Jorge Luis Borges, 118 anos
Um pequeno apanhado de frases de Jorge Luís Borges, que em 24 de agosto completaria 118 anos.
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“Existe um conceito que é corruptor e desatinador de todos os outros. Não falo do Mal, cujo limitado império é o da ética: falo do Infinito.” (“Avatares de la Tortuga”, em Discusión)
“Sei de dois tipos de escritor: o homem cuja ansiedade central são os procedimentos verbais; o homem cuja ansiedade central são as paixões e os trabalhos do homem.” (“Absalom! Absalom! de William Faulkner”, Textos Cautivos, 1937)
“Todo homem culto é um teólogo, e para sê-lo não é indispensável a fé.” (“El enigma de Edward Fitzgerald”, Otras Inquisiciones)
“Em 1883, um terremoto que durou noventa segundos comoveu o sul da Itália. Nesse terremoto morreram seus pais e sua irmã, e ele mesmo ficou enterrado nos escombros. Duas ou três horas depois foi salvo. Para escapar ao desespero total, resolveu pensar no Universo; procedimento geral dos infelizes, e às vezes bálsamo.” (“Benedetto Croce”, Textos Cautivos, 1936)
“Os homens do futuro não se disfarçarão de postes de telégrafo nem perambularão de um lugar para outro embutidos em armaduras de celofane, em recipientes de cristal ou em caldeiras de alumínio.” (“Things to Come, de H. G. Wells”, Textos Cautivos, 1936)
“Os verbos conservar e criar, tão antagônicos aqui, no Paraíso são sinônimos.” (“Historia de la Eternidad”, em Historia de la Eternidad)
“Ser nazista (…) é, no final das contas, uma impossibilidade mental e moral. O nazismo padece de irrealidade, como os infernos de Erígena. É inabitável: os homens podem apenas morrer por ele, mentir por ele, matar e ensanguentar por ele. Ninguém, na solidão central do seu eu, pode desejar que triunfe.” (“Anotación a 23 de agosto de 1944”, Otras Inquisiciones).
“Hollywood acaba de enriquecer esse vão museu teratológico: por obra de um artefato maligno chamado dublagem, propõe monstros que combinam as ilustres feições de Greta Garbo com a voz de Aldonza Lorenzo.” (“Sobre el doblaje”, em Discusión)
“Europa é uma sinédoque de Paris. A Paris interessa menos a arte do que a política da arte: veja-se a tradição das ‘igrejinhas’ em sua literatura e sua pintura, sempre dirigidas por comitês e com seus dialetos políticos: um parlamentar, que fala em esquerdas e direitas, e outro militar, que fala em vanguardas e retaguardas.” (“El otro Whitman”, em Discusión).
“O budismo acredita que a ascese é conveniente só depois que se experimentou a vida. Ninguém deve começar pela negação. É preciso provar a vida até o fim. E desencantar-se com ela; mas só depois de conhecê-la.” (“O budismo”, em Sete Noites)
“Ignoro se a música sabe desesperar da música e se o mármore do mármore, mas a literatura é uma arte que sabe profetizar aquele tempo em que haverá emudecido, e encarniçar-se contra a própria virtude e enamorar-se da própria dissolução e cortejar seu fim.” (“La supersticiosa ética del lector”, em Discusión)
“Sereia: ‘suposto animal marinho’, é o que lemos em um dicionário brutal.” (“El arte narrativo y la magia”, em Discusión)
“O honorável Reginald Fortescue aparece como fiador da existência de um ‘espectro alarmante’. Eu não sei o que pensar; por enquanto, me nego a crer no alarmante Reginald Fortescue, se não aparecer algum espectro honorável para ser fiador de sua existência.” (“Lord Halifax’s Ghost Book”, Textos Cautivos, 1936)
“É comum, no Oriente, não se estudar historicamente nem a literatura nem a filosofia. (…) Lá, estuda-se história da filosofia como se Aristóteles discutisse com Bergson, Platão com Hume – tudo simultaneamente.” (“La poesia”, em Sete Noites)
“A distinção radical entre a poesia e a prosa está na expectativa muito diversa de quem as lê: a primeira pressupõe uma intensidade que não se tolera na última.” (“Los traductores de Las 1001 Noches”, em Historia de la Eternidad)
“H. G. Wells, incrivelmente, não é nazista. Incrivelmente, porque todos os meus contemporânos o são, embora o neguem ou o ignorem. Desde 1925, não há publicista que não opine que o fato inevitável e trivial de haver nascido em um determinado país e de pertencer a tal raça (ou a tal boa mistura de raças) não seja um privilégio singular e um talismã suficiente.” (“Dos libros”, em Otras Inquisiciones)
“Clássico é aquele livro que uma nação ou um grupo de nações ou o longo tempo decidiram ler como se em suas páginas tudo fosse deliberado, fatal, profundo como o cosmos e capaz de interpretações sem fim.” (“Sobre los clásicos”, em Otras Inquisiciones)
“Para cada mente capaz de analisar com profundidade um efeito estético, há dez, ou há cem, que são capazes de produzi-lo.” (“How to write detective novels”, Textos Cautivos, 1937)
“Nossos contemporâneos são sempre muito parecidos com nós mesmos, e quem está em busca de novidade poderá achá-las mais facilmente entre os antigos.” (“Nathaniel Hawthorne”, em Otras Inquisiciones)
Fontes:
Discusión. Buenos Aires: Emecé, 1972,
Historia de la Eternidad. Buenos Aires: Emecé, 1973.
Otras inquisiciones. Buenos Aires: Emecé, 1985.
Sete noites. São Paulo: Max Limonad, 1983. (trad. João Silvério Trevisan)
Textos cautivos. Madrid: Alianza Editorial, 1998
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Braulio Tavares é escritor e compositor. Estudou cinema na Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais, é Pesquisador de literatura fantástica, compilou a primeira bibliografia do gênero na literatura brasileira, o Fantastic, Fantasy and Science Fiction Literature Catalog (Fundação Biblioteca Nacional, Rio, 1992). Publicou A máquina voadora, em 1994 e A espinha dorsal da memória, em 1996, entre outros. Escreve artigos diários no Jornal da Paraíba: http://jornaldaparaiba.globo.com/ Blog: http://mundofantasmo.blogspot.com/ E-mail: btavares13@terra.com.br
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