ANTONIO CICERO
Formado em Filosofia, Antonio Cicero escreveu os livros de ensaios filosóficos O mundo desde o fim (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995) e Finalidades sem fim (São Paulo: Companhia das Letras, 2005). Como poeta, os livros de poemas Guardar (Rio de Janeiro: Record, 1996), A cidade e os livros (Rio de Janeiro: Record, 2002) e, em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo, O livro de sombras: pintura, cinema e poesia (Rio de Janeiro, + 2 Editora, 2010). Em colaboração com o poeta Eucanaã Ferraz, editou a Nova antologia poética de Vinícius de Moraes (São Paulo: Companhia das Letras, 2003)e, em colaboração com o poeta Waly Salomão, editou o livro O relativismo enquanto visão do mundo (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994).
Em 2012, lançou dois livros: Porventura (Record) traz sua safra recente de poemas; Filosofia e poesia (Civilização Brasileira) enfeixa uma série de ensaios que analisa as relações entre os dois gêneros.
Dois poemas do novo livro:
Palavras aladas
Os juramentos que nos juramos
entrelaçados naquela cama
seriam traídos se lembrados
hoje. Eram palavras aladas
e faladas não para ficar
mas, encantadas, voar. Faziam
parte das carícias que por lá
sopramos: brisas afrodisíacas
ao pé do ouvido, jamais contratos.
Esqueçamo-las, pois, dentre os atos
da língua, houve outros mais convincentes
e ardentes sobre os lençóis. Que esses,
em futuras noites, em vislumbres
de lembranças, sempre nos deslumbrem.
Balanço
A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.
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23 novembro, 2013 as 20:47