,

repite quien prueba de este licor”.

 

De pétalos rosas quedé embriagado…

 

aguardo sin sueño ya el nuevo sopor.

 

 
SONHO DA FLOR DE LÓTUS

 

Sonhei: uma mulher da cor de açafrão.

Sonhei a mulher das joias de jade,

do lótus dançante no púbis de pão.

 

Disse-me: “O orvalho que pousa em minha flor

o sol o aquece e se adoça de amor,

repete quem prova deste licor”.

 

De pétalas rosas fiquei embriagado…

 

já aguardo sem sono o novo sopor.

 

 

 

DECLARACIÓN DE AMOR A LA CIUDAD DE SÃO PAULO

 

Antes de hoy fui sólo un ser sin ti,

así es, mi amor, mi agua, así es. Mi

hermana, madre, esposa, amiga, amante

 

después de ahora si lo quieres, si

quieres que sea tu amor, tu agua y

tu hermano, padre, esposo, amigo, amante.

 

Al morir quiero ser sólo un viví

 

contigo, y ahora, un en ti adelante.

 

 

 

DECLARAÇÃO DE AMOR À CIDADE DE SÃO PAULO

 

Antes de hoje fui só um ser sem ti,

assim é, meu amor, minha água, assim é. Minha

irmã, mãe, esposa, amiga, amante

 

após o agora se o queres, se

queres que eu seja o teu amor, a tua água e

o teu irmão, pai, esposo, amigo, amante.

 

Quando eu morrer quero ser só um vivi

 

contigo, e agora, um em ti adiante.

 

 

 

EL POZO DE AGUA

A Elis

 

Soñé que yo era un pozo,

soñé que eras un pozo,

que tú, yo, éramos pozo.

 

Éramos pozo de agua,

el mismo pozo de agua,

un solo pozo de agua.

 

Inmensurable agua,

 

y sempiterno pozo.

 

 

 

O POÇO DE ÁGUA

A Elis

 

Sonhei que eu era um poço,

sonhei que você era um poço,

que você, eu, éramos poço.

 

Éramos poço de água,

o mesmo poço de água,

um só poço de água.

 

Imensurável água

 

e sempiterno poço.

 

 

 

Mis ojos ven el norte a través de tu nuca,

los tuyos otean sures, a través de la mía;

mi espalda son dos senos que incipientes despuntan;

 

cuatro pulmones se superponen, y ausculta

dos corazones que bombean en la misma

tórax y cuatro sierpes que en el vientre se acunan.

 

Llega mi sexo al norte, al sur el tuyo excita;

 

y el desplazarse es danza del aquí, y todo, y ultra.

 

 

 

Meus olhos veem o norte através da tua nuca,

os teus fitam suis, através da minha;

minhas costas são dois seios que incipientes despontam;

 

quatro pulmões se sobrepõem, e ausculta

dois corações que bombeiam no mesmo

tórax e quatro serpentes no ventre se aconchegam.

 

Chega o meu sexo ao norte, ao sul o teu excita;

 

e o movimento é dança do aqui, e todo, e ultra.

 

 

 

DANTE ALIGHIERI EN EL LECHO DE MUERTE HABLA SOBRE BEATRIZ

 

Yo tuve a mi Beatriz en la tierra de los vivos,

el Infierno, Purgatorio, Cielo de mis manuscritos

fue un arte, fue dramaturgia, de lo que viví y vivimos.

 

No se fue joven tampoco, lo atestiguan nuestros hijos,

se dijo por dispensar a Maquiavelos y cínicos:

amasó el pan en mi casa y llamé a sus ojos lirios.

 

¡Ah, mia beatitudine, mi feliz senda al Empíreo!…,

 

los labios fueron materia, y los versos metafísicos.

 

 

 

DANTE ALIGHIERI NO LEITO DE MORTE FALA SOBRE BEATRIZ

 

Tive a minha Beatriz na terra dos vivos,

o Inferno, Purgatório, Céu, dos meus manuscritos

foi uma arte, foi dramaturgia, daquilo que vivi e vivemos.

 

Também não foi embora jovem, testemunham nossos filhos,

foi dito para dispensar os Maquiavelos e cínicos:

amassou o pão na minha casa e chamei seus olhos lírios.

