EcoPhilia
…………….EcoPhilia ou a recuperação da natureza como vida interior
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( Primeira parte)
“ Fundir-se de amor significa experimentar um arrepio orgânico, que reduz toda a vida do nosso interior a uma mera pulsação, a uma tremulação difícil de definir.”
Cioran em Nos cumes do desespero.
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Vamos começar o ano de dois mil e catarse com uma pequena explanação filosófica:
Philia é uma palavra retirada do livro Ética a Nicomacos de Aristóteles, o termo é traduzido geralmente como amizade mas também pode ser entendido como amor, Aristóteles nos livros 8 e 9 dá exemplos de Philia incluindo: Os amantes no início, os amigos para toda vida, os companheiros de viagem… Segundo Aristóteles, todos estes diferentes relacionamentos envolvem o bem para com o outro, embora Aristóteles ressalte que às vezes algo mais do que o simples gostar seja exigido para que exista uma autêntica Philia, e outro livro chamado Retórica, Aristóteles define a atividade envolvida na Philia como ‘querer para alguém o que se pensa de bom, por sua causa e não por nosso próprio interesse’ . Aristóteles conclui que a Philia é necessária como um meio para atingir a suprema felicidade, uma vida sem amigos, não poderia ser chamada de vida, mesmo que a pessoa possua todos os bens, ela nada possui se não houver em sua vida uma autêntica