Escrita de si, [r]existência e subjetividade
- Preâmbulo: A subjetividade na escrita de si
Ora, ter a consciência acerca de si no mundo significa, a priori, buscar a partir de si mesmo ferramentas e fagulhas criativas para se mostrar no mundo enquanto sujeito pleno de humanidade. Significa olhar para o seu próprio corpo e se reconhecer a partir de uma consciência preta, pois temos uma história que foi apagada e por isso a nossa existência é desautorizada e literalmente apagada nesse mundo marcado pela existência de uma escrita de supremacia branca, normativa cis e heteropatriarcal. Para eu me reconhecer e me humanizar enquanto negritude[1], preciso começar a exercitar a escrita de si como marca de minha subjetividade negra no mundo.
Foi Foucault que nos despertou para essa tonalidade afetiva acerca da escrita de si ao nos mostrar a importância de tomarmos controle da nossa existência, de buscar nos compreendermos a partir de nossas práticas da liberdade e de nossos processos de subjetivação.
Nessa esteira foucaultina, esclarece-nos a feminista Margareth Rago: “Trata-se antes de um trabalho de construção subjetiva na experiência da escrita, em que se abre a possibilidade do devir, de ser outro do que se é, escapando as formas biopolíticas da produção do indivíduo”[2].
Nesse sentido, a escrita de si somente passa a ter força quando encarnada e acoplada à subjetividade. Portanto, me descobri negro quando mergulhei na minha subjetividade, pois o que está em jogo é uma experiência visceral que não pretende falar do Outro, mas eu mesmo tornei-me sujeito e quando tive essa consciência tomei as rédeas da minha vida e pude ser eu próprio.
Foi quando eu tive a consciência de que não nasci negro, pois foi a partir desse “tornar-se” negro e desse reconhecimento a partir da minha corporeidade e da minha ancestralidade que me fez chegar aqui para me mostrar como autor da minha voz, da minha resistência. Recordo-me das palavras da ancestral Neusa Santos: “Uma das formas de exercer a autonomia é possuir um discurso sobre si mesmo. Discurso que se faz muito mais significativo quanto mais fundamentado no conhecimento concreto da realidade”[3].
Segundo Neusa Souza, para que eu possa ter uma autonomia sobre a minha existência, é necessário ter o discurso e para isso preciso pegar a palavra, tomá-la das mãos e do discurso da branquidade, pois se fomos silenciados foi por que alguém nos calou e nos enredou de vez para as margens, prevalecendo assim o discurso do centro, legitimado e autorizado que é o discurso de branquidade. Por isso, essa autonomia irá apenas acontecer quando enegrecermos a escrita de nós mesmos e aprendermos a contar a nossa história a partir de nossas subjetividades. Para isso, é preciso uma escrita “a contra peles”. Disso Abdias do Nascimento já vinha nos conscientizando “Ainda está por ser escrita a história das lutas do negro brasileiro para garantir a sobrevivência, liberdade e dignidade de ser humano”[4].
Dito de outra maneira, propormos hoje em dia uma escrita acerca de nós mesmos basicamente se transformou em uma exigência ética e política. Digo isso por que estamos vivendo tempos de crise de paradigma, onde novos valores estão ressurgindo. Tempos de descolonização, de deslocamentos e de promover, acima de tudo, rachaduras no tempo, no espaço e nas epistemologias ocidentais e legitimadas.
Eu vim de uma formação ocidental, cartesiana e imperialista que me impedia de me colocar enquanto sujeito preto e de revelar a minha subjetividade na escrita, por uma exigência cientificista que separa sujeito de objeto e que exige ainda uma certa imparcialidade na escrita. Nesse sentido, propor aqui uma escrita de si nesse moldes que unimos escrita e subjetividade, foi um grande avanço.
Na condição de homem negro, gay e de Candomblé, aprendi a erguer a minha voz e a me mostrar enquanto sujeito preto. Ter uma consciência sobre mim implica em dominar uma certa linguagem num complexo movimento de luz e sombra. Implica lidar com o trauma colonial, com a ferida aberta, exposta no sol quente do colonialismo que nos desumaniza e nos desautoriza e com isso, impede-nos de contar a nossa própria história a partir de nós mesmos e de nossas subjetividades, como bem salientou a feminista negra Grada Kilomba (2019), ao mostrar a importância de rompermos com o silêncio e com o colonialismo já que esse deixou, em nós, negros, uma ferida aberta que nunca foi tratada, que por vezes dói, infecta, sangra e nos mata. É voltada para a importância de sermos autores da nossa própria existência e da urgência de nos tornarmos sujeitos que Grada Kilomba, a partir de um diálogo com bell hooks, ensina-nos:
Não sou o objeto, mas o sujeito. Eu sou quem descreve minha própria história, e não quem é descrita. Escrever, portanto, emerge como um ato político. O poema ilustra o ato da escrita como um ato de tornar-se e, enquanto escrevo, eu me torno a narradora e a escritora da minha própria realidade, a autora e a autoridade na minha própria história.[5]
No entanto, precisamos criar estratégias discursivas para propormos uma escrita de si em que nos coloquemos como sujeitos da história e não aceitamos mais sermos “objetos”, para satisfazer uma certa fantasia colonial de nos colocarmos como o “Outro”, o estranho, o exótico. É propondo uma escrita de si a partir de nós mesmos que retiramos do outro o direito e o poder de falar por nós. Essa foi a maior violência e alienação colonial que nós negros e subalternos sofremos, ao tentar dominar nossos corpos, nos silenciar, nos domesticar e não nos deixar falar por nós mesmos.
