Estilhaços da esfera



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O INOMINÁVEL

 

Semente de horas invisíveis

Saudade aflita do que não vivi –

navio de desejos enrugados.

 

Morada no cume do monte ensolarado

tempestade muda que desaba.

E lá, bem dentro do coração,

desespero de intensa toada,

aquele vazio.

 

Não é fácil sentir os pelos na pele

contar as horas em que apenas sonho

e ver sentada o infinito cínico doído:

aquilo que não tem nome.

 

 

 

DE VIDAS E JANELAS

 

Entre o eu e a janela do mundo

existe uma velha ciranda,

um dia que semeia, cisma, morde

e acalenta selas antigas

rodas obtusas, seivas amarelas.

 

Entre ela e o mundo sem janela

existe um apito rouco

um acidente de pétalas:

fogo melado de céu,

que não acende, nem morre.

 

 

 

RENDIÇÃO

 

Forja de estilhaços da esfera,

azul e tormenta esfera,

sente, sacraliza, despe e foge

serpente de cálculos rasteiros.

 

Sim, homem de mil eras,

cansa-te de estrebuchar

 

sonhas num divã morto

enterras tua sede anil,

 

golpe de senões vadios

vence tua senil vértebra.

 

 

 

CORPO FERIDO

 

Os bichos de cá de dentro

rasgaram a alma;

suas garras, gravadas no ventre.

 

Os bichos romperam no mundo;

largaram o pó, diminuto

na lama da sala.

 

O que antes foi e o que é.

 

O pó está morrendo,

misterioso.

 

 

 

 

ABOIO

Para José Inácio Vieira de Melo

 

“Porque até os meus músculos mais ferozes
têm tendência para o sentimento”

Gonçalo M. Tavares

 

 

Porque até os teus músculos mais ferozes

os teus arreios e a tua boca robusta

tecem em ti o mais profundo dos amores

 

e teus ritos e longas rezas em mim

são pálio difuso no paraíso do sonho;

 

ao fim, tua música augusta não acaba

e o teu encanto, que convida o gado à ceia,

leva ao infinito o mais terno mistério:

minha mortífera maneira de amar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Clarissa Macedo é revisora e escritora. Nasceu em Salvador, em 1988, mas reside em Feira de Santana. Cursa Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Faz parte das coletâneas Godofredo Filho (2010), Sangue Novo (2011) e Verso e Prosa (2011). Participou, em 2011, da IV Feira do Livro de Feira de Santana e da 10ª Bienal do Livro da Bahia na abertura da Praça de Cordel e Poesia. E-mail: clary_df@hotmail.com




Comentários (10 comentários)

  1. Eduardo Neto, Péssimos poemas. Isso é muito ruim!!! Dá vergonha.
    17 fevereiro, 2012 as 11:53
  2. Carlos Alberto, Parabéns à poeta Clarissa Macedo. Seus versos são inusitados e alcançam paisagens imponderáveis, cercanias etéreas não atingidas por aqueles que padecem de estreitamentos mentais e estéticos. Siga em frente, poeta!
    17 fevereiro, 2012 as 20:16
  3. Aline Veiga, QUE POESIA BONITA! A MUSA RARA ESTÁ DE PARABÉNS POR TRAZER À TONA O TRABALHO DE UMA VIGOROSA POETA. É PRECISO QUE APAREÇAM MAIS POETAS MULHERES. HÁ MUITAS POR AÍ, ESCONDIDAS E TÃO TALENTOSAS QUANTO VOCÊ, CLARISSA. É PRECISO MOSTRAR A CARA, COMO VOCÊ FEZ, E NÃO SE RENDER A MEDIOCRIDADE DE GENTE COMO O EDUARDO NETO.
    17 fevereiro, 2012 as 20:23
  4. Fabio Daflon, Belos poemas Clarissa, você é a musa dos versos livres, parabéns!
    17 fevereiro, 2012 as 23:23
  5. Gorete Alencar, Os poemas são de fato muito ruins. Quem não tem o que dizer escreve dessa forma aí em cima, com pouca clareza. Há pouquíssima relação entre os versos. Os poemas são duros, engessados. Não têm ritmo. Uma mera exposição de palavras. Isso é triste. Quanto ao fato de José Inácio Vieira ter divulgado “isso”, todos sabem que foi por haver um poema dedicado a ele. E ele não aguenta ouvir um elogio ou ser mencionado que faz questão de mostrar pra todo mundo. Continua o mesmo babaca. A moça, por sua vez, é a maior puxadora de saco dele, depende dele pra tudo, pois mais ninguém se interessa por sua poesia. E faz questão de ficar elogiando o coitado e bajulando-o, já que a mesma não possui talento. Por isso tem que se associar à imagem dele pra ver se alguém tem paciência para lê-la.
    18 fevereiro, 2012 as 8:46
  6. Mazé Anunciação, Nossa, os ânimos estão a mil. Quanta falta de gentileza. A Clarissa é uma poeta que está começando, e começando bem! Então é muita covardia ficar maltratando a moça por questões pessoais. Fica bem claro que a pessoa que assina por Gorete é a mesma que assina por Eduardo Neto. Apenas uma pessoa muito covarde. E só. Clarissa, gostei muito de sua poesia. Percebi um diálogo com a poesia contemporânea de Portugal, assim como com a poesia de JIVM, que é, sem sombra de dúvida, um dos grandes destaques da poesia brasileira contemporânea. O Eduardo Gorete, certamente, deverá espernear contra isso. Mas fatos são fatos. E só. Beijinhos para todos.
    18 fevereiro, 2012 as 12:35
  7. Leila Andrade, Clarissa, seus versos possuem alma, não há dúvida. Não se deixe levar por egos inflamados e hostis tão comuns nesse meio literário. Parabéns! Bjos
    18 fevereiro, 2012 as 21:21
  8. Andréa Mascarenhas, A poesia contemporânea é assim e a Clarissa começa bem! A “crítica” feita por parte dos comentários anteriores mostram apenas como é difícil começar a carreira literária.
    18 fevereiro, 2012 as 22:38
  9. Uilma Boaventura de Andrade, Clarissa, tão jovem e tão talentosa! Parabéns pelos poemas, adorei! Toda crítica é válida, desde que tenha fundamento e concordo plenamente com o que Mazé Anunciação escreveu acima! Um grande abraço.
    18 fevereiro, 2012 as 23:52
  10. Clarissa Macedo, Queridos, obrigada pelo incentivo. Li com carinho os comentários. Fico feliz em compartilhar meus escritos com vocês. Um abraço.
    19 fevereiro, 2012 as 2:13

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