Romance-léxico


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Romance-léxico (quase 2 mil vocábulos sonoros incomuns) acompanhados de verbetes-aforismos verbetes-minicontos verbetes-contos verbetes-trechos-de-romances.

A. M. de Souza, Antenor Nascentes, Antonio Houaiss, Antonio da Silva Morais, Aurélio Buarque de Hollanda, C. F. de Freitas Casanova, Caldas Aulete, Cândido de Figueiredo, Carlos Costa, Fernando Andrade Cunha, Francisco dos Santos Azevedo, Francisco Fernandes, Laudelino Freire, Manfred Lurker, Mauro Villar, Otávio Miguel dos Santos huifa bebi nas águas lexicográficas de todoseles.

 

Em geral considera-se a palavra como sombra da realidade, como reflexo. Mais justo, porém, é dizer o contrário! A realidade é uma sombra da palavra.

Bruno Schulz

 

 

 

 

Para Graça Gisele João Rodrigo

 

 

A

 

Abacarimbaba – Homem valoroso

Ab aeterno – Desde a eternidade: “Medo hã estado aflitivo que me acompanha ab aeterno.” (Catrâmbrias!)

Abagualhado – Inculto; rústico; abrutalhado

Abaixar a proa – Abater o orgulho: “Doutorazinha-candorosa-de-olhos-amendoados aquela gosta de bater as adargas comigo catrâmbias! velha cambanganza aqui desde sempre soube sustentar o cerco; abaixo a proa de jeito nenhum; ixe nuvens im­bríferas apre ventania promete hã neca neres de medir armas com ele deus-temporal puh melhor rodar sobre os calcanhares vruummm sair furtivamente na direção dele mon petite chambre. “(Catrâmbias!)

Aba-moscas – Ninharia, bagatela

Abanto – Que é espantadiço

Abarbarado – Valente, bruto, grosseiro

A barrisco – Em grande quantidade: “Huuummm huuummm huuummm líquido fecundante saindo a flux a barrisco dentro dele oritimbó dela helena-piguancha huifa ai ui gostoso eita ela-eu-ele trio gemendo em uníssono huu­ummm huuummm huuummm delírio não eh-eh ele aman­te extinto sussurrava também hã sou sempre fui exímio nela leitura labial glugue glugue glugue banheira borbulhava huu­ummm huuummm huuummm; o homem descende mesmo de animais inferiores.” (Erefuê)

Abatufado – Que tem gordura balofa

Abdominoso – Barrigudo, pançudo: “Manhã calma cliente nenhum vou ler livro de contos dele Conrad Cooper que Seleno me emprestou… Dia destes despenco desta marquise; acrofobia daquelas; velhice se aprochega destemerosa; abdominoso; vista cangalha; cuidado, querido, dia desfavorável, advertiu minha fêmea atulhada até aqui de crendeirices; a influência gravitacional dos planetas é demasiado fraca diante das influências terrestres para determinar o caráter ou o destino de um angorá; que bom se ela minha consorte-felídea evoluísse na vida huifa! passando de astróloga a astrônoma; zonzeira dos diabos melhor descer zuuupt puh! meus saltos já não são nada-nada acrobáticos, tempos benfazejos aqueles em que eu intrêmulo conseguia dar uma volta completa no ar epa! ônibus quase me atropela melhor engatinhar sobre a calçada; cidade sem lei nem rei arre! vivendo cada qual segundo seus desejos; huifa! meu benevolu Hermes, protetor dos andarilhos, avistando aqui de baixo calcinhas das mulheres cujos corpos capitosos parecem untados com óleo ambrosíaco sou obrigado a concordar com Epicuro quando recusou a imortalidade da alma para pregar uma vida voltada para os prazeres do mundo;  huummm menino deixou cair bola de sorvete no chão chuipt ai! vassourada da velhota detraquê atingiu em cheio meu cangote  ui!  dar às gâmbias; gostaria de ter vivido sob o reinado de Saturno, quando os bens da terra eram comuns a todos; ui! sol abrasando o chão melhor ficar na sombra; fu! devoto de Baco quase vomita em mim; ih chuva repentina atchim! tudo é água apre! Tales estava certo ih! vou me esconder atrás do balcão desta farmácia puh! cheiro forte demais este me deixa num torpor daqueles atchim! minha fisionomia deve estar alvoroçada prenuncio epifanias ixe! antepassados egípcios sobrevoam o teto cruz-credo! éter sulfúrico me provoca idéias adventícias, melhor sair; ufa! entrar nessa loja atchim! epa! livraria esotérica meia-volta volver, mundus vult decipi, ergo dicipiatur ( o mundo quer ser iludido, seja, pois, iludido); hum chuva parou ih pitbull se desprendeu da coleira aie! torunguenga vem vindo  numa velocidade estonteante valha-me deus difícil admitir mas não deveria ter rejeitado as orientações astrológicas dela minha fêmea aaaaiiii!.” (Araã!)

Abespinhado – Que é fácil de se irritar

Ab initio – Desde o começo: “Arre sessentão abdominoso estólido ixe regime urgente aie olhos ardendo hã sempre assim vida toda ih ab initio pimba! vítima delas espumas sub-reptícias; água arrefentada ih chuveiro cafangoso ih preciso comprar outro logo-logo; huummm gostoso esfregar púbis plumoso com xampu; hum diacho solidão mais consultório psiquiá­trico aquele cheinho assim de estrabuleguices eh qualquer hora também fico zuruó-zoropitó de vez; humm gostoso esfregar púbis plumoso; huummm estou sendo possuído pelo fogo de Zeus huifa fogo celeste aquele que enfraquece mas nunca apaga; se ela Camila Pitanga estivesse aqui agora me enxaguando humm veni sanctificator mãos macias dela agora viajando quatro pontos cardeais deste corpo inóxio humm agora elas mãos-ambrosíacas estão roçando minhas virilhas hummm língua dela agora aqui na nuca huuummmm.” (Zaratempô!)

Ab intestato – Sem deixar testamento

Ablação – Cortar uma parte do corpo

Ablução – Ação de lavar-se antes de uma prece: “Abluções corporais não lavam remorsos.” (Erefuê)

Abjurar – Quebrar o juramento: “Não sejamos precipitosos hã doloroso demais praticar desatinos abjurar a justiça.” (Erefuê)

Abluir – Absterger com água

Aboleimado – Que se aboleimou: espantou, assombrou, pasmou: “Sim doutora a-hã 71 anos puh revelhusco aquele quebrou fio da vida dela minha vênus-veludosa que ele verdugo trôpego-trêmulo chamava de deusa-jambo puh agora estou aqui cheia de agonias enguiços cérebro tresvariando a miúdo juízo aboleimado coração reduzido a nada a pó a cinzas aie saudade pungente cruciante hã dia todo semana inteira pensando nela minha rota minha diretriz minha baliza meu leme minha bússola; sim doutora vinte e cinco anos tenho sim senhora a-hã primeira experiência deste naipe a-hã ela-eu nós duas huummm ouro sobre azul corpos talhados de molde um para o outro; sim olheiras a-hã três dias seguidos puh insônia daquelas apre pudesse viveria nele país dos Lestrígones onde as noites são curtas; dizia sempre alto-bom-som hã cuidado querida cuidado ixe poeta farsante aquele puh mais dia menos dia ixe sem dizer água vai tau! hã dito-feito; mas minha vênus-veludosa tomava como estabelecido farfalharia poética dele cangalho desumano; ixe doutora saudade inextinguível huummm corpo aquele lúbrico pubescente penujoso huummm diacho sem ela minha vênus-veludosa prefiro viver em eterna obscuridade nele país dos cimérios; sim era não nego possessiva xifopagia aguda talvez eh-eh queria tempo todo dias semanas meses ali conchegada coladinha nela hã fazer mais nada huifa planeta mundo universo tudo parado enquanto ela-eu nós duas huummm sim concordo doutora vida hã afazeres múltiplos a-hã relacionamento vesânico deste naipe desemboca fatalmente no descalabro mas nunca-jamais pensei em fazer feito ele velho zabaneiro trolaró aquele que tau! aie doutora cérebro meu carece deles desenredamentos desembaraçamentos que tais apre por favor ufa acho que vou desmai…” (Trabuzana)

Ab ovo – Desde o princípio: “Não vou tirar a roupa Antíciro, sexo oral, pronto, mais nada, nosso caso agoniza, chantagem never more, nem tudo gira a seu redor feito acontecia com Luís XIV da França, chega, desferrar as velas, singrar nos braços dela minha Díndima, minha ternura meu conchego minha chama inédita meu êxtase, amor nosso sim de vento em popa, você não, Antíciro, temporal tormenta tudo vogando aos dissabores da corrente, chega, adeus arrogância da força adeus prepotência adeus situação angustiosa, chega, minha fonte de perigo secou, hoje mesmo conto história todinha para eles meus pais, desde o início, ab ovo, como diria Seleno, sim senhor doutor, não vai sobrar pedra sobre pedra, chega de God save the king, conto tudo sobre minha homossexualidade tudo sobre você doutorzinho manda-chuva canalha, conto tudo todos hospital inteiro, vejam senhoras e senhores, doutor Antíciro probidade em figura de gente hã uma das fantasias dele doutorzinho aqui sexualmente desequilibrado é… ei Antíciro! que arma é esta por favor não  ati…” (Araã!)

