Sonhando com Philip Dick


 

Philip Dick estava sentado no meio fio da Avenida Paulista, que estava completamente deserta, ele diz enquanto toma um sorvete. Para nós, os sonhos são a ressurreição da carne, você sabia que os celulares apareceram num sonho de Leonardo Da Vinci? Como você sabe? Digo. Eu sou uma das partes dele agora, Philip Dick diz, os celulares são a pré-história da telepatia, ele continua. O que você achou dos vários filmes baseados em seus livros? Blade Runner é meu preferido, onde eu moro ele está acontecendo, moro em uma espécie de Blade Runner na África. Repito dublando minha própria voz, nos sonhos falamos sem mover os lábios e nossa voz é dublada por nós mesmos. A África já foi anexada ao Brasil? Ele pergunta. Ainda não respondo. Sabe quem é o presidente dos Estados Unidos aqui? Nem tenho a mínima idéia? Jean Luc Godard. Philip Dick depois de dizer isso, se levanta para fumar um cigarro de oxigênio e antes de jogar as cinzas transparentes no ar, aponta para o chão, percebo que o chão é formado pelo corpo de centenas de milhares de crianças mortas incandescentes. Parecem mortas, mas estão dormindo elas são teleportadas do mundo das chacinas para o mundo dos sonhos e quando chegam aqui, permanecem misteriosamente mortas, nós caminhamos pisando nesses corpos e nem percebemos. Tente levantar a cabeça e olhar para o céu. Ele grita e eu acordo.

Sonhando que sou Patrícia Lourival Acioli, juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo assassinada pelo crime organizado:

Podemos como nos ensinou o poeta e monge John Donne perguntar: Crime, onde está a tua vitória? Quando a indignação se transformar em consciência estará dividido este átomo do Hades que chamam de ‘crime organizado’, Diante da futura e irrestrita anistia prisional e da transformação de todos os presídios em universidades gratuitas e centros culturais. Crime, onde está a tua vitória? Quando os acontecimentos insurrecionais que começaram na Grécia e no Egito se espalharem por todo o mundo, principalmente no Brasil e uma organização maior da energia da recusa ofuscar todas as células da energia do ódio, eu agora transformada em brisa oceânica perguntarei. Crime, onde está a tua vitória? Quando uma imensa fila de ex-assassinos se inscrever como voluntária nas Guerras Continentais, como certa vez  disse, aquela notável Simone Weil, uma injustiça estará corrigindo outra, e eu, transformada em orvalho sobre os pacíficos campos de girassóis da Amazônia, serei uma resposta silenciosa e infinita para uma pergunta que nasceu no dia em que eu morri.

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Editora Nenhuma lançou:

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Resenhas Relâmpago

Do filme Vocacional de Toni Venturi: Uma reserche iluminista  que após a sessão nos transporta para uma Nostalgia das possibilidades.. Do livro O amor é lindo de Ademir Demarchi: Um elegante exercício que investiga as relações entre o amor e a morte com humor e ironia, poemas que transitam entre o aforismo e o epigrama, publicado pela Sereia Cantadora Cartonera de Santos. Do livro Na fronteira das relações de cuidado em saúde indígena de Lucila de Jesus Melo Gonçalves, Annablume/Fapesp: Uma pesquisa de campo que se converte em um trabalho de abertura e escuta do ser do Índio, um livro que evoca um documentário para ser lido. Do livro z a zero de Wilmar Silva publicado pela Anome Livros: Uma radicalização sonora das pesquisas semântico-poéticas de Eugen Goringer, Pierre Garnier e outros, um livro que deve ser cantado ou gritado, pode ser lido como um jogo.

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Nenhum espanto e uma troca justa.

José Padilha ( de Tropa de elite 2) vai para Hollywood dirigir Robocop e não para a África dirigir uma nova versão de Queimada de Pontecorvo. Nenhum espanto.Tropa de Elite 2  se concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, estará em oposição ao extraordinário Cavalo de Turim de Bela Tarr. Esses escritores contemporâneos se convertem facilmente em adoradores de si mesmos e marqueteiros do quinto dos infernos, ao invés de derrubarem as muralhas de Jericó das máfias editoriais. Nenhum espanto. Ver o fracasso da Editora Baleia. Troco futuros shows do U2 no Morumbi e todo o Rock in Rio 2011 por 20 universidades gratuitas como as de Michel Onfray  e apresentações da Osesp Praça da república, na Crackolândia e  na Vila Esperança em Cubatão, tratar com os Deuses do patrocínio, ainda sobre Onfray  sorrir para as Universidades Populares, o funcionamento:  La gratuité est le principe de base.

