Questões do ensino brasileiro


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A visita do MEC e o pão de queijo

 

Na semana passada o Ministério da Educação (MEC) enviou dois membros da mais elevada classe acadêmica para analisar o curso universitário no qual trabalho. Um dos membros, uma jovem professora, tinha no currículo dois feitos dignos de admiração: uma “Homenagem Especial dos formandos do Curso de Arte e Educação da Universidade Salomé Olivos” e uma “Obtenção do grau máximo na defesa de dissertação: voto de louvor Banca Examinhadora [sic]”. Quanto ao outro membro, não me recordo qual era a sua maior façanha, mas acho que devia haver alguma.

O fato é que queria muito conhecer esses dois prodígios que muito dignificavam a classe acadêmica.

Corri atrás dos dois professores enviados pelo MEC, queria cumprimentá-los e aplaudir seus feitos. Depois de longa busca, eu os encontrei na cantina da Universidade, que não é, há que se registrar, um lugar muito glamoroso, mas é famoso por servir um bom pão de queijo, apesar de borrachudo.

A propósito, a professora mastigava um pãozinho de queijo justamente quando eu a fui cumprimentar, mas ela não me olhou. Prosseguia mascando o quitute mineiro em plena Santa Catarina. De repente, ela olhou furiosa para mim e disse: “Não quero falar com você agora!” Fiquei chocada. Então, eu não teria a atenção de uma das mais altas sumidades da academia brasileira!

O que eu não fiquei sabendo, contudo, foi que o borrachudo pãozinho arrancou a obturação de seu dente molar e, sem que percebesse, ela acabou mastigando a obturação e quebrou parte de seu dente canino.

O pãozinho da nossa Universidade é mesmo cruel e não respeita absolutamente ninguém. Talvez isso explique por que meu curso foi rebaixado e hoje acabamos de perder duas bolsas de monitoria.

 

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A caminho da escola

 

Um dia desses levava meu filho e um amigo dele para a escola, os dois iam passando o ponto de uma prova de história, eu, na frente, guiando o carro, ia prestando atenção nos que os dois falavam; estava curiosa para saber o que eles estavam aprendendo na escola. Em pouco tempo, aprendi muita coisa também. Aprendi que Pepino, o Breve, era o pai de Carlos Magno. Que informação curiosa, pensei comigo mesma: “Como vivi até hoje sem saber disso!”. Pepino, o Breve, está aí um nome para nunca mais esquecer. Quem sabe um dia pararão o meu filho na rua e perguntarão a ele: “Quem foi o pai de Carlos Magno?”.  Ele responderá: “Pepino, o Breve”.

Confesso que me senti um pouco ignorante, por não saber que Pepino, o Breve, um dia existira. Mas eu também guardava, desde a época do primário, uma informação importante, decorada tão duramente para uma prova de história, que nunca mais me esqueci dela, embora, confesso, nunca mais a tenha usado, depois daquela época. Para me valorizar perante os meninos, perguntei a eles: “Vocês sabem quem trouxe o café para o Brasil?”. Eles ficaram em silêncio; acho que a minha pergunta era meio deslocada e não tinha nada a ver o Império Carolíngio. Diante do silêncio deles, respondi: “Tomé de Sousa!”, sim, Tomé  de Sousa, há anos eu tinha vontade de compartilhar com alguém essa informação.  Terminei o colegial, fiz faculdade, pós-graduação e nunca, ninguém, depois daquela prova no primário, havia me feito essa pergunta. Mas, agora, eu estava aliviada, compartilhei, enfim, com o meu filho e o seu amiguinho, que Tomé de Sousa trouxera o café para o Brasil. Que alívio, que leveza! Não sei se os meninos ficaram impressionados com a minha erudição, pois não teceram nenhum comentário a respeito e prosseguiram fazendo entre eles perguntas estranhamente úteis sobre o Império Carolíngio.

 

 

 

 

 

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Dirce Waltrick do Amarante é autora de As antenas do caracol: notas sobre literatura infantojuvenil Pequenas biblioteca para crianças: um guia de leitura para pais e professores, ambos publicados pela Iluminuras. Tradutora de Alice no país das maravilhas, publicada pela Rafael Copetti Editor. E-mail: dwa@matrix.com.br




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