À bambalhona – Com indolência: “Súbito chamo à memória hã sempre que acontecia tragédia pavorosa terremoto por exemplo aie noticiário televisivo mos­trasse em cadeia nacional placa numerada qualquer ixe ele con-tra-ven-tor baixava ordem incontinenti epa! aceitar de jeito nenhum naquele dia milhar centena que fosse apre nada respeitante ao número dela placa digamos catastrófica; tragédia propriamente dita fiau! frieza-em-pessoa olhava à bam­balhona; pai con-tra-ven-tor puh tempo todo vida inteira pro­gredindo na imperfeição.” (Catrâmbias!)

Abrejeirado – Malicioso, patife; brincalhão

Abscôndito – Absconso; escondido, oculto, esconso:  “Cultuando talvez dores abscônditas.” (Erefuê). “Triste melancólico demais descobrir agora que lembrança dela deusa-jambo hã minha única raison d’être diacho; às vezes chegava na portaria do prédio em que ela morava recebia incontinenti bilhete hã careço deles silêncios também hã volto às pessoas nos próximos dias adeus; sim amigo a-hã temos todos nosso momento-monge-trapista mas deusa-jambo ixe vez em quando espessas nuvens hã alma-anagrama; acho que ela tinha dentro de si amor gigantesco grande demais huifa necessidade imperiosa de distribuir tudo feito bolo em fatias; sim amigo concordo sensato seria tentar quem sabe jogar facho de luz num único canto do palco; talvez; ninguém conhece jeito nenhum os abscônditos caminhos da alma humana; cinco seis dias depois de reclusão absoluta huifa vem meu poeta revelhusco vem hum hum saudade dela língua-pluma vem hum hum huummm.” (Trabuzana)

Absconso – Escondido, oculto

Absímile – Dessemelhante; diferente

Acachafundar – Mergulhar

À capucha – Discretamente; sem ostentação

Acataléptico – Referente à acatelpsia; impossibilidade de compreensão; dúvida, incerteza: ”Difícil demais impossível talvez salvar do naufrágio tudo aquilo que há tanto tempo mergulhou no Letes mas diacho preciso-devo restabelecer da memória pelo menos a opacidade dele seu riso contrafeito cheinho assim de pirronismo; vejo agora-súbito-nitidamente aquele sorriso acataléptico; aquele olhar de quem carrega desde sempre à solapa descrenças a mancheias; você nunca soube mas sempre fez parte dela doutrina de Maskarin Gosala mestre hindu que trocando em miúdos dizia alto-bom-som que o ser humano será compêndio de todas as virtudes somente depois de cumprir um longo vagaroso angustiante curso de oitenta e quatro mil existências; antes seremos puh seres artificiais alquímicos eh-eh sempre gostei huifa ria às escâncaras quando você dizia (por telefone) com todos os efes erres: seres artificiais alquímicos; curioso: nunca discutimos sobre a existência (ou não) de Deus; você exalou derradeiro alento sem me dizer se acreditava nele; mano manguera aqui apre é a dubiez em pessoa; ultimamente hã niilismo daqueles; careço dele processo metanóico; coração escamurrengado que trago comigo pronunciou saudade nenhuma ainda não; sim concordo dois dias apenas ixe desabrochamento quase nenhum; primeira semana assim mesmo sei a-hã páramos dos sonhos; prefigurações nefelibatismo quejandos; também pudera diacho não queremos acreditar nunca-jamais no digamos sumiço ad infinitumde quem amamos; agora entendo porque somos feitos da matéria dos sonhos; falando nisso hã sopitável demais visão aquela dela nossa sobrinha Marcele: doze horas antes ufa sonhar com você implorando para se libertar dele próprio corpo aquele reduzido à última expressão; doença maldita hã malfazeja mãe de todos os demônios; fazer a gente se amoxamar aos poucos feito toco de vela num canto qualquer duma UTI; não querida não tive coragem de ver você dia nenhum nesses últimos meses; menos ainda dentro dela urna funerária; não acredito em nada mas tenho medo de tudo; são talvez os tais contrários heraclitianos; mas gostava às vezes de conversar com você por telefone; principalmente quando sua ironia ferina se desabrolhava in totum; entendia sim aqueles seus outros momentos desesperantes implorando a chegada imediata dele eterno descanso; mas ficava sempre triste diante dela minha impotência; um dia quem sabe vamos poder requisitar num cartório qualquer procuração divina para se dividir dores.” (Zaratempô!) “Hã qui sème des épines n’aille déchaux apre melhor cochilar pouquinho ixe quando fico de súbito acataléptica aie tento pôr albardas em mim mesma.” (Catrâmbias!)

Acatruzar – Importunar, amolar

Acepilhar – Alisar com o cepilho; aplainar: “Destino apre certamente não é algo que se acepilha com uma plaina.” (Catrâmbias!)

Achamboado – Estúpido: “Esperei três anos peguei cabeça dele tibungo glugue glugue glugue achamboado aquele se debatia a trouxe-mouxe eh-eh pudesse falar infeliz discordaria alto-bom-som do Eclesiastes puh dia dela morte é melhor que dia dele nascimento coisa nenhuma eh-eh; sou sujeito vingativo feito Nêmesis sim concordo; lamento doutor juiz nunca desde sempre consegui dissimular esse meu sorriso prosaico; sim senhor prefiro o riso de Demócrito às lágrimas de Heráclito; reatando fio da conversa digo-repito atoleimado aquele glugue glugue glugue pegou carona nas asas de Azrail eh-eh exalou derradeiro alento; bem feito fiau ninguém lambe buziu de mulher alheia impunimente.” (Erefuê)

Achamparrado – Baixo e gordo

Acúbito – Cadeira-leito em que os romanos se sentavam à mesa

Acurvilhado – Que ajoelha

Ad absurdum – Ao absurdo

Ad hoc – De uma maneira positiva

Adiáforo – Acessório; não essencial

Ad infinitum – Até o infinito

Adiposo – Balofo, obeso, muito gordo

Ad nauseam – Até a náusea: “Viver puh é formular ad nauseam axiomas adiáforos.” (Catrâmbias!) “Também repito ad nauseam: o réu é vítima duma esposa fac-similada de Afrodite aquela que copulou com um número incalculável de habitantes do céu da terra do mar.” (Erefuê) “Inquilinos do térreo fiau! continuam perpetrando barbaridades ad nauseam; dois seres-assaltantes do gênero abismo-mal­dade-sem-fundo obrigaram rapaz-vítima a cavar numa praia distante sua própria cova; impossível existir suplício mais violento; a-hã: vida apre inclinando a proa mais para o lado da linguagem alucinada de Bosch do que para a beleza transcendente dos afrescos monocromáticos dele Giotto.” (Zaratempô!)

Adregar – Acontecer casualmente

Aequo animo – Com ânimo igual: “Nenhuma em todo o mundo civilizado é superior à Enciclopédia Omnis; próprios consumidores ao longo dos anos substanciam aequo animo este irrefutável argumento; são vinte ciclópicos volumes esgotando todas as disciplinas do saber humano desde o umbral dos tempos; veja folheto explicativo… é, meu rapaz, em até doze vezes; sim claro tudo também sobre a sétima arte, quase setenta páginas, pré-história dele cinema, realização técnica invenção fundamentos apogeu gêneros tendências, tudo meu jovem sobre essa maravilha cinematográfica dos Lumière; falando nisso, manda-chuva milionário aproxima-se do cineasta francês Sacha Guitry, dizendo, Você meu caro confia à minha namorada apenas papéis sem destaquecomo por exemplo entregar correspondências numa bandeja; resposta dele Guitry, Pois muito bem de agora em diante vou encarregar sua protegida de só entregar cartas registradas.” (Araã!)

Aeternum vale – Adeus para sempre: “Sim amigo reinventar urgente outro mundo outros seres hã este aqui fiau! Pandora biraia aquela puh fechar nunca-jamais maldita caixa; vida aie troça chasco debique que tais hã melhor das hipóteses ploft desfecho vem em forma de infarto fulminante; vida eh-eh chufa motejo dela deusa-natureza; apre viagem serpejante hã camburão escamurrengado diacho; verdade concordo natureza seria duplamente derrisória se existisse exempli gratia reencarnação eh-eh recomeçar neca neres coisa nenhuma puh aeternum vale; minha deusa-jambo huifa venturosa babava-se de gosto pela vida huummm ânimo desde sempre desafogado huifa vivia em estado de bem-aventurança até que xô melhor esquecer caso estranho-imprevisto aquele ixe tau! sibilar dela bala continua ribombando aqui neles meus ouvidos; sim amigo minha deusa-couleur-de-rose a-hã fé sincera profunda ardente nela vida; mas sem utopias delírios panglossianos hã neca neres deles abalos por cantarejar de galos; íntima convicção fé desapaixonada; deusa-jambo era de temperamento naturalmente pirilâmpico; poder iluminante dela huifa; setenta longos expectantes anos huummm súbito vejo moça bonita olhos lacrimosos sentada sozinha nele banco da praça hã semana sombria aquela apre pai havia morrido recentemente ixe dor imensa ainda visitava amiúde peito aquele dilacerado hã curioso lembrar agora dele perpétuo devenir heraclitiano hum morte paterna foi o vir-a-ser dela minha nova-fagueira-fugaz vida de êxtase absoluto.” (Trabuzana)

Afaluado – Apressado; esbaforido; ofegante: “Pode sim meu filho a-hã senta aqui comigo no banquinho de madeira aúpa eh-eh desde sempre fiz isso hã desde quando você hã menino ainda puh afaluado que só vendo fiau! mamãe azarotada aqui levantava zás-trás bruscamente ixe filhinho catrapus! rabiosque no chão.” (Catrâmbias!)