É animado com esse exercício de sensibilidade e pactuado com a noção de que é preciso criar estratégias para driblar o colonialismo, que o militante e pensador negro Steve Biko acrescenta-nos:
Segundo o escritor preto, o colonialismo nunca se satisfaz em ter o nativo em suas garras, mas, por uma estranha lógica, precisa se voltar para o seu passado e desfigurá-lo e distorcê-lo. Por esse motivo é muito desanimador ler a história do preto nesse país. Ela é apresentada apenas como uma longa sequência de derrotas[6]
Desse modo, na ótica de Steve Biko, apenas ter o nativo em suas mãos não é suficiente. Mais que isso, ele desfigura e distorce seu passado e com isso ele acha desanimador ler a história de nós pretos nesse país.
Dito de outra maneira, a luta para descolonizar a escrita exige lutar com meus “demônios” e enfrentar a minha própria desordem interior. Mais que isso, implica convocar toda uma ancestralidade que povoa a minha escrita-corpo, pois somente tem sentido exercitar uma escrita de si, hoje em dia, quando me coloco de todo corpo na escrita. A escrita deve emergir de nosso corpo enquanto lugar de resistência e clamar por uma escrita encarnada, incorporada é fundamental, pois é partir dessa corporeidade e dos nossos processos de subjetivação que podemos afirmar e reafirmar a nossa [r]existência e ancestralidade no mundo.
A escrita de si, mais que uma enunciação ou discursividade, é um lugar de fala[7] em que o preto tenta recuperar sua plena humanidade, através de atos potencialmente subversivos. Pelo viés do feminismo negro, da luta e da coragem de mulheres aprendi a importância de tensionar as gramáticas da modernidade europeia que nulifica, invibiliza e desautoriza a produção da escritura preta. A escrita preta é violentada na medida em que é desautorizada e apagada, promovendo o epistemicídio[8].
Escrever, nesse caso, é um ato de resistência, pois a escrita preta é revolucionária na medida em que rompe com a tradição de silêncio e nós, negros, subalternos, nos posicionamos como sujeitas e sujeitos de si no mundo. Lembrando o pensador Edgar Morin, “minha vida intelectual é inseparável de minha vida (…) não sou daqueles que têm uma carreira, mas dos que têm uma vida”[9]. Portanto, escrita de si e subjetividade estão intimamente ligados quando tentamos, a partir de nossas práticas e de nossos modos de vida, falar de nós mesmos, pois sentimento e subjetividade andam lado a lado.
O mestre Abdias do Nascimento já salientava a importância de desbancar essa escrita fria, distante e imparcial da realidade quando trouxe-nos essa sabedoria milenar:
Não posso e não me interessa transcender a mim mesmo, como habitualmente os cientistas sociais declaram supostamente fazem em relação às suas investigações. Quanto a mim, considero-me parte da matéria investigada. Somente da minha própria experiência e situação no grupo étnico cultural a que pertenço, interagindo no contexto global da sociedade brasileira, é que posso surpreender a realidade que condiciona o meu ser e o define. Situação que me envolve qual um cinturão histórico de onde não posso escapar conscientemente sem praticar a mentira, a traição ou a distorção da minha personalidade.[10]
Ao denunciar o Genocídio do negro brasileiro, Abdias do Nascimento deixa-nos claro desde o começo de sua escrita que não pretende escrever de forma fria, imparcial, muito menos está o autor interessado no exercício de qualquer tipo de ginástica teórica, imparcial e descomprometida, pois se considera matéria da investigação, parte dela. Desse modo, para valer a minha escrita, preciso fazer justiça a mim mesmo.
Escrever, performar sobre si a sua vida é a urgência de nosso tempo que retira a cada dia a possibilidade de falarmos de nós, de retirar nossas subjetividades da escrita, para sermos a favor de uma inteligência racional, cartesiana e esvaziar a toda a minha potência de vida. A minha vida é anulada quando sou impossibilitado de falar de mim mesmo. Nesses termos, a escrita de si, como um rio que corre, deve ser encarada como um rito de passagem. Eis a nossa próxima travessia.
