Elefantes em isopor azul


“…Com ELEFANTES EM ISOPOR AZUL a autora nos leva por um mergulho no abismo dos sentidos, explorando os secretos recantos das palavras para criar uma obra densa, cujas camadas vão se revelando a cada nova leitura. Entre o real e o metafísico, entre o sagrado e o mundano, entre o onírico e o simbólico, Pollyanna Furtado constrói um universo poético muito particular, com cenas em desalinho em meio a memórias nubladas, silêncios ruidosos e sóis noturnos – e desde a estranheza do título somos também acompanhados pelas mais diversas quimeras em forma de animal: o tigre que pisa macio sobre o poente, a raposa da fábula de Esopo, o gato se esticando no sofá, até encontrarmos, no meio de um labirinto de mistérios, a resposta em forma de verso: “A poesia é uma serpente / que agarro pela cauda. / Se vou pela cabeça, / ela me dá o bote.””

Segundo o crítico literário Tenório Telles:

” O discurso lírico de Pollyanna Furtado traz as marcas dessa subjetividade tensionada por um estar-no-mundo que se reveste de uma consciência afligida pela dúvida, pelo questionamento e reflexão sobre a presença e o sentido do próprio existir. Essa percepção evidencia a inquietude de um eu lírico que, embora tenha consciência de seu processo existencial, convive com a precariedade das coisas e com as projeções de uma subjetividade em desacordo com o mundo. (…)”

***

Sétimo céu

No adro branco,
o vasto onde passeias contido.
minha sombra
percorre aleias sem voltear
as flores da paisagem.
No jardim, roseiras rudes
à sombra dos salgueiros.
Entre as passadas
terra e granito,
gramas crescidas.
Entre jazigos,
eu, em seda azul,
túmida, ungida,
celebro o instante raro
de nossas vidas.

***

O imperador

Caminhas por essas trilhas silenciosas
e, na distância, te distingues de outras formas.
Teu corpo quente vibra e, segues,
resoluto, a correição das formigas.
Mas sem chegar a parte alguma.
Procuras sol e sombra,
repousas em uns barrancos verdes.
Miras, vertiginoso,
a avidez de um abismo,
espias as profundidades
com o horror de quem resiste
à contemplação do próprio espírito.

***

A fera

Um tigre pisa macio sobre o poente.
Rasga o solo ígneo com garras de opalina.
Um chão de transparências puras
abre-se dentro dos seus olhos.
eu me reconheci, ao longe,
distinta e sem paisagem.
Vi aquele monstro de sinuosidades
com a beleza rara das coisas eternas

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Pollyanna Furtado (1981) é paranaense radicada no Amazonas. Formou-se em Letras e especializou-se em Linguística pela Universidade Federal do Amazonas. É aluna de Mestrado em Letras – Estudos Literários (UFAM) e professora do ensino fundamental. Lançou os livros de poemas Fractais e À margem da luz (edição do autor, 2007), o ABC da Floresta Amazônica com Thiago de Mello (Conhecimento, 2008) e À Sombra do Iluminado (Editora 7Letras, 2017).





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