Afincado – Perseverante, obstinado

Alfombra – Tapete espesso e fofo: “Sim minha senhora banco duro concordo; saudade delas alfombras que minha avó tecia; sei entendi filho seu condenado prisão perpétua puh parricídio apre dor dupla hã doloroso demais entendo; observação inoportuna perdão mas diacho curioso lembrar agora dele Saturno deus que devorava seus filhos assim que vinham ao mundo.” (Erefuê)

Aflante – Que bafeja

Aflogístico – Que arde sem chamas

A flux – Aos jorros: “Estamos revivendo a flux fora dos palcos a vilolência do teatro elisabetano.” (Erefuê!)

À fogança – Apressadamente

Afogar-se em pouca água – Apoquentar-se por pouca coisa

Afrouxar o garrão – Acovardar-se

Afuazado – Enfezado, irritado; espantado, assustado

A furta-passo – Sem fazer ruído: “Hoje é domingo quase noite; estou tiquinho de nada ofegante mas súbito ixe lábios ficaram tremulosos hã olhos umedecidos; deve ser efeito da voz umbrosa dela Billie Holiday; mentira: saudade chegou a furta-passo.” (Zaratempô!)

Agarrar-se às abas de (alguém) – Seguir com insistência

Agazuado – Que abre as fechaduras

Agongorado – Rebuscado, empolado, artificioso

Agradar a gregos e troianos – Agradar a dois partidos opostos

Água de barrela – De pouco valor

Agüentar o canjirão – Resistir

Aie – Interjeição que significa ai de mim!: “Escatalógico ixe Helena raptou a tradição aie feriu o espírito da rotina; nasceu de princípios irregulares; pelo jeito desde sempre tomou atitudes desprovidas de simetria.“ (Erefuê) “O saudosista aie proclama alto-bom-som a inabitabilidade do agora.” (Catrâmbias!)

Aiuê – Interjeição que exprime alegria, gracejo ou mofa: “Aiuê! Cálibe trabalhando ali na butique… oi querida quanto tempo… sei… também nunca mais falei com ele Androgeu, nunca mais… sim estou vendo, aliança na mão esquerda… perdão meu bem entendo cliente chegou até outro dia.” (Araã!) “Jabuticabeira anamnésica ali araã! suscita lembranças dela minha Mégara; viuvez às vezes dói demais; aiuê! memória grugulhando hã tempos felizes aqueles jovenzinhos nós dois quintal da casa dela, mangueiras assim de pássaros gárrulos, primeiro beijo aliás nós dois juntinhos encostados num pé de manga-rosa; vasilha assim de jaboticabas durava quase nada, dez quinze minutos se tanto; nada-nada preocupados em saber se existiu algum tempo antes da criação do Céu e da Terra; Mégara… lembrança dela minha Mégara míngua ainda mais meu horizonte. “(Araã!)

Alabregado – Grosseiro

Alambazado – Guloso: “Títio querido tragédia chegando de escantilhão; carecemos de escudos com poderes apotropéicos; morrer assim esmagada presa entre ferragens ah deusa-desventura atalhou violentamente existência dela Hepodâmia; sim… poucos amigos parente nenhum; enterro à laia dos funerais de artistas decadentes; não… sexo apenas sexo… instintos libidinais falavam mais alto… argumentar agora sobre qualquer outro tipo de inclinação hã hipocrisia; lassitude amigo Títio; calejamento; acúmulo de tristeza deixa coração impenetrável; sim… cabe mais dor nenhuma… concordo… nossas vidas entraram em recesso indeterminado; estamos vivendo ao acaso; somos dois velhotes cujos olhos são labaredas de rancor; cujo corações são buréis alambazados de laceramentos; pareço o gimnossofista da Tentação de santo Antônio hã quando conheço as coisas, as coisas deixam de existir; sim amigo nossas vidas de repente hã quadro dele Bosch.” (Araã!)

Alambre – Que tem lume no olho

Alarifagem – Esperteza, trapaça, velhacaria

Alarife – Velhaco

Alcândora – Cabide

Aldrabão – Trapaceiro, vigarista

Aldrabice – Trapaça; trabalho malfeito

Aldravona – Mulher trapaceira e mentirosa

Aldrube – Burlão

Aldrúbio – Trapaceiro: “Dependesse dele meu julgamento ele réu aldrúbio seria enforcado e seus despojos ficariam sobre o patíbulo até a decomposição.” (Erefuê!)

Alea jacta est – A sorte está lançada: “Diacho desde que ela minha anêmola levou descaminho puh sensação estranha aie acho que também assumi figura abjeta dele inseto repugnante; consigo mais ver meu rosto refletido no espelho hã consigo mais ficar nu diante de mulher nenhuma hã acho que interlocutor qualquer olha para este pangarave aqui fu! antojo antolho cousalousa; cérebro apre destrambelho só; alma embuscada coração enconchado nela tristeza infinita; sim entendi: amigo aí consegue jeito nenhum entente cordialeconsonância afinação com mulher nenhuma; a-hã: desde sempre; sei sei turra caturra inflexibilidade absoluta homem duro dos fechos encastelo no último reduto das idéias; intransigência em figura de gente; sei sei impossível sufocar deter a corrente dela sua ferrenhice apre intransigência ingênita; alguém disse alhures que nenhuma qualidade humana é mais intolerável que a intolerância; a-hã: prevalência delas suas idéias; sempre; sei sei amigo aí abre mão neca neres nunca jamais; inexorabilidade deste naipe apre desemboca ad nauseam nela solidão perene; alea jacta est diria poeta revelhusco enfatuado aquele que tau! nela hã você sabe.” (Trabuzana)

Alfario – Que brinca saltando rinchando

Alguergar – Adornar com mosaico de pedras miudinhas

Almandrilha – Conta comprida usada como enfeite por alguns povos africanos

Almanjarra – De enorme grandeza

Alumbrar – Alumiar

Alvorotar – Alvoroçar; agitar: “Corredor sombrio soturno este apre vida angustiosa solidão alvorotada xô murmúrio melancólico xô dolorosa inquietude hã agora aqui encomendando à memória as adversidades da fortuna.” (Erefuê) “Sete mil caracteres ufa tempo urge; amor nenhum nada patavina sombra de sombra apre vida angustiosa alvorotada hã tantos casais aí cidade adentro espocando champanhas trocando palavras dulcífluas lambendo corpos champanhosos xô murmúrio melancólico xô dolorosa inquietude; vejamos… não de jeito nenhum… melhor deletar este parágrafo… ninguém precisa saber que ele meu pai também… ufa o tempo urge; ah sim gostei huifa acho que vou completar os sete mil caracteres com este achado filosófico: solidão tem algumas vantagens como por exemplo ouvir com mais nitidez o som dela torrada estalando no céu da boca.” (Zaratempô!)

A mancheias – Em grande quantidade: “Arriar velas senhores hum deitar bálsamo em nossos ânimos: refrear os desejos contrários à razão; continuando assim hã logo-logo estaremos quem sabe distribuindo entre nós mesmos silogismos hipotéticos a mancheias; não estamos aqui para decidir (por exemplo) se Galileu deve ou não retirar a afirmação de que a Terra se move em torno do Sol; ou para tentar encontrar uma definição correta do dog­ma da Trindade; ou para discutir o retorno à cultura clássica gre­co-latina no séculoxvi; mas julgar Menelau cujo homicídio doloso é no meu entender inconteste.” (Erefuê)

Amarroado – Que tem corcunda

À matroca – Sem método: “Apre querida coração hoje ixe descompassado aie saltos bruscos hã batendo à matroca; safenado reincidente feito mano estólido aqui puh tempo todo pisando sobre terreno resvaladiço; adianta nada pensamento vogar em longas paragens lógicas pragmáticas quejandos fiau! impossível desviar seta fatal delas três Parcas aquelas que governam o destino; preciso desenvolver a arte de urdir paciência; hã difícil demais suportar estoicamente tanta tibieza cardíaca; mas sempre que me meto em desesperação minha-desde-sempre-inseparável-Graça diz alto-bom-som: xô pressentimentos lúgubres.” (Zaratempô!)

Amazelado – Quem tem mazela ou mancha na reputação: “Dez anos ao lado de helena-fuampa hã passado amazelado dela não vai se perder nunca-jamais no abismo do esquecimento; em matéria de fidelidade foi de jeito nenhum paradigma da ortodoxia; puh pensar que por ela helena-clódia aquela seria capaz de roubar o tridente de Netuno as flexas de Apolo a espada de Marte; tempo todo fui sim não nego pai-gonçalo; marido banazola; glugue glugue glugue dentro da banheira; ser humano puh desde sempre contaminado pelo pecado; violência apre existe ab aeterno: a Terra foi concebida  e cresceu de modo violento num caos de impactos fragmentações recozimentos; enxaqueca daquelas saí mais cedo do trabalho erê ela-ele ambos nus dentro da banheira de casa; minha própria casa; deveria ter zape! fatiado o farfalho dele antes do afogo; fecho os olhos ainda vejo nitidamente helena-bagaxa tremelicosa ensaboada olhar estupidificado tartamudeando sons inintelegíveis huumm corpo encíclico huummm parecia Frinéia cortesã aquela que foi modelo pra estátua de  Afrodite esculpida por Apeles; não resisti hum súbito virei helena-biscaia de costas huifa enfiei meu manzape no oritimbó dela; morbidez; ser humano este sim puh massa tosca e confusa.” (Erefuê)

Ambaiba – Urtiga

Amículo – Mantilha

A miúdo – Repetidas vezes: “Aie vida profissional de chapuz escantilhão cousalousa ixe melancolia daquelas; existência toda fiau! deixei correr o mar­fim hã nunca diacho mergulhei olhar nenhum nele futuro ih jamais pensei catrâmbias! em ser beneficiado pela renda de montepio coisa nenhuma; agora arre revelhusco ao realengo dependendo delas benesses de todos os naipes; deprimente; viver é meter-se a miúdo nas encóspias.” (Zaratempô!) 