- Escrita de si como um rito de passagem
A noção de escrita de si foi pensada e problematizada a partir do pós-estruturalismo francês. Pensadores como Jaques Derrida, Michel Foucault, Roland Barthes e Gilles Deleuze foram fundamentais nesse processo de reinvenção da escrita. Nietzsche foi, sem dúvidas, quem anunciou uma nova forma de pensar, de ser e exercitar a escrita no campo da filosofia ao subverter a linguagem e propor novos processos de subjetivação. Mas qual, afinal o estatuto político da escrita de si?
A feminista foucaultiana e historiadora Margareth Rago, sem eu livro A Aventura de contar-se: Feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade, ensina-nos: “A escrita de si é entendida como um cuidado de si e também como abertura para o outro, como trabalho sobre o próprio eu num contexto relacional, tendo em vista reconstituir uma ética do eu”[11].
Foi sem dúvidas com Foucault, os seus questionamentos acerca do sujeito, ao nos situar a partir de nossas práticas e sacudir as evidências, a estranhar o familiar e nos fez voltar para nós mesmos, para as nossas práticas para pensar noções como discurso, cuidado de si e práticas de si, que a “escrita de si” encontrou seu lugar especial no pensamento e nas epistemologias.
Portanto, cuidado e escrita de si estão intimamente ligados. Diz Foucault: “No caso da narrativa epistolar de si próprio, trata-se de fazer coincidir o olhar do outro e aquele que se volve para si próprio quando se aferem ações quotidianas às regras de uma técnica de vida”[12].
Dito isso, o momento em que fui senhor da minha escrita, da minha voz e de meu corpo foi o momento em que comecei a ter consciência da minha negritude. Foi o momento em que me iniciei no Candomblé, aproximei dos meus ancestrais e estive a cada dia mais próximo de mim mesmo. Fui forjado por uma formação filosófica eurocêntrica, a minha subjetividade era retirada de cena e a minha existência, por sua vez, era brutalmente apagada.
Foi quando passei pelo processo de iniciação no terreiro, aprendi mais sobre mim mesmo e me distanciei cada vez mais nas narrativas brancas. Foi quando aprendi a me reorientar no mundo, deixei de lado esse processo de embranquecimento cultural e tomei consciência de mim mesmo enquanto sujeito negro. Ter me iniciado no Candomblé, religião de matriz africana, foi fundamental para o meu processo de humanização, pois via que, por mais dolorido e sofrido que isso fosse eu deveria retirar essa máscara branca e deixar a minha pele negra aparecer para travar uma batalha, uma revolta interna e buscar de fato quem sou para deixar essa subjetividade estilhaçada emergir na minha escrita.
Válido ainda lembrar que assim como eu, a pensadora feminista negra e militante, a filósofa Lélia Gonzalez teve um processo de crise e embranquecimento e somente após ter a consciência de si como mulher negra que retornou às suas origens, ao Candomblé. Até então como eu era formado em Filosofia e não conseguia ver o Candomblé como algo que pudesse me fazer pensar a mim mesmo. Depois de um certo tempo que dei a essas encruzilhadas da minha vida o seu correto valor, pois foi onde tudo começou a fazer sentido para mim:
A partir daí fui transar o meu povo mesmo, ou seja, fui transar candomblé, macumba, essas coisas que eu achava que eram primitivas. Manifestações culturais que eu, afinal de contas, com uma formação em filosofia transando uma forma cultural ocidental tão sofisticada, claro que não podia olhar como coisas importantes. Mas enfim, voltei às origens, busquei as minhas raízes e passei a perceber, por exemplo, o papel importantíssimo que a minha mãe teve na minha formação[13].
Somente após Lélia Gonzalez ter passado por várias crises a ponto de ter tido analista, que passou de fato a transar com o seu povo, pois começava a colocar em crise toda essa tentativa de embranquecimento, fruto da violência colonial e voltava a olhar para sua cultura, buscando a sua ancestralidade e suas raízes. No entanto, trazer essas encruzilhadas para essa conversa é mais que uma forma de resistir, é de afirmar a [r]existência do povo preto no mundo.
Nesse sentido, a escrita deve se transformar, segundo Michel Foucault, na “coisa vista ou ouvida, em forças de sangue”[14], transfigurando-se no próprio escritor, em um princípio de ação não racional, ou seja, a escrita sangra por que é cheia de vida.
Dito de outro modo, a escrita tem uma marca na subjetividade enquanto maquinaria de experimentação da vida que acontece na fronteira com a linguagem. Foi quando a minha vida, a minha experiência de fato importou e pude falar a partir de mim mesmo, da minha vida.
