A árvore invisível
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Da vida no campo, trouxera a falta de pressa, a vontade de olhar para o que aos outros parecia nada, a falta de proteção em se entregar aos diálogos com estranhos, com os quais talvez, nunca mais voltasse a encontrar.
A saudade existia mais como forma de transformar o que não tinha acontecido em algo belo, lembrar era duro demais, o melhor era fantasiar. No bolso de uma calça encontrou uma semente. Onde poderia plantá-la? A paisagem que o cercava era composta de asfalto e cimento.
O plantio que fora motivo de tristeza e desengano, era agora forma de comprovar sua existência, mas como florescer em meio ao embrutecimento erva-daninha da metrópole?
O sonho de ser alguém, o motivou a mudar, deixando para trás pessoas próximas que mesmo não o compreendendo, mascaravam a solidão.
A semente que só brota depois de ser soterrada, indicava que para concretizar algo era preciso doar-se por completo, desaparecer, para que a obra pudesse florescer. Embarcou no ônibus e depois de um longo tempo prolongado pelo trânsito, desceu.
Sua habilidade no trato com a terra, antes maldição hereditária, agora lhe seria útil como nunca. Com uma pequena pá, cavou o que parecia uma cova, ali deixou os papéis encadernados em dois longos volumes, que logo foram cobertos, aquecidos e esquecidos.
Não voltou para o pequeno apartamento, passou na rodoviária e comprou uma passagem para o primeiro destino que ainda tinha passagens disponíveis, adormeceu no banco do ônibus e sonhou com o germinar da sua obra, que floresceria quando ele não mais aqui estivesse.
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Fernando Rocha da Silva, professor, ex-blogueiro, ex-pseudo-poeta, um cara comum. Trabalha agora num livro de narrativas curtas. E-mail: fernando.umcaracomum@gmail.com
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27 março, 2012 as 16:22
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