Amor vincit omnia – O amor vence tudo

Amulherengado – Quem tem modos de mulher; efeminado: “Noite de núpcias huifa cidade montanhosa eh-eh frio fazia castanholar nossos dentes; dez anos depois ainda me lembro deles rapazes de sexo ambíguo dormindo no quarto parelho ao nosso; três dias inauditos; surpreendentes; noite seguinte dela nossa chegada rapaz amulherengado chega ex abrupto nele nosso quarto estendendo corbelha de flores dizendo à fogança sejam bem-vindos lindinhos;piratas perlustrando a costa; assim que anfitrião espanéfico desferrou as velas helena-hetera abriu envelope huifa somos em dois vocês também hum quarteto quem sabe hummm bem mais excitativo; bilhete elíptico lançou azeite no fogo dela minha Afrodite aquela urdidora de tramas, ah vamos meu menelau-samaritano ih ânimo imperturbável hã veja meu rosto huumm rosado de comoção ah vamos meu banazola hum experiência única eh-eh homem-mulher-dois rapazes de sexo ambíguo huifa idéia orgíaca esta excitou meu apetite; borboleta rompendo seu casulo; dei o calado como resposta cigarro sempre aceso na boca andei sozinho aos emboléus pelas ruas escuras da cidade hã lume itinerante; Caim condenado à errância; não havia mais dúvida: minha Helena de fala meiga suspiro persuasivo olhar eloqüente era um ser fúfio; mas cheia de berliques e berloques; artimanha em pessoa; tempo todo dez anos inteiros exerceu ascendência; badó aqui hã estigma de servilidade; desde sempre vítima dela heteronomia heleniana; vida toda me dominou com um simples franzir de sobrolhos; voltei pronto pro embate bacântico.” (Erefuê)

Amunhengado – Fraco, alquebrado, abatido

Anáfega – Macieira de frutos muito doces

Anaflasma – Masturbação: “Saudade deles momentos-anaflasma aqueles em que arre-burrinho aqui esperava Helena dormir de bruços pra depois hum manzape em punho chape chape chape me masturbar olhando de perto pertinho mesmo um metro se tanto frican­dó rechonchudo dela helena-madeleine meu bolinho prous­tia­no chape chape chape huuummm.” (Erefuê)

Anamnésico – Que desperta a memória: “Eh-eh acho que ela jabuticaba é anamnésica hã acontecimentos pretéritos surgem a flux nela minha cachimônia.” (Catrâmbias!)

Anastro – Que não tem articulações bem pronunciadas

Andando aos emboléus – Andando à toa

Andar à esparavela – Andar nu

Andar a flaino – Andar a passeio

Andar à lubre – Andar sem dinheiro

Andar à matroca – Andar à toa

Andar aos baldões – Sofrer contratempos

Andar aos cachopinhos – Andar aos pulinhos (feito coelho)

Andar às apalpadelas – Guiar-se pelo tato

Andar às desmaltas – Andar em questão

Andar às ochas – Bater boca

Andar com as mãos nas algibeiras – Andar ocioso

Andar de levante – Não descansar

Andar em bolandas – Andar aos tombos

Andar em pancas – Andar aos trambolhões

Andar no gamanço – Viver de roubos

Andar num sarilho – Andar numa roda viva

Andar numa atafona – Andar numa roda viva

Andejar – Andar ao acaso, vaguear: “Súbito restabeleço da memória ela minha mãe eh-eh pobrezinha ixe vida toda querendo ver filhos todos andejando nelas trilhas pedregosas da advocatícia puh água de barrela hã filho nenhum nasceu impregnado deles sorrisos sofísticos eh-eh.“ (Catrâmbias!)

Anga – Interjeição que signiifica pobrezinho, coitado: “Suicídio anga! assassinato narcíseo.” (Catrâmbias!)

Andar aos canhos – Catar miudezas

Andar aos trambolhões – Andar aos tombos

Andar às apalpadelas – Andar com hesitações

Andar às bulhas – Ralhar

Andar com a cabeça à razão de juros – Andar desnorteado

Andar de candeia às avessas com alguém – Andar de mal: “Arre lá! este nome nunca-jamais apre fúfio aquele cometeu cafrice imperdoável tau! três tiros nele próprio sogro aie hã genro-meu-cunhado-seu aquele puh candeia às avessas com ele deus-preservação ixe descende do anhanga em linha direta; nham nham nham gosto da estalejadura delas jabuticabas ploft no céu da boca; enfermeiro-régulo badalhoco (ozostomia daquelas) ali veja a-hã balandrau aquele fiau! aspereza de palavra em figura de gente puh sujeitinho díscolo apre tempo todo dia inteiro aie atroçoando dedos meus deles internos todos hã camunguengue cheio delas reverências-mesuras falsas puf pego nunca mais na mão dele xô nunca mais hã ao invés de sapatos brancos macios deveria catrâmbias! calçar cáligas ferradas feito eles soldados romanos.” (Catrâmbias!) “Sim minha senhora calor senegalesco concordo a-hã en­tendi filho-pai ambos desde sempre candeia às avessas um com outro; malquerença congênita; sei sei; pai alcoólatra filho drogado; sim verdade amálgama desastroso; homo homi­ni lupus; perdão ixe estava pensando alto; sim latim: o homem é o lobo do homem; jeito seria apelar pra elas Erínias aquelas cuja missão é proteger os pais da agressividade dos filhos; mas agora é tarde; acabou-se; grogotó!” (Erefuê)

Andar fora dos eixos – Ser mal comportado

Andar por atalhos – Não proceder clara e francamente

Ândito – Passagem estreita e elevada, ao longo de túneis ou ruas: “Revelhusco víndice aquele dizia tempo todo pra ela minha vênus-veludosa que romance nosso fiau! absurdeza hã mulher-mulher ixe desconchavo de marca maior puh se ele ser-declínio-ocaso aquele conhecesse os onze livros delesPoemas Cípricos que precederam a Ilíada eh-eh saberia que em todos ixe relação homem-mulher puf água de barrela hã acaba mal; mas ele velhote filógino esturvinhado insistia ah minha deusa-jambo ixe aquela fúfia transcende a possessividade hã fulaninha quer ser você hã quer exempli gratia transformar sua música preferida na música preferida dela; a-hã entendi doutora: atmosfera psíquica de difícil entendimento; verdade uma só: desde sempre gostei muito excessivamente não nego dela minha vênus-veludosa; queria sim não nego que ela-eu huumm dois raios do mesmo sol; arremedilhos aqui-ali-acolá não nego mas puh fac-similar nunca-jamais a-hã alter ego neca neres não senhora doutora exagero zelotipia dele revelhusco aquele puh espero doença-sapo-concho qualquer comece agora mesmo obra de devastação a passos contados lentos no corpo já escamurrengado dele potréia aquele; minha vênus-veludosa vez em quando tatibitate burro entre dois feixes hã deixava prato da balança pender pro lado dos argumentos sofísticos dele desmangolado que convenhamos reconheço mestre-remestre na arte de abrir brecha nela muralha; revelhusco desde sempre excedeu à expectativa; a-hã sim senhora doutora verdade também fui levada pelo canto-sereia-poético dele femeeiro duma figa; uma única vez; sim gostei não nego; bacântico conhecia ânditos veredas atalhos caminhos todos dela voluptuosidade; homem estranho aquele hã sub-reptício hã colecionador delas reticências hã poeta de alma abscôndita; minha vênus-veludosa crendeirice-em-figura-de-gente engolia patranhas amiúde até que tau! puh diacho de repente vida ficou lúgubre tenebricosa apre juntinho dela huifa dias huummm esplendidez daquelas aie doutora preciso eduzir dor profunda encastoada nele meu peito.” (Trabuzana)

Anfímalo – Pano de lã, que os romanos usavam para agasalho

Angurriado – Acabrunhado; tristonho; angustiado: “Não vou não devo visitar ele Androgeu; coração dele avelhuscado angurriado aqui carece de nobreza.” (Araã) “Ah se esta velha angurriada aqui tivesse poder bíblico colocaria muitos itens no índex pecaminoso pra ela nossa existência ficar eh-eh mais excitante.” (Catrâmbias!)

Anhanga – Espírito do mal: “Ah doutora-candorosa-de-olhos-amendoados huifa tenho não senhora a alma seráfica dela santa Teresa de Ávila mas também não sou puh o anhanga em figura de gente; nem sempre andando sobre ovos com passo titubeante tampouco distraído feito ele Tales primeiro filósofo aquele que caiu num poço quando contemplava os astros; áureo meio-termo; não tenho o self-control budista mas estou longe distante mesmo de sofrer amiúde delírios persecutórios à maneira dele Rousseau; não sou digamos libertina feito ele Aretino mas também catrâmbias! segui nunca-jamais à risca ela parábola do bom Samaritano: há uma medida nas coisas; não sou adepta fervorosa dele Proudhon tampouco entusiasta delas utopias de Campanella Bacon More Fénelon quejandos; no meio está a virtude; não nasci para imitar os heróis de Plutarco mas nunca abandonei vergonhosamente o escudo feito ele Arquíloco; desde sempre adepta dele topos dantesco segundo o qual a dúvida agrada não menos que o saber; sábia sensata serena; vivo entre a agressividade e a subserviência; feliz sim sei abstrair; às vezes fico dias seguidos recolhida em mim mesma; sou au fond uma estóica; não pertenço àquela escola que afirma que todo ser humano pode em princípio ser seu próprio especialista nem àquela outra que acredita que apenas os bem-dotados são capazes de descobrir as verdades universais; nem tanto nem tão pouco; sou em síntese um exemplo paradigmático da moderação.”(Catrâmbias!)