Logo, falar a partir de mim foi libertador. Para isso contar a nossa experiência, o que nos atravessa e nos afeta é fundamental para que possamos afirmarmo-nos no mundo. Foi esse lugar que a pioneira feminista negra, ativista e filósofa Lélia Gonzalez sempre nos convidou a estar:
Quando falo de minha experiência, me refiro a um processo difícil de aprendizado na busca da minha identidade como mulher negra, dentro de uma sociedade que me oprime precisamente por causa disso. Mas uma questão de ordem ético política é imposta imediatamente. Não posso falar na primeira pessoa do singular, de algo dolorosamente comum a milhões de mulheres que vivem na região; Refiro-me aos ameríndios e aos africanos (Gonzales) subordinados a uma latinidade que legitima sua inferiorização[15].
Ao pensar a partir da sua própria experiência, Lélia Gonzalez mostra o difícil processo de aprendizado em busca de sua identidade como mulher negra. Para ela, numa sociedade que a oprime por ser mulher e por ser negra, é ali imposta uma questão que é de natureza política e ética. Dentro de um universo eurocentrado é retirado dela a sua voz, sua subjetividade, pois é impedida de falar em primeira pessoa. Ou seja, a mulher negra sempre foi vista culturalmente como a “Outra”. Não a toa que nós negros fomos apenas “objeto exótico” do homem branco, impossibilitados de falar por nós mesmos.
Ora, uma das questões fundamentais trazidas pelo feminismo negro é a enunciação, o direito à fala. Aprender a erguer a sua própria voz faz parte da composição ética e política do povo negro. É a partir desse ato de fala que ele mostra sua visão de mundo. Falar é também um ato político diante do mundo da vida. Foi a feminista negra estadunidense bell hooks (2019) que motivou-nos a erguer a nossa voz e a nos transformarmos em sujeitos e sujeitas da nossa história.
Escrever sobre nós mesmos nos dá a impressão de estarmos numa travessia, em um certo rito de passagem. Vejo-me sempre diante dos ritos de passagens. Assim, “vale dizer, de modo artesanal e paciente, dependendo essencialmente de humores, temperamentos, fobias e todos os outros ingredientes das pessoas e do contato humano.”[16]
A escrita também é um rito de passagem como o processo de iniciação pedagógica. Foi o que experimentei ao fazer uma Tese de Doutorado em 2009, na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do sul sobre o meu processo de iniciação no Candomblé.
Por isso, vejo-me a todo instante, assim como bem lembrou alguns antropólogos e iniciados proposto por DaMatta, onde, “Antropólogos e iniciados atualizam um padrão clássico de <morte>, <liminaridade> e <ressurreição> social num novo papel, tudo de acordo com a fórmula clássica dos ritos de transição e passagem”[17].
Desse modo, esse é o momento da escrita “de dentro”: procurar nossas armas, ir à luta, à caça como Oxóssi, o Deus da caça fez, ao ir às matas. Mas escrever é também desarmar-se. Às vezes queremos deixar as “armas conceituais” e queremos deixar a escrita se mostrar como reflexo da nossa própria subjetividade, pois é ela que nos interessa.
Nesse sentido, sendo negro, gay e de Candomblé, filho do caçador, tudo isso me fez experimentar a performance de falar de mim mesmo. E esse ato da escrita de si é, a um só tempo, revolucionário e libertador, pois é tomando a palavra, erguendo a minha voz que me liberto. Mas em que sentido tomamos a palavra, erguemos a nossa voz e propomos uma política da escrita de si? Continuemos.
- Tomando a palavra e erguendo a voz
Sem dúvidas a luta de mulheres, o movimento negro e o mais consolidado e sofisticado feminismo negro inspirou-nos e inspira-nos a cada dia a erguer a nossa voz enquanto sujeitos subalternizados. Essa conquista é extremamente importante nesse mundo em que lutamos a cada dia contra todas as formas de opressão. Mundo esse marcado pelo colonialismo e pela colonialidade. Mais ainda, um mundo em que tem a voz da branquidade heterocispatriarcal, que é a voz legítima e autorizada.
Está mais do que na hora de enegrecermos a escrita e fazermos da escrita de si uma máquina de guerra contra forma de opressão e segregação. Somente é possível uma emancipação do povo preto, subalternizado, quando aprendermos a nos posicionar no mundo enquanto sujeitos.
bell hooks e Grada Kilomba foram duas feministas que deram esse tom aos nossos processos de subjetivação. Diz-nos bell hooks, “Esse ato de fala, de erguer a voz, não é um mero gesto de palavras vazias: é uma expressão de nossa transição de objeto para sujeito”[18]
Quando a Negritude toma a palavra ela precisa dizer quem é e se localizar temporal e geograficamente, pois, como ensinou-nos Lélia Gonzales (2018) com a sua sabedoria milenar, que negro tem que ter nome e sobrenome, se não os brancos arranjam um apelido e não dão um nome ao gosto deles.