 

Ah, mia beatitudine, feliz senda ao Empíreo!…,

 

os lábios foram matéria, e os versos metafísicos.

 

 

 

DECRETO DE LA VERDAD CORPORAL

 

“Decreto-Ley, día 1, mes 1, año actual:

A fin de restituir su verdad al ciudadano

se procederá al retiro de cualquier implante, prótesis,

 

muleta, audífono, lente, píldora, inyección u onda”,

rezaba el texto. Y quedaron los de las bocas deshechas,

los invidentes y sordos, los torcidos, los tullidos,

 

el flojo atleta, el caduco caduco, la horrenda miss,

 

los infectados y los podridos, y en fin, los muertos.

 

 

 

DECRETO DA VERDADE CORPORAL

 

“Decreto-Lei, dia 1, mês 1, ano atual:

A fim de restituir sua verdade ao cidadão

proceder-se-á à retirada de qualquer implante, prótese,

 

muleta, audiofone, óculos, pílula, injeção ou onda”,

rezava o texto. E restaram os das bocas desfeitas,

os cegos e os surdos, os tortos, os amputados,

 

o frouxo atleta, o caduco caduco, a horrenda miss,

 

os infectados e os apodrecidos, e enfim, os mortos.

 

 

 
VIEJA CHOTA MEDIÁTICA

 

Ya fuiste miss y ahora eres misterio

de psicólogos: ¿Cómo ante el espejo

crees que fascinas, siliconiengendro?

 

Ayer epifanía, abierto cielo

fuiste, hoy eres mapa del infierno.

Y el cirujano : “Sí, más culo y pecho…”.

 

Crees que se puede botoxear el tiempo

 

y antes de muerta ya eres sombra, espectro.

 

 

 

VELHA BARANGA MIDIÁTICA

 

Já foste miss e agora és mistério

de psicólogos: Como ante o espelho

crês que fascinas, silicomonstrengo?

 

Ontem epifania, céu aberto

foste, hoje és mapa dos infernos.

E o cirurgião: “Sim, mais bunda e peito…”.

 

Crês que se pode botoxear o tempo

 

e antes de morta já és sombra, espectro.

 

 

 

CALÍGINE

 

En cuanto a los tiempos negros de hoy, y que peores

vienen, cuando digas para ti mismo “ya no hay luz”,

acuérdate de esto: ve entre la ciénaga las flores,

 

entre los que odian, al que sin doblar su testuz

ama, a los pisados que eligen ser no pisadores,

a aquel que distingue de la cruz perversa la cruz

 

de Dios, y a aquellos que transubstancian sus dolores

 

en sabiduría, y es su esperanza su capuz.

 

 

 

CALIGEM

 

Quanto aos tempos negros de hoje, e que piores

virão, quando digas para ti mesmo “já não há luz”,

lembra-te disto: vê entre o lamaçal as flores,

 

entre os que odeiam, quem sem dobrar sua cerviz

ama, aos pisados que elegem ser não pisadores,

àquele que distingue da cruz perversa a cruz

 

de Deus e àqueles que transubstanciam suas dores

 

em sabedoria, e é sua esperança seu capuz.

 

 

 

 

 

 

O que vem a ser INDRISO:

O indriso é um poema composto de dois tercetos e duas estrofes de verso único (3-3-1-1). Seus versos permitem medida regular e irregular, presença, ausência, tipo e distribuição livres da rima. Também admite mudanças na ordem das estrofes, o que produz as seguintes variantes: 1-1-3-3 / 3-1-3-1 / 1-3-1-3 / 3-1-1-3 / 1-3-3-1.

 

 

 

 

 

 

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Isidro Iturat (Vilanova i la Geltrú, Barcelona, Espanha, 1973). É escritor e professor de língua e literatura espanhola e reside em São Paulo, Brasil, desde 2005. No ano 2001 elabora a figura poética que recebe o nome de indriso. Em 2007 publica um primeiro livro de poemas totalmente composto de indrisos, intitulado El Manantial y otros poemas e em 2011 edita a 1ª Antologia Internacional de indrisos. Publicou poemas e ensaios literários em diferentes meios da Europa e da América e é o autor do site www.indrisos.com e do blog www.indrisos.wordpress.com. E-mail: isidroiturat@indrisos.com

 




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