Anódina – Insignificante, medíocre: “Fazia tempo mais de cinco meses talvez não ficava assim sentado num banco de praça; tirar sapatos ufa! pés continuam inchados; Títio sempre acertou em cheio mas desta vez hã diacho de pomada anódina; idiotice delas velhotas candorosas aí alimentando pombos; babá bonita aquela huifa! saia curta pernas torneadas eh-eh! curioso lembrar dela cidade ideal de Platão onde todas as mulheres são esposas comuns de todos os homens; teria paciência jamais hã ficar assim feito brocoiós jogando horas seguidas, quero morrer ativo, nunca jamais terminar os dias na janela obsidiando a vizinhança, aposentadoria não me fez entregar os pontos não mesmo epa! sujeitinho lusco-fusco vem vindo ixe! assalto logo cedo meu Deus; tenho não moço, lamento, parei há vinte anos, ameaça de enfisema pulmonar toc toc me fez abandonar de vez dele cigarro; leva essas moedinhas, toma; bom dia minha senhora; bom dia coisa nenhuma, manhã morreu, hora do almoço já; ando sem apetite, sanduíche de queijo quem sabe, é, suco de laranja sanduíche de queijo, pronto, cardápio escolhido; Mégara querida cujas palavras sempre granjeavam afeto estivesse aqui agora diria,Olho vivo na úlcera Seleno, sanduíche demais, cuidado.” (Araã!)

Anômalo – Que apresenta anomalia; irregular, anormal: “Sim senhor gosto mesmo de fazer vez em quando caminhada no quintal sombroso desta cacimba anômala.” (Catrâmbias!)

Anômico – Relativo à anomia; ausência de leis: “Condeno; deploro sociedades anômicas; não se deve viver nunca jamais à sombra da lei; mas também deploro aqueles que forçam a espada da justiça; devemos agir segundo as prescrições do Direito; no caso-específico-Mene­lau hã boa paga para o seu tabaco; tumba catumba!.”(Erefuê)

Anônfalo – Que não tem umbigo

Antropoteísta – Que diviniza a humanidade

Ao arrepio – Em contrário

Ao realengo – Entre as moscas: “Vejo amiúde miseráveis dormindo ao realengo nelas calçadas da cidade apre vida-absinto-amargurosa deles indigentes deixa mano barbalhoste aqui num desconforto daqueles fiau! sensação de impotência-fracasso-cousalousa hã faço parte dela multidão sonâmbula; a-hã: Adorno; haverá mesmo conforme garantiu são Paulo utopicamente huifa um mundo em que todos os homens serão iguais e perfeitos aos olhos de Deus?” (Zaratempô!) “Mégara minha Mégara não deixe nossa menina assim de súbito se desgarrar do porto deixando nós dois marido-pai ao realengo, por favor querida interceda junto dos anjos em favor dela nossa Himália agora ali em estado agonizante.” (Araã!)

Ao sabor da maré – Ao acaso

Aos baldões – Aos tombos; aos trancos e barrancos: “Glugue glugue glugue huifa! refrigerante seu gelado mesmo; não meu jovem, trocado nenhum, lamento, ah, cobra também tablete de chocolate daquele ali pra facilitar; ei menino, pra você; cidade cada vez mais atafulhada de pedintes; sim meu jovem, verdade, triste demais; fazemos parte duma sociedade onde prevalece o indiferentismo, cada qual com seu saraquá; bem de todos, não a própria vontade particular; Rousseau hã foi ignorado solenemente; veja, chusma de descarrilados andando aos baldões; versão moderna dos Ferini, criaturas brutais aquelas que vagueavam a esmo pela terra depois do Dilúvio.” (Araã!)

Aos emboléus – Aos encontrões: “Apre arre lá! quero de jeito nenhum excitar compaixão eh-eh deixa sua mãe zuruó-zoropitó aqui quietinha no pátio andando aos emboléus deixa filho.” (Catrâmbias!) “Destrambelho e solitude andam a passo igual são borboletas angustiosas que se revoluteiam aos emboléus em torno de si mesmas.” (Erefuê) “Diacho sempre que vejo indigente feito este aí andando aos emboléus descalço esmolambado plasmado pela deusa-desventura hã curiosidade borbulha… vontade seria conhecer itinerário dele pobre-diabo desde os primeiros passos…” (Araã!)

Ao tró laró – Sem juízo nem disciplina; sem ordem

Ao viés – Em diagonal

Apertar a cravelha – Insistir: “Aperto a cravelha digo-repito pai dele réu deveria ter seguido os abelonitas aqueles que viviam no celibato e adotavam filhos dos outros.” (Erefuê!)

Ápice – Do ponto mais elevado; mais alto grau: “Sentar aqui neste banco de praça ufa! Mégara minha Mégara envelhecer é ficar desemparelhado do mundo; exílio involuntário; nossa filha nosso genro de repente pluft! ambos longe das vistas; Mégara minha mégara estou só; caminho para o ocaso; reverencio o deus-desengano, venceu; inútil tentar deter galope apocalíptico: infortúnios chegam a trote rasgado obedecendo espora do cavaleiro; nosso querido Títio também foi lançado em profunda tristeza hã filho morrer assassinado é dor centuplicada hã ápice da pirâmide do sofrimento hã transcende qualquer gesto; preocupe não querida, desabafo, sou resignante, sempre fui.” (Araã!). “Assassinato é o ápice da pirâmide do ódio.” (Erefuê)

Aplastado – Sem ânimo

Apneusto – Que tem a respiração suspensa

Apombocado – Bobo

Apoplético – Irritado, acalorado: “O assassínio emerge de almas apopléticas.”

Aporética – Estudo das aporias; conflito entre opiniões, contrárias e igualmente concludentes: “Vida toda apre cheia delas argumentações aporéticas hã nunca chego a lugar nenhum diacho.” (Catrâmbias!)

Apotropaico – Símbolo protetor contra vários tipos de encantamento; amuleto: “Semana-adversa-hidra-de-lerna diacho dificuldades se multiplicam à medida que vão sendo superadas puh preciso ex vero adquirir objeto apotropaico qualquer.” (Zaratempô!)

Apre! – Exprime raiva, desaprovação; desprezo: “Apre outra vez às voltas com ela minha solidão primitiva.” (Erefuê!) “Pobrezinha hã professora careca voltou ixe en dépresse aie cabeça enfaixada apre vivendo sobre os escombros da esperança; somos todos seres-dédalos puh tempo inteiro criando labirintos para nós mesmos.” (Catrâmbias!) “Idéia aquela sobre cidade imaginária Pasárgada eh-eh crescendo a olhos vistos; árvores enormes centenárias cujas raízes se espalharão por debaixo das construções provocarão sim rachaduras dramáticas mas neca neres nunca-jamais ninguém poderá cortar galhinho sequer; lei pasargadense acho será severa com eles infratores; infringente sempre sujeito apre pena de morte eh-eh de tédio; autoridades poderão talvez obrigar desrespeitador a ouvir – dia todo mês inteiro – o bem sucedido fabricante de naftalina Gregor Samsa contar que quando certa manhã acordou de sonhos intranqüilos apre encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto gigantesco patati-patatá; preciso pensar melhor; pouco a pouco quem sabe rasgo novos horizontes.” (Zaratempô!) “Apre dane-se o misticismo aritimológico do pensamento pitagórico.” (Catrâmbias!) “Viver apre é investir nela morte diacho.” (Catrâmbias!) . “Apre! barulho este me deixa em pânico, trauma, desde aquele tenebroso dia, cinco anos atrás, Mégara minha Mégara agonizante nos meus braços dentro daquela ambulância, instante decisivo, exalando derradeiro alento de repente hã pode desligar a sirene, moço, precisa mais não.” (Araã!)

Araã! – Exprime surpresa; saudade: “Hum vontade súbita de beber caldo de cana… huifa! gostoso gelado araã! Mégara minha Mégara você estivesse comigo agora tomaria dois copos ulalá num fôlego só; sim meu amor você gostava de caldo de cana hã limão sem constrangimento.” (Araã!)