Quando tomo a palavra, preciso dizer quem eu sou. Sou preto, sou gay. Ninguém torna-se sujeito de si sem tomar a palavra. Tomar a palavra significa, ser envolvido e lambuzado por ela. Significa fazer dela uma força política e revolucionária. Significa desafiar a palavra para desafiar o outro e desafiar a si mesmo. Significa mais ainda: aceitar a palavra como combate, ou seja, como forma de combater toda forma de opressão e como forma de lutar contra uma tradição de silêncio.
A sujeita e o sujeito preto empoderado é aquele que ergue a sua voz e diz “eu sou”. Essa expressão sempre coube à colonialidade, ao poder, ao eurocentrismo de matriz cartesiana, pois a expressão “eu sou” significou e significa “eu penso”, eu existo, eu sou branco, portanto, eu sou humano.
Enfim, pensar é coisa da branquidade, uma vez que ele é dono da razão, representa a cabeça, o que pensa, enquanto o preto é o que tem o corpo, o lugar da emoção. Nesse caso, a palavra, sendo da ordem da cabeça, da racionalidade, sempre foi privilégio da branquidade. E foi a branquidade que nos colocou nesse lugar de inferiorização, retirando de nós toda capacidade de refletir e pensar criticamente o mundo.
Não à toa que o preto e a subalternidade luta contra a tradição de silêncio, contra a impossibilidade de falar, tendo que romper essa máscara do silenciamento que sempre se impôs em nossa corporeidade e nos impossibilitou de falar/pensar/existir. Se o povo preto sempre foi impossibilitado de falar, de se pronunciar no mundo, é por que a ele nunca coube fazer uso da palavra, isso implica sua plena desumanização.
Quando nós, sujeitos pretos tomamos a palavra para escrevermos a nossa história, nos empoderamos enquanto humanos, pois nos humanizamos. Enegrecer a palavra é uma grande necessidade para que o povo preto se veja enquanto política, enquanto narrativa, enquanto arte e humano. A palavra é a forma do povo preto e de todos subalternizados se humanizarem e buscarem sua soberana liberdade, pois, somente escrevendo sobre nós e dominando a palavra que podemos, enquanto pretos, trazer para nós a nossa soberania. Não teremos soberania sendo objeto de fascínio da branquidade.
Dito de outro modo, é tomando a palavra que se humaniza, que se liberta. É através da palavra e da ação que a negritude se humaniza no mundo. Por isso temos que encarar a negritude de forma mais ampla e complexa, tal como Aimé Césaire nos mostrou em seu Discurso sobre a Negritude em 1987:
De fato, a negritude não é essencialmente de natureza biológica. (…) A Negritude, aos meus olhos não é uma filosofia. A Negritude não é uma metafísica. A Negritude não é uma pretensiosa concepção do universo. É uma maneira de viver a história dentro da história: a história de uma comunidade cuja experiência parece, em verdade, singular, com suas deportações de populações, seus deslocamentos de homens de um continente a outro, suas lembranças distantes, seus restos de culturas assassinadas (…) vale dizer que a Negritude, em seu estágio inicial, pode ser definida primeiramente como tomada de consciência da diferença, como memória, como fidelidade e como solidariedade. Mas a negritude não é apenas passiva. Ela não é da ordem do esmorecimento e do sofrimento. Ela não é nem da ordem do patético e nem da dor. Não é nem emoção, nem dor. A negritude resulta de uma atitude ativa e agressiva do espírito. Ela é um despertar, um despertar de dignidade. Ela é uma rejeição, e uma rejeição da opressão. Ela é luta, isto é, luta contra a desigualdade. Ela é também revolta. (…)[19]
A Negritude, para se afirmar enquanto humanidade no mundo, precisa se compreender como opressão e como luta contra a desigualdade. Mais que isso, precisa revoltar e rejeitar todo descaso e desumanização que lhe foi colocado por toda uma vida. Por isso não podemos pensar a negritude de forma essencialista ou biológica ou metafísica e sim, a partir de suas singularidades e deslocamentos. Não podemos fazer da palavra atos de dores diante do mundo, mas nos localizarmos enquanto sujeitos dignos de plena humanidade. A palavra é o lugar da revolta e da plena humanização de si.