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Isto não é um poema

o ser é o tempo lento do espírito
Comentário: Heidegger que em breve será um dos novos perfumes do Boticário, não tem nada a ver com isso.
espaço interior e tempo exterior e espaço exterior e tempo interior são camadas do ser
Comentário: O ser não é uma cebola, se parece mais com a Terra, mas sem as placas tectônicas, se a Terra for mesmo oca, será uma metáfora total do Ser.
os espaços e tempos simultâneos se movem paradoxalmente em todas as direções
Comentário: O que chamamos de morte também se move em todas as direções apesar de sua velocidade da treva, sempre consegue alcançar os espaços através dos tempos.
o ‘dentro’ e o ‘fora’ possuem por sua vez seus espaços e tempos simultâneos
Comentário:Dentro e fora não são dicotômicos, trata-se de uma alteridade onírica..
os ‘n’ tempos parados do agora se dividem em dentro e fora
o tempo parado do agora se multiplica em ‘n’ tempos parados do agora
Comentário: Uma tentativa de abordar o infinito que une Alfred Jarry e Wittgenstein, mas sem o humor de Jarry?
o hiperreal do sonho leva ao tempo parado do agora
Comentário: Um dia talvez tenhamos acesso a este tempo do interior do tempo psicológico, nos sonhos raramente percebemos o tempo.
o hiperreal do corpo leva ao hiperreal do sonho
Comentário: O corpo é um sonho da matéria?

Plano sequência Blanchot:

” Não há solidão se esta não desfaz a solidão para expor o só ao fora múltiplo”

Comentário: O Fora múltiplo é a amplidão mítica do mundo, os grandes espaços que se interiorizam através do canto e da dança, os encontros possuem sua camada sinfônica mediada por silêncios significativos suaves e levezas gestuais, os sós e os profundamente sós podem sentir a solidão se liquefazer nestes lugares amplos.

” Mas não há, aos meus olhos, grandeza senão na doçura ( Simone Weil). Direi antes: Nada de extremo senão pela doçura. A loucura por excesso, a loucura doce. pensar, apagar-se: O desastre da doçura.”

Comentário:  A doçura é ela mesma o aspecto mais enérgico de uma antiga camada do ser, que contempla a sua exterioridade a  partir do fantasma do útero na fundo do olhar do Outro. Olhar nos olhos deveria ser o florescer de doçuras perpétuas entre águias

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Poema do mês:


Bernardette Mayer cortesia do blog Flowers & Cream de Mr. Thurston Moore

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Na próxima coluna: Tudo sobre o Congresso Brasileiro de Escritores, Godard no Plano-sequência e outras novidades velhas.

 

 

 

 

 

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Marcelo Ariel nasceu em Santos, 1968. Poeta, performer e dramaturgo. Autor dos livros Tratado dos anjos afogados (Letraselvagem 2008), Conversas com Emily Dickinson e outros poemas (Multifoco,2010), O Céu no fundo do mart ( Dulcinéia Catadora,2009), A segunda morte de Herberto Helder (21 GRAMAS, 2011) entre outros… E-mail: marcelo.ariel91@gmail.com




Comentários (3 comentários)

  1. Cecilia Prada, Edson, de extremo bom gosto tua revista e tem todo mundo aí que a gente conhece. Também quero: colaborar! Diga o que pode te interessar mais. Abraço.
    24 janeiro, 2012 as 10:13
  2. admin, oi, Cecilia. seja bem-vinda. mande suas colaborações para sonartes@gmail.com ou editor@musarara.com.br, sempre com biografia no final do texto e indicando o q vc está lendo no momento. abraço, edson
    24 janeiro, 2012 as 14:24
  3. Marcelo Rayel, Lamento, Xará, lamento… Blanchot não leu Ferdinand de Sausurre. Falha grave. Evitaria little bit swings and roundabouts. Or a bundle of bee-aess. Chico Marques também não curtiu. Mark Zuckerberg também não curtiu, mas ele é apedeuta que deve lá comer as melhores mulheres porque vai a concessionária Aston Martin assim como as mulheres vão ao salão de beleza. Aquele Gonzagueiro do Paradisum Panis perguntou por você. Disse que levaria você pessoalmente lá, para vocês acertarem as contas. Só que dessa vez vou de Soda Italiana enquanto você enche a cara de café. Saudações Neymarianas!!!
    11 fevereiro, 2012 as 2:43

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