Aracaranga – Papagaio

Aranzel – Conversa longa, fastidiosa: ”Vizinho nosso jovem ainda tau! causou a própria morte; suicídio apre deve ser talvez o fim de uma dolorosa angustiante luta do indivíduo contra si mesmo; ah querida sim sei oito nove anos atrás ixe ainda bem que você eh-eh deu por assim dizer com o navio nos cachopos; sim huifa tentativa digamos infrutífera; curioso: jamais tocamos no assunto; a-hã esquivança mútua; questão convenhamos delicada embaraçosa puh meada de difícil desenredo; sim minha irmã você tem razão: tema muito constrangedor principalmente pra quem protagonizou o malogro; mas hoje tanto tempo depois fico pensando nele seu desespero; cérebro hã aranzel só; bacafuzada daquelas; momentos antes horas minutos sabe-se lá você no auge do derrotismo ixe perdida em conjunturas arre decisão ainda ambígua hã tremeleando talvez num oceano de dúvidas súbito tau! tentativa dela morte voluntária; mas empenho ainda bem não levou ao sacrifício da própria vida; sim entendo querida: você quando abriu outra vez os olhos puh nada neca neres outro mundo coisa nenhuma ixe tudo continuava eh-eh como dantes no quartel de abrantes; sim entendi minha irmã: nosso pai-trovador diria de pronto: braço ferido orgulho abatido; suicídio hã essa síndrome episódica talvez; difícil demais saber a natureza dos móbeis que determinam tal atitude extremosa; suicídio puf! prova de covardia garantiu Flaubert; penso de modo diametralmente oposto.” (Zaratempô!)

Arear caçamba – Agradar para obter vantagens: “Não quero nem preciso arear caçamba hã vingança é feito ela Xaratrupa deusa hindu: tem cem formas.” (Erefuê!)

Aretologia – Estudo da virtude: “Lendo hoje cedo manchetes de jornais numa banca murmurei convicto: está decretado o fim da aretologia.” (Zaratempô!)

A revezes – De vez em quando; às vezes

Argucioso – Que encerra argúcia; sutileza de raciocínio: “Evasivo feito eles versos oraculares; chega de argumentos arguciosos; não estamos aqui para dis­cutir (por exemplo) a noção kantiana da idealidade transcendental do espaço; ou as epidemias as guerras os flagelos sociais malthusianos; ou se convém viver outra vida que não esta ou ser condenado ao nada eterno; Menelau provocou o desfe­cho fatal dum semelhante; é sem sombra de dúvida passível de punição severa; precisamos tratar o criminoso segundo sua própria lei.” (Erefuê)

Armar ao pingarelho – Querer comover alguém

Arquejo – Ato de arquejar; respirar com dificuldade; arfar, ofegar: “Ah doutora-candororosa-de-olhos-amendoados ixe já estive perto deles últimos arquejos aie ela (toc toc toc) morte chega modo geral travestida de purgativo à la óleo de rícino invisível.”   (Catrâmbias!)

Arrastar às gemônias – Opróbrio público; ignomínia, desonra: “Impossível apagar tudo-todos principalmente domingo aquele em que ela helena-saca-trapo desde sempre transbordante de safadice despenhou mais uma vez em desvarios me arrastando às gemônias; jantar de aniversário de quinto ano de casados; exagerei no vinho; mesmo trancucho percebi horas tantas que ele garçom-apolo essência da cortesia havia deixado pedacinho de papel dobrado debaixo da taça de vinho dela minha Afrodite; fiz vista grossa; enrubesço fico bisonho es­quivoso comigo mesmo quando penso que expedientes pérfidos aqueles acendiam meu apetite depravado; helena-perspicácia eh-eh tirava proveito dela minha digamos nebulosa anomalia sexual me excitando com a possibilidade dum mé­nage à trois; mas não dobrei a cerviz fiz parede ao meu próprio desejo; garçom-apolo aquele certamente substanciou a lista dos possuintes múltiplos do xenhenhém dela helena-tân­talo hã eterno penhasco suspenso sobre minha cabeça; diacho nunca ninguém homem nenhum precisou vencer batalha alguma para levar minha Helena; tormentoso demais andar tempo todo às testilhas com eles caprichos da deusa Tentação hã desde sempre caminhei entre abismos e desfiladeiros. “ (Erefuê)

Arrastar o surrão – Bravatear

Arre – Interjeição que exprime cólera ou enfado: ”Vejamos… frase desestruturante aquela dela minha mãe arre nunca saiu da ca­chimônia; tatuagem encefálica parece: seu pai é tarado; impossível desde sempre lançar véu sobre sentença deste naipe assim tão erup­tiva; tarde toda andando a trouxe-mouxe pelas ruas; menino ainda onze doze anos se tanto; me sentia desprovido de corporeidade alma inteligência vida forma razão tudo; ela minha mãe azamboada pensou que filho mais velho eh-eh preparado para absorver com madurez devastadora confidência; qual nada; quarenta cinqüenta anos depois frase dilacerante continua rompendo meu equilíbrio.” (Catrâmbias!) “Viver arre é uma experiência malsucedida.” (Erefuê!) 

Arre-burrinho – Pessoa de quem todos zombam: “Passa a mão na corcova dele, meu filho, passa, dá sorte, costumam sugerir mamães cruentas, eu, vida toda um arre-burrinho, já me acostumei com essas insonolências, suporto tudo sem  tugir nem mugir, principalmente, desde aquele dia, cinco anos atrás, quando você me viu pela primeira vez, e gritou, corcundinha, vem lamber a bucetinha da sua putinha, nham, nham, nham, sou desmangolado despudorado sim, mas é aqui neste quartinho lilás que esqueço, por algumas horas, do meu defeito de fabricação, nham, nham, nham.” (Grogotó!)

Arre lá! – Chega, não agüento mais! : “Arre lá! miséria borbulha no crisol da desigualdade.” (Araà!) “Não, não, muito mais, 500 e tantas espécies, ficam paradinhos no ar, poxa, o beija-flor é uma beleza, voando em linha reta faz até74 km por hora; sim, é verdade, o atobá chega a 110 km; vamos com calma, colega, acho que você tá fazendo confusão, esse pássaro que tem o costume de cavar o ninho na madeira mole não é o bico-virado-carijó, o nome certo dele é bico-virado-miudinho; voa sim, você tem  razão, o condor voa a mais de 8.000 metros de altura; andorinhas… bem lembrado, a velocidade normal delas, durante a revoada é de 80 km por hora, arre lá! tô há quase quinze anos aqui dentro diacho ainda levo susto com o barulho delas malditas sirenes apre vamos pro pátio colega vamos huifa hora da gente tomar banho de sol.” (Grogotó!) “Arre lá! cultuando talvez dores abscônditas que transcendem o plano da existência terrena.” (Erefuê!)

Arrefentado – Um tanto frio

Arrepanhado – Avaro

Arreminado – Zangado, irado: ”Xô seres brocoiós duma figa tartamudeando ad nauseam sons ininteligíveis apre dane-se a sabedoria campesina dos Erga de Hesíodo hã danem-se os mistérios da transubstanciação arre estou interessado coisa nenhuma nela verdadeira significação da isotopia xô inúteis escaramuças xô sacerdotes sem deus xô seres arrepanhados arreminados fiau jamais souberam abstrair eh-eh xô idéias abstrusas xô esperanças que se esvaem no nada xô a acídia o tédio o torpor aie xô dias frios pobres enfadonhos puf quero saber neca neres de jeito nenhum se a alma é um sopro de Deus se o amor mantém unidos os quatro elementos se os anjos são criaturas incorpóreas se a semente vem antes da planta se obliterar significa extinguir apagar fazer desaparecer cousalousa se Hiroshima a propósito não deixa obliterar o poder destrutivo do homem.” (Catrâmbias!)

Arrepiar caminho – Retroceder: “Quero jeito nenhum arrepiar caminho mas diacho bom seria se todos pudessem carregar a tiracolo lenho falante feito aquele que ficava na proa dela nau dos Argonautas dando rumos advertindo perigos.” (Erefuê!)

Arriar bandeira – Render-se

Arrufadiço – Irritadiço

Arrufianado – Quem tem modos de rufião

Arrufo – Agastamento passageiro

Arruído – Desordem, tumulto, briga: “Estou desorientada claudicante debatendo-me na incerteza; hesitando entre afirmar e negar; verdade é que (tal qual Sancho Pança) não quero mais me meter em ar­ruídos e pendências.” (Erefuê)

Árula – Altar pequeno

Arvorar-se em – Assumir um cargo por autoridade própria

Às canhas – Ao contrário

Às escâncaras – À vista de todos: “Coveiro eh-eh ser que solidifica às escâncaras nosso declínio definitivo.” (Catrâmbias!)

À sobreposse – Contra a vontade

À socancra – Pelas caladas; à socapa

À solapa – Às escondidas

À Sorrelfa – Sorrateiramente: “Amigo-filantrópico-Celso-generosidade-em-figura-de-gente expôs dia desses ladrão deprecatado à irrisão pública: ao surpreender dito-cujo flibusteiro brutamontes retirando à sorrelfa toca-fitas de seu carro zás-trás golpe sufocante ixe braço no pes­coço eh-eh pobre-diabo dele pandilheiro ufa remissão de culpas em pessoa; revelação: amigo Celso huifa simbiose são Fran­cisco-Bruce Lee; ah querida boi sabe a cerca que fura hã mano banazola aqui neca neres desde sempre destemidez nenhuma.” (Zaratempô!)

Assaralhopado – Espantado: “Dia qualquer padre Macunaíma estará em sua casa lendo Are­tino possivelmente; silêncio será quebrado por um barulho de vidraça estilhaçando-se; nosso pároco fechará o livro e irá até a porta da rua e verá um grupo de marmanjos segurando ga­roto assaralhopado ixe estilingue em punho; grito súbito aplacará a ira do populacho insurreto; será padre Macunaíma pondo ordem no bulício dizendo alto-bom-som esta frase que surtirá talvez efeito dispersivo imediato: AQUELE QUE NA INFÂNCIA NUNCA QUEBROU UMA VIDRAÇA HÃ QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA.” (ZARATEMPÔ!)

