Erótica


……………….15 microcontos do prazer e do gozo


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(1)

Minha professora usa uma calcinha com uns pinguinhos. Quando ela cruza as pernas, é uma verdadeira chuva.

 

(2)

Seu vizinho de parede goza de madrugada. Como ela sabe? Um miado lambe o chão.

 

(3)

É um alarme, o gozo da fisioterapeuta viúva. O porteiro do prédio prende-a contra os músculos para sufocá-la. Mas ela implora que só a inveja pode acordar a essa hora.

 

(4)

A mancha no pescoço da filha. O pai percebe à mesa do café. É um morango desidratado, a mancha. O pai ilumina a face ao destampar o pote – e, uma única lambida, apaga o pingo de requeijão no dedo.

 

(5)

Ela, que vende frutas, e sempre madruga, aprendeu a acordar os morangos.

 

(6)

Ela chama o dedo de pilantrinha.

 

(7)

Aproveitou o ônibus cheio. E espremeu contra as costas da tia o crucifixo de São Damião.

 

(8)

A filosofia da velha Aldenora lavava-se em águas frescas:

– É de lagoa quem sabe quando a rã incha.

 

(9)

Ocorre ao taxista, observando pelo espelhinho do carro:

– A de freira é maior?… Parecem infladas.

 

(10)

O tubo do Rexona já na mão. E ela cospe no galo que acabou de achar a aurora.

 

(11)

Minha tia, pela janela do quarto, espia o taxista atlético. Minha tia, em certo momento, fecha na mão o controle da TV, que se acende de repente. Minha tia agora se secando com a cortina.

 

(12)

Na praça da alimentação, pilantrando um chope para divisar as coxinhas na fila do McDonald’s.

 

(13)

No jogo de sinuca, os namorados recostados ao balcão, domados pelos chopes, ela empurra o jogo e o decote para advertir a amiga.

 

(14)

Férias. As adolescentes risonhas trepam na árvore. E o vovozinho, escondido atrás do muro, quebrando um joelho no outro.

 

(15)

O indivíduo, afinal Rodolfo conseguiu convencer sua mulher Rafaela, tem duas vias para ascender socialmente: a da honestidade e a da desonestidade. São meios para um mesmo fim. Ele, Rodolfo, com a honestidade, comprou um quarto onde ficavam penduradas suas cuecas e as calcinhas de Rafaela. E, com a desonestidade, comprou um outro onde pendiam suas cuecas e as calcinhas de suas clientes.

 

 

 

 

 

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Rinaldo  de Fernandes é doutor em Letras pela UNICAMP e professor de literatura da UFPB. Autor de 14 vários livros, entre eles as coletâneas de ensaios O Clarim e a Oração: cem anos de Os Sertões (São Paulo: Geração Editorial, 2002), Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro: Garamond / Fundação Biblioteca Nacional, 2004), o romance Rita no Pomar (Rio de Janeiro: 7Letras, 2008 – finalista do Prêmio São Paulo de Literatura)  e Contos reunidos (São Paulo: Novo Século, 2016). E-mail: rinaldofernandes@uol.com.br




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