Desse modo, a escrita de si preta não deve ser vista de forma ontológica, essencialista e universal, mas como potência e máquina de guerra contra toda forma hegemônica de racismo, opressão e segregação. A escrita de si produzida pelo povo preto, pela comunidade negra é em si arte e política, pois são narrativas carregadas de dores, de raiva, de revolta e de opressão.
Falar e escrever acerca de si é a forma mais larga de descolonizar o pensamento e o eu, uma vez que se temos a palavra embranquecida como espelho e reflexo do que é bom, belo e justo esteticamente, essa imagem narcísica da palavra será representada e será cristalizada como única forma de ver o mundo.
Se a escrita preta não tomar uso da palavra e povoá-la, ela estará sempre a serviço da branquidade, estará no plano do exótico, do pitoresco, sendo “objeto” de estudo da crítica branca. A escrita de si branca será o poder, o discurso autorizado e legitimado, inclusive a ver a escrita preta como seu objetivo a ser embranquecido pelo seu olhar e pela crítica.
Nesse sentido, a escrita de si preta perderá todo seu sentido político de existir na medida em que é arrancada dela autonomia e sua negritude para ser embranquecida e satisfazer o status quo. A escrita de si deve ser encarada como um ato político, revolucionário e, acima de tudo, como um ato de resistência. Esse será nosso próximo movimento.
- A escrita de si como ato [r]existência
Escrever sobre nós mesmos é o maior ato de resistir após falarmos e erguermos a nossa voz. Pergunto-me por que escrevo? Não escrevo para fugir da morte, mas para afirmar a vida. Escrevo sob o signo da [r]existência e porque estou vivo.
Não escrevo somente para me posicionar no mundo, mas também para me posicionar contra o mundo e até me posicionar contra mim mesmo. A palavra transforma o silêncio em ação. Ela opera como força política e transformadora na medida em que me permite transgredir a mim mesmo. E tal transgressão somente acontece quando enfrento a linguagem à luz do próprio dia para pensar a partir de mim mesmo enquanto negritude.
Quando me ocupo com as palavras, me ocupo com o silêncio, com a necessidade de lidar com o meu falatório, meu monólogo interior, minha desordem interior. A poesia é a minha linha de fuga que me faz pertencer de fato a esse mundo e acreditar nele, na humanidade, no futuro, no vir-a-ser.
Escrevo ainda para suportar o peso do mundo sobre o meu corpo. Escrevo, por fim para afligir, para incomodar e resistir. Mas em que sentido resistimos quando escrevemos sobre nossos processos de subjetivação? O que de fato significa resistir?
Ora, pelas lentes de Foucault, o antropólogo Leandro Colling declara “Como sabemos, Foucault, especialmente em suas últimas produções, destacava, onde existe poder, existe também resistência a esse poder[20]. Ao partir dessa ótica da relação poder/resistência, Colling pensa e problematiza-o desdobrando o conceito. Para ele, as pessoas resistem por que existe, ou seja, existir já é em si um ato de resistência já que o poder insiste e persiste nas macro e microrrelações e micropoderes, ou seja, existe o ato de dominar de um grupo diante dos outros e essa múltiplas maneiras de dominar levam, no caso aqui, os oprimidos, ditos subalternos a resistirem:
Temos até aqui, portanto, uma concepção de resistência que está atrelada a uma prática de resistir a algo que torna alguém subalterno. Isso certamente nos diz muito sobre como resistência tem sido operada, no entanto, essa ideia é bastante próxima do significado da palavra resistência tal como consta nos dicionários, ou seja, no seu sentido denotativo. (…) A minha pergunta é: isso nos basta para pensar a resistência? O que mais podemos pensar sobre resistência?[21]
Ao fazer uma busca dicionarizada, Colling responde a uma série de questões acerca do que significa resistir, pois segundo ele, resistir é um ato que está ligado a uma qualidade do corpo que reage contra ação de outro corpo, ou seja, os subalternos somente resistem por que existem práticas de relações de poder/saber que dominam majoritariamente os corpos marginais que fogem e escapam das normas de poder/saber que estão legitimados ao centro que é branco, hétero, cis, cristão e patriarcal.
Resistir, nesse sentido, é sinônimo de defesa, contra um ataque ou reação a uma forma opressora. Mas, devemos insistir com a pergunta: “O que mais podemos pensar sobre resistência?” creio que devemos ensaiar outras ideias e acionar outros dispositivos a partir de nós, negros e subalternos, pois podemos pensar resistência como dispositivo, como agenciamento, como práxis e como modo de vida que tenta desestabilizar e criar fissuras no discurso hegemônico e opressor. Propor políticas da escrita de si ligado à política da subjetividade é, sem dúvida, um ato de resistência.