Assarapantado – Atrapalhado, espantado

Assurgente – Que se ergue

Astático – Que não tem equilíbrio

Atafulhado – Cheio demais: “Mégara minha Mégara huifa! ficaria orgulhosa deste meu macarrão alho-e-óleo; garrafinha de nada exagero nenhum, vinho você sabe sempre trouxe sono mais depressa; hummm buquê epifânico digno dele Dionísio deus do licor fermentado; Mégara minha Mégara envelhecer é catalogar perdas; é atafulhar o coração de saudade; é ser Narciso nostálgico que acha feio o que não é espelho retrovisor; impulso natural é olhar para trás tal Orfeu perdendo também nossa única chance de enganar a morte; macarrão está gostoso sim huifa! néctar manjar ambrosia ulalá; curioso lembrar agora do chefe militar romano Lúcio Lúculo… numa das poucas vezes em que jantava sozinho, chamou cozinheiro às falas por ter preparado refeição digamos chinfrinada; mestre-cuca explicou não ter achado necessário suntuosidade alguma pois não havia convidados; general contestou, Mas o quê está dizendo! não sabias então que hoje Lúculo janta na casa de Lúculo?” (Araã!) “Guia os passos de quem tem sede inexaurível de saber; traz a lume as profundezas abismais da ciência; Omnis, contêiner atafulhado de sabedoria; sim minha senhora, quase tudo sobre religião: etimologia conceituação mito e cultura sistemas simbólicos observância e experiência, quase tudo; digo quase tudo porque enciclopédia realmente séria não trata convenhamos das promiscuidades papais verbi gratia; muito menos deles bispos que se apoderavam das côngruas episcopais; são intrigas irrevelantes, oposicionistas quem sabe; inútil saber que ele papa Sisto III foi julgado por ter seduzido uma freira; que João XII foi acusado de transformar o palácio sagrado em harém ou prostíbulo; que Bonifácio VII saiu furtivamente com o tesouro papal; que Gregório I comprou o pontificado; que no tempo de Clemente VI Baco e Vênus davam as cartas; que Paulo II era homossexual; que Alexandre VI mandou envenenar vários cardeais ufa! quantas intrigas; sim minha senhora perdão perdi a rota mudei de rumo; reatando fio da meada: Omnis é diamante de primeira água, prodigaliza benefícios, desfia comparações; sei entendi deixar folheto filho depois decide.” (Araã!)

Ataraxia – Tranqüilidade, serenidade: “Vida apre palavra antônima dela ataraxia.” (Catrâmbias!)

Ataroucado – Apalermado

Atassalhar –Fazer em pedaços, dilacerar: “Ixe súbito saudade atassalha peito cafangoso deste velho banazola; deusa-jambo huifa transportava-me em êxtase: vem meu poeta prístino huummm quero sentir sua língua-pluma rastejando neles quatro pontos cardeais dele meu corpo-frescor-da-mocidade; huummm sabor jambo huifa fazia meu niilismo minha descrença na raça humana cair do pedestal ficar na penumbra puh soçobrar no negro abismo da infâmia; perto dela deusa-néctar minha completitude era naturalmente panglossiana huifa vida ardia numa esperança ruidosa; a-hã olhos outra vez gotejantes; apre estrada trepidosa diacho; sim amigo aí nunca encontrou deusa neca neres coisa nenhuma neles seus 40 anos desafortunosos a-hã entendi: vida toda hã vicissitude tropelias da sorte cousalousa; mas eu também amigo eu também hã setenta anos desesperançosos; deusa-jambo aquela foi meu quase-fio-de-Ariadne; apre pena que xô tau! tiro dele revólver continua ribombando aqui neles meus ouvidos.” (Trabuzana)

Atávico – Hereditário: “Oportuno salientar que ela Helena — por tara congênita ou determinismo atávico — era uma degenerada de mão-cheia.” (Erefuê) “Rigoroso austero no cumprimento de seus deveres; probidade atávica talvez; o senhor jurado 3 é a própria essência da beatitude.” (Erefuê!)

Até–xuré – Anta

Atochar – Apertar, adstringir, confranger, estringir, oprimir

Atolambado – Tolo: “Ainda não morri por arte de berliques e berloques, como diria meu avô; dia desses recebo um trampesco bem dado na fuça, babau; preciso me conter, ser menos impulsivo, ficar sempre de bico fechado, domesticar a minha linguagem chula, patatipatatá; pensando bem, nasci assim, não dou quartel aos inimigos, esses idiotas, bando de seres repetitivos, sem imaginação, pois sempre que se aproximam, os atolambado vão logo dizendo, purutacotataco, dá o pé louro, dá; impossível não responder de chofre, enfia esse dedinho no cuzinho.” (Grogotó!)

Atoleimado – Tolo: “Helena tempo todo praticou falsidades revoltantes; encobriu intentos; enfiou Menelau pelo fundo de uma agulha puh explorou a credulidade do marido atoleimado.” (Erefuê!)

Atortemelado – Que não tem firmeza no andar

Atravincado – Bem seguro

A trecho – De quando em quando

Atreito – Propenso; que tem inclinação para: “Com o tempo descobri que ela apre talento nenhum para qualquer forma de monogamia; a-hã: minha anêmola; coração multifário; alma partilhadora; temperamento empírico especulativo atreito aos meandros deles relacionamentos heterodoxos; a-hã: jovem-velho mulher-mulher quejandos; fazia ouvidos moucos; mais vale ruim composição do que boa demanda; curioso você lembrar agora eh-eh ATÉ O MAIS CONSERVADOR É CAPAZ DO RADICALISMO DE MORRER; a-hã: Kafka; aforismo; verdade: Kleist Flaubert huifa seus escritores favoritos; sei sei amigo aí gosta muito dele a-hã zombeteiro gracejador sim sim sabia eh-eh ele Flaubert leu-pesquisou quase setecentos livros das mais diversas áreas para escrever Bouvard e Pécuchet; realmente hilariante; sim dramaturgo alemão a-hã Kleist uniu hã tentou unir tragédia grega ao drama shakespeariano; suicidou-se; memória ruim para datas ixe acho que foi em 1800 e pouco; adolescente ainda ela pensou em se matar; a-hã: minha anêmola; mas diacho medo dela dor da morte arrefeceu idéia funesta.” (Trabuzana)

Atroado – Que fala depressa com estrondo

Atroçoar – Esmagar; machucar; atroçoar o milho

Atróptero – Diz-se das aves de asas negras: “Xô xô xô hã gosto não neca neres de jeito nenhum quando pousa nela minha jabuticabeira pássaro atróptero.” (Catrâmbias!)

A trouxe-mouxe – Desordenadamente; atabalhoadamente: “Pobrezinha ali caminhando a trouxe-mouxe tempo todo em volta dele pé de manga ixe movimentos lentos desajeitados hesitantes apre olhar esgazeado vago longíquo ih dias seguidos num mutismo estupouroso daqueles hã doutorazinha-candorosa-de-olhos-amendoados falou que infeliz aquela aie vítima delas imagens oníricas tenebrosas puh experiências alucinatórias visuais terríveis arre rostos ensangüentados monstros bestas ferozes repugnantes cousalousa; possibilidade nenhuma ixe neca neres nunca jamais debruçar-se sobre o futuro; mundo dela pobre-diaba hã repousou nas amarras criou limo lodo ixe intrêmulo para sempre talvez; no impossível tudo é impossível; reconhecimento da inutilidade; apre presença constante do nada; salvo claro vez em quando (garantiu doutorazinha-candorosa-de-olhos-amendoados) leve tênue lembrança dele acontecimento traumático já vivido; vida apre cheinha assim deles fatos anômalos contradizendo eles nossos prováveis desejos panglossianos; difícil doloroso demais caminhar na subordinação dele destino maléfico hã viver sob o encarnecedor domínio do acaso conforme falou Schopenhauer; a tragédia nos espreita tempo todo ali no quintal no alpendre no saguão; nenhum ser racional é capaz de se livrar  in totum deles acontecimentos funestos; viver é perder; aos poucos ou de escantilhão; tudo depende do grau de afoiteza delas Parcas; agora no finis finale epílogo dela minha caminhada hã quero feito ele amigo jornalista francês dizia ploft desaparecer como se nunca tivesse vindo.” (Catrâmbias!)

À ufa – Abundantemente

Avelhantado – Tornado velho; de aspecto envelhecido: “Ufa incandescência daquelas apre camburão-calor-abrasador ixe viagem longa-vulcânica diacho; sim amigo a-hã seis meses de mimosura huifa olhar-sorriso dela minha-deusa-êxtase lançava incontinenti azeite ao fogo; rejuvenescência amigo rejuvenescência; antes dela zás-trás apresentar-se pela primeira vez aos meus olhos hã dizia ad nauseam alto-bom-som que envelhecer é catalogar perdas; hoje seis meses depois puh sou obrigado a insistir nele adágio pirrônico: envelhecer é catalogar perdas; precisaria diacho decorar cantos dos arvais para conjurar todos eles lêmures assassinos que desarvoram ainda mais meus pesadelos noturnos; Pandora maldita fecha logo essa caixa diacho; sim amigo aceito bituca dele seu cigarro huummm ixe minha deusa-verdor-dos-anos estivesse aqui agora diria com voz filípica apre meu doce avelhantado lembre-se dela sua tosse intermitente; tau! som dele estalido do revólver continua zunindo aqui neles meus ouvidos dia todo noite inteira semana toda; quero morrer hã vida agora fiau! desnecessária.” (Trabuzana)

Avelhuscado – Um tanto velho

Averdugado – Que se dobra facilmente

Avezado – Acostumado, habituado

Azabumbado – Aturdido, pasmado

Azafamado – Atarefado em excesso: “Propagador da fé ali braços livres língua solta puh! multidão azafamada sem tempo para exortações bíblicas hã povoléu desvalido não tem sequer primogenitura para renunciar por prato de lentilha.” (Araã!)

