Intimidade Inconfessável
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Testemunho de si mesmo
Lançar o primeiro livro de poemas é como retirar o véu de nosso eu mais caro. Exige uma dose de coragem e comprometimento com essa Musa tão fugidia que é a poesia. Ao mesmo tempo é dar a luz a uma persona artística que vai irremediavelmente nos acompanhar e filtrar a tudo o que fizermos daqui pra frente. É um gesto de afirmação com a vida que nos brinda e, por conta disso, contamina todo o universo. A mineirinha Fernanda Fatureto sabe disso e vai logo pontuando esse saber na epígrafe de seu belo Intimidade Inconfessável.
Seu livro é um ajuste de contas com o tempo e com as vivências que lhe fizeram ser o que é, com toda a dor e a alegria que o recolho da vida possa nos permitir. O que surge para o leitor são versos gravados “em talhe de porcelana”, uma delicadeza que junta os pontos / que ficaram pra trás criando um desenho aural onde o que prevalece é a sensibilidade. São pepitas que boiam luminosas quando realizamos a bateia de nossa existência até então.
Para que a fatura dos poemas de um livro seja relevante é preciso que sejam tocados pela poesia. É preciso, como dizia Garcia Lorca, que o poeta tenha o duende. E Fernanda prova com esse livro que tem o duende.
Para uma poeta, quando olha para os passos-sementes deixados para trás, tudo faz sentido, e o que não faz ela reconstrói com a magia das palavras. Como diz Fernanda em uma de suas belas estrofes: Nada se torna arbitrário / com o tempo. / Nem mesmo o acaso, / esse Deus atroz.
A poesia de Fernanda espraia-se pelas páginas secas, onde se esmera um crime delicado. Ao fim e ao cabo, por mais que contabilizemos perdas, precisamos recuperar a coragem de olhar para / o futuro sem máculas. E, talvez, a melhor forma de seguir adiante, rumo ao cheiro da alvorada, seja continuar escrevendo porque encontramos ao redor / apenas o vazio / dos ponteiros de um relógio / eterno. É necessário permanecer com as palavras. E Fernanda diz categórica: Eu permanecerei / com as palavras. Ou, em outro momento: Escrevo / Porque nada se perdeu.
Nada se perde, porque a tudo ressignificamos com nosso grifo imperfeito. A poesia agradece. No final das contas só A noite escura saberá nossos nomes. E talvez aprendamos a olhar a vida com a simplicidade dos gatos.
Edson Cruz e poeta e editor. Edita o selo Musa Rara, e o site de Literatura e Adjacências de mesmo nome (www.musarara.com.br).
FERNANDA FATURETO (1982) nasceu em Uberaba, Minas Gerais. Formou-se em Jornalismo pelaFaculdade Cásper Líbero (SP). Mora há anos em São Paulo, capital, onde adquiriu todas as influências culturais que carrega na bagagem e malas pesadas. Intimidade Inconfessável é seu livro de estreia, escrito a partir de 2006.
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Conheça 4 poemas do livro Intimidade Inconfessável, de Fernanda Fatureto:
Ouro do Tempo
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Reconhecer o ouro do tempo
Que não há mais saída para a mesmice do agora
Que as fábricas acordam de manhã
Do sonho torpe
Do dinheiro hábil
Que o homem não tem vez na roda da história
Que a natureza passa ao largo dos passos
Apressados
Cambiantes
Reticentes
Que o trabalho não alcança nunca um fim
Em si mesmo;
Apenas passa – o tempo
E não se vê os olhos do poeta
Na contramão de tudo o que for luz.
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I
II
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Casa
Ela,
. Sentinela
Do vapor do mundo –
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Livro: Intimidade Inconfessável
Autor: Fernanda Fatureto
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 90
Formato: 15×20
Preço: R$ 30,00 + frete (Livro em pré-venda. Amigos e leitores de outras cidades que realizarem a compra antes do lançamento receberão o livro autografado após o evento. Aproveite!)

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