Mas a escrita de si não deve satisfazer ao Estado, à igreja ou as familiaridades do pensamento. Mais que isso, ela deve incomodar, denunciar e atacar todas as formas segregadoras e opressoras. A escrita que não incomoda não tem valor nenhum. Por isso escrevo. Para me retirar da minha própria inércia e para desconstruir a mim mesmo. Escrevo para zombar de mim mesmo. Escrevo para subverter a ordem e instaurar o caos. Escrevo para promover a revolta, o espírito crítico. Escrevo por ter anseio de ser um espírito livre e poder voar. Escrevo também para promover alegrias múltiplas, pois a alegria é uma forma de resistência.
Escrevo, sobretudo, para existir plenamente no mundo. Não escrevo para a mesquinharia da vida. Escrevo para eu mostrar a minha soberania como gay e negro que aprendeu a erguer a sua voz e fazer uso da palavra. Escrevo para provocar o choque, o curto circuito, um efeito elétrico e a violência do pensamento. Escrevo para colocar a língua em vibração contínua e fazer do pensamento uma potência e da vida, uma obra de arte.
Escrevo por que vi na escrita uma potente máquina de guerra contra toda forma de opressão. Escrevo, por fim, para tornar suportável todas essas violências, reais, simbólicas e corpóreas que estão em meu corpo.
Mas escrevo ainda pra continuar existindo ao lado de outros gays negros, trans e mulheres travestis que são marginalizadas, animalizadas e desumanizadas a todo instante. Escrever pode ser uma estratégia de sobrevivência, um sinal que se coloca no papel para fazer alguém refletir, se emocionar e se tocar, no sentido amplo de se enxergar na vida, ser tocado pelo outro e por si mesmo, pois a escrita de si é o reflexo do espelho de como, de certo modo, nos vemos e nos situamos no mundo. A escrita de si é o passaporte para a liberdade.
Considerações finais
Propus pensar a complexa relação entre escrita de si, resistência e subjetividade, onde trago a minha experiência enquanto corpo subalterno negro, candomblecista, gay e algumas reflexões com o feminismo negro. Acredito que escrever é se perder diante de uma multidão anônima e revelar o mais íntimo de si mesmo, pois escrita e subjetividade formam um trança inseparável.
A partir da noção política de “escrita de si” e resistência pude me compreender enquanto corpo preto, que escreve sobre si e suas práticas artísticas e estéticas. Mais que isso, pude vislumbrar novas éticas e novas estéticas da existência preta. A escrita de si é a única maneira de contarmos a nossa história a partir de nós e nos empoderarmos enquanto sujeitos pretos. É na escrita que performamos e materializamos a nossa fala. É no momento que temos nosso lugar de fala legitimado e apelamos para uma escrita de nós mesmos que nos humanizamos plenamente.
A escrita de si é o lugar de [r]existência, da nossa afirmação enquanto sujeitos e da nossa plena humanidade. Aprendi a tomar a palavra, a erguer a minha voz e ter a escrita de si como ato político e revolucionário, pois quando aprendi a falar de mim mesmo e fazer da escrita testemunha da minha vida, me libertei, me reconheci e me afirmei enquanto sujeito negro para o mundo. Mas, afinal, por que escrevo?
Escrevo para me libertar e ter o direito de ser eu. Acredito que a escrita precisa ser um lugar de criatividade para expressarmos nosso múltiplos devires na vida. A escrita é o lugar do desabafo, da revolta e dos múltiplos afetos que povoam a nossa corporeidade. Escrevo porque sou afetado, afeto e quero afetar outras formas de pensar para promover deslocamentos, fissuras, rachaduras, tremores e mudanças no mundo.
Escrever também pode ser uma maneira de “mandar à merda”, pois às vezes a nossa semântica higienizada e autorizada obriga-nos a escolher as palavras para que a estrutura cognitiva as acolha e as acomode como um amém superior. O escritor deve se servir das palavras, performá-las, para sair da inércia e retirar o outro do comodismo discursivo. Escrever sobre si é também uma forma de descarregar a vida.
Escrever é tecer uma conversa infinita em forma de prosa sobre o mundo. A escrita não se separa do devir da vida, pois é nela que esses devires se encadeiam. É nesse sentido que é impossível falar da linguagem sem falar da escrita e da vida. Mas a escrita de si somente tem potência quando vier grávida de afetos, conhecimento, experiência e emoção. Por isso sentimento e subjetividade se conectam e nos fazem atravessar toda matéria vivida e vivível.
A escrita que não atravessa a matéria vivível e vivida não tem valor de nada. Escrever é exercitar a zona de vizinhança e indiscernibilidade com o pensamento de tal forma que não é possível mais distinguir-se de uma mulher, de um animal, de uma molécula. É na escrita de si que se encontra a potente vizinhança com a linguagem, saio da condição de objeto, me transformo e me afirmo enquanto sujeito negro ou negritude no mundo.
A potente fala ancestral de Beatriz Nascimento pode encerrar bem essa conversa e propor um novo giro da escrita de si como possibilidade de nós, negros, contarmos a nossa história:
Não podemos aceitar que a história do negro no Brasil, presentemente, seja entendida apenas através dos estudos etnográficos, sociológicos. Devemos fazer a nossa história, buscando nós mesmos, jogando nosso inconsciente, nossas frustrações, nossos complexos, estudando-os, não os negando. Só assim poderemos nos entender e nos fazermos aceitar como somos, antes de mais nada, pretos, brasileiros, sem sermos confundidos com os americanos ou africanos, pois nossa história é outra, como é outra nossa problemática. Num país onde o conceito de raça está fundado na cor, quando um branco diz que é mais preto do que você, trata-se de manifestação racista bastante sofisticada e também bastante destruidora em termos individuais[22].
No entanto, precisamos inventar novas fagulhas criativas para escrevermos uma nova história a partir de nós mesmos e fazermos da escrita uma obra de arte tomada por uma força política e que tenha um caráter revolucionário na expressão das nossas múltiplas subjetividades. Por fim, escrever sobre nós mesmos liberta-nos e se transforma, para nós, negros, em um ato de cura.
[1]O conceito de Negritude que pensarei ao longo do texto foi cunhado pelo poeta martinicano Aimé Césaire e no Brasil foi desdobrado pelo antropólogo Kabengele Munanga. Dois livros são fundamentais para aprofundar na ordem dos autores: Discurso sobre a negritude e Negritude: usos e sentidos.
[2]RAGO,2013, p.51
[3]SOUZA, 2021, p.45.
[4]NASCIMENTO,1982, p.49.
[5]KILOMBA, 2019, p.27-28.
[6]BIKO, 2017, p. 159.
[7]O conceito “Lugar de fala” vem sendo pensado pelas feministas negras. A filósofa, militante e feminista negra Djamila Ribeiro foi quem escreveu o livro Lugar de fala. A mesma organiza a coleção Feminismos Plurais.
[8]Epistemicídio é um conceito cunhado pelo sociólogo Boaventura Souza Santos (1996) que é conferir de morte e apagamento a produção subalterna e deslegitimá-la como conhecimento. Melhor ainda, assassinato da razão, da subjetividade e da humanidade do outro.
[9]MORIN, 2003, p. 9.
[10]NASCIMENTO, 2017, p. 47.
[11]RAGO, 2013, p.40.
[12]FOUCAULT, 2009, p.142.
[13]GONZALEZ, 2018, p.203.
[14]FOUCAULT, 2009, p.143.
[15]GONZALEZ, 2018, p. 308.
[16]DAMATTA, 1987, p. 56.
[17] DAMATTA,1987, p. 151.
[18] hooks, 2019, p. 39.
[19]CÉSAIRE, 1987, p.108-10.
[20]COLLING, 2022, p.197.
[21]COLLING, 2022, p 199.
[22]NASCIMENTO, 2021,p. 45-6.
Referências
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CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre a Negritude; Carlos Moore (organização)- Belo Horizonte: Nandyala, 1987.
COLLING, Leandro. A Cultura em tempos sombrios/Colling, Adriano Sampaio, organizadores.- Salvador: EDUFBA, 2022.
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DELEUZE, Gilles. Crítica e Clínica; tradução de Peter Pál Pelbart. – São Paulo: Ed. 34, 1997.
EVARISTO, Conceição. Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Dissertação de Mestrado. RJ, 1996.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: Editora Veja, 2009.
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NASCIMENTO, Abdias do. O Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 1a. Impressão. 2a ed. São Paulo: Perspectiva, 2017.
___________.O Negro revoltado/Organização e apresentação de Abdias do nascimento.- 2 ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por mãos negras; Relações raciais, quilombolas e movimentos; organização de Alex Ratts-1 ed.- RJ: Zahar, 2021.
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SANTOS, Souza, Boaventura. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 2 ed.- São Paulo: Cortez, 1996.
SOUZA, Santos Neusa. Tornar-se negro ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social; prefácios de Maria Lúcia da silva e Jurandir Freire Costa.- 1 ed._ Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
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Paulo Petronílio é escritor, professor e pesquisador. Pós-doutor em Teoria Literária e Performances Culturais. Doutor pela UFRGS. Pesquisa a representação na literatura contemporânea, literatura preta, afro-diaspórica e suas encruzilhadas literárias, estudos étnicos-raciais na narrativa, a escrita de si como narrativa, subalternidade, e teoria queer. Autor de “Performances na encruzilhada: estética e aprendizagem no candomblé”, entre tantos artigos e ensaios. E-mail: ppetronilio@uol.com.br
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