Azamboado – Atordoado, preocupado, inquieto; apreensivo: “Filho azamboado aquele pôs os pés em polvorosa hã pobre-diabo digo repito pensa que velha dissimulada aqui hã estrabuleguice só hã pensa que não posso catrâmbias! responder por minha própria existência; simulações à maneira de Ulisses Hamlet Tristão quejandos; trompe-l’oeil, internamento voluntário; hoje aqui levando ao pé da letra lema epicurista lathe biosas hã viver oculto; endrômina marralhice tratantada pra fugir dela insipidez cotidiana; vida toda apre impossibilidades aos potes; também diacho nem todos têm o privilégio de conhecer feito ele Teodoro o Palácio dos Destinos huifa em que cada andar é um mundo possível; agora huifa guardar clausura perpétua nesta Bastilha vesânica; sinto-me bem melhor diante deles todos aí eh-eh pantomimistas das supostas razões; seres de juízos aparentemente prepósteros; aqui estou encontrando aos poucos minha ipseidade; agora apre preciso adquirir um selfcoisa nenhuma hã me preocupar com ele lúmen rationale da razão qual nada; vida puh desde sempre fértil em espinhos ervas daninhas que tais; um dégradéde desesperanças; tempo todo ixe redambalando nas incertezas; ser alógeno; gota dágua foi esta marca da cruz recortada aqui na cabeça hã cabeleireiro aquele ficou estupidificado; mas fez feito os tutumumbucas faziam no século XII com eles azamboados-azaranzados de todos os naipes; fingir loucura huummm doce insanidade; parentela toda amigos vizinhos médicos enfermeiras fiau! acham que cérebro da patranheira aqui ixe desmontado hã sem mola engrenagem inteirinha neca neres coisa nenhuma; melhor assim puh mundo lá fora fu! lucidez putrilágica; nham nham nham ploft eh-eh nesta arte de estalejar  jabuticabas existe de jeito nenhum alguém mais sophos do que esta matrafona aqui. “(Catrâmbias!)

Azaranzado – Aturdido, atrapalhado: “Protágoras sim doutora a-hã dizia que ele homem está mais mal preparado que os animais para a luta pela existência; não pode viver no isolamento; curiosidade: filósofo Aristóxeno afirmou que A República de Platão está lá quase inteirinha em As Antilogias (obra perdida) dele Protágoras; afirmação hiperbólica talvez; contrapartida: Platão dizia que o sofista é um homem estranho cujo ser consiste em não ser; Sócrates sim eh-eh vinho de outra pipa huifa superou a sofística; fundou a teoria das Idéias em todos os seus elementos; Alcebíades Xenofonte Platão todos deslumbrados ouvintes; a-hã daimon; dizia alto-bom-som que voz dele daimon o aconselhava nos momentos cruciais dela sua vida; voz interior admonitória; sim impiedade; alegaram que ele Sócrates não reconhecia os deuses do Estado introduzindo divindades novas; a-hã: acusado também de corromper a juventude; final digamos encantador a-hã bebe cicuta conversando sobre a imortalidade com seus discípulos; ainda nega ajuda deles amigos para suposta fuga; cumpre a lei; mesmo injusta; era linda; Ingrid Bergman esculpida-encarnada; a-hã: minha mãe; azamboada azaranzada mas linda; useira-vezeira em chantagens afetivas; duas vezes; se pelo menos imitasse Sócrates bebendo hã senhora sabe; sim doutora bem lembrado: mito dela caverna a-hã Platão; belíssimo eh-eh condição nossa no mundo ixe igualzinho escravos presos numa caverna puh só conseguimos enxergar sombra das coisas dos seres que estão fora; saída huifa está nela filosofia huumm mundo exterior inteligível delas idéias; sim verdade criador da lógica como disciplina a-hã Aristóteles; concordo: Ética a Nicômaco huifa magistral; hic et nunc do agir humano; apresenta uma série de descrições de tipos com rigor plástico agudeza de informações únicos; o bem supremo é a felicidade; eudemonismo; ela felicidade como princípio-fundamento da vida moral; ele sabia da infidelidade moente-corrente dela; a-hã: meu pai; alma couraçada contra reveses talvez; sei sei paciência blindada; mas no meu caso sáfico hã excessivamente lamuriento; a cada qual as devidas (des)honras; sim sim profissão estranha: logógrafo; ele escrevia discursos judiciais para outros; Isócrates eh-eh bem lembrado; transformava seus discípulos em homens de êxito através do estímulo-cultivo delas suas capacidades oratórias; foi considerado o Fídias da retórica; a-hã: escultor Fídias aquele que decorou dirigiu a construção do Partenon; família quase toda dizia ad nauseam: devassa; a-hã: minha mãe; noutro lugar noutro país quem sabe hã nunca mais notícia nenhuma; ixe doutora mais uma vez perdi o leme mudei de rumo puh quero falar dela minha vênus-veludosa.” (Trabuzana)

Azarotado – Aturdido, atordoado: “Mamãe de cachimônia azarotada aqui carece de palavras comiserativas neca neres não senhor de jeito nenhum.” (Catrâmbias!)

Azêmola – Pessoa estúpida; sem préstimo: “Desconheço situação mais azêmola do que esta puh! ficar numa fila de banco vinte trinta minutos puh! sacerdotes do templo do metal rico e reluzente ignoram que tempo é dinheiro; irônico; epa! de repente pensei que fosse Filésio noivo dela Cálibe meu favo de mel; Seleno soubesse claro quebraria de desgosto fio da própria vida; faço mea-culpa; são os terrenos resvaladiços da predestinação; impossível resistir àquele corpo cinzelado quem sabe por Michelangelo; Cálibe meu anjo âmbar minha vida nunca mais foi a mesma desde aquele dia ano e meio atrás; sensualidade sua minha Cálibe desviou meu trajeto sentimental; consciência às vezes incomoda; agora por exemplo; perdão Himalaia fiquei infernado pelo desejo; Cálibe me seduz me inebria me enfeitiça; corpo juvenil dela meu anjo âmbar me rejuvenesce.” (Araã!)

Azevieiro – Libertino, devasso, desregrado

Azibó – Cogumelo

Aziumado – Agastado; irritado

Aziume – Má disposição

Azoado/Azoinado – Atordoado, tonto: “Não consigo me compenetrar neste livro, pensamentos vão para diferentes partes nebulosas hã foco fica nítido realmente quando penso nela Mégara; ah Deus segredo profundo este passível de censura me reduz a pequeniníssimos fragmentos, desorganiza minhas idéias; palavras afetuosas olhares tudo funcionava tal qual a eloqüência dos algarismos; ela Mégara dignidade em figura de gente nunca demonstrou um isto é verdade mas conjecturava sobre; ah desconfiava sim do amor submerso deste azoinado aqui; sei também se por acaso tal traição se consumasse, desenrolar da história seria tão nobre quanto aquele em que foram envolvidos rei Artur-rainha Guinevere-Lancelote.” (Araã!)

Azoratado – Aturdido, atordoado: “Ufa tirar sapatos hã casa desprovida de sentido araã! sinto falta dela Himália dele Androgeu aquele digamos azoratado pelos negros vapores da bílis hã vivendo agora onde o sol não reflete seus raios.” (Araã!)

Azucrim – Pessoa importuna, impertinente

Azumbrado – Um tanto corcovado: “Sim senhor depois que ploft engoli 30 e oito jabuticabas sobraram apenas eh-eh 6.273; apre mundo cheinho assim deles djins maléficos puh haja amuletos talismãs cousalousa puh enfermeiro-régulo-badalhoco (ozostomia daquelas) pensa que esta velha azumbrada aqui não sabe fazer conta de cabeça hã sambanga precisa beber água de Apolonio aquela que torna hidrópicos os perjúrios; se eu soubesse naquele dia o que sei agora eu não seria essa mulher que chora eu não teria perdido você.” (Catrâmbias!)

[…]

 

 


 

 

 

 

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Evandro Affonso Ferreira nasceu em Minas Gerais e mora em São Paulo há 40 anos. Teve como padrinho literário o poeta e tradutor José Paulo Paes. Participou de uma coletânea de contos em Portugal (Editora Cotovia) ao lado de Osman Lins, Dalton Trevisan, Samuel Rawet, Hilda Hilst, José J. Veiga, João Antonio e Sérgio Santana – organizada por Alcir Pécora. Tem cinco livros publicados: Grogotó! (Topbooks), Araã! (Hedra), ErefuêZaratempô!, Catrâmbias! (Editora 34), Minha mãe se matou sem dizer adeus (Record), O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam (Record) – Vencedor do Prêmio Jabuti, 2013.

 




Comentários (2 comentários)

  1. Daniela Kahn, Amei a iniciativa. Já pedeefizei e salvei o arquivo da letra A. Espero que haja outras. Sombras ou substâncias, as palavras merecem tratamento vip!
    29 julho, 2014 as 15:15
  2. Luci, Ousadamente enriquecedor! Vale a pena ler e reler, pra captar, pra compreender a dedicada escrita do autor.
    5 fevereiro, 2021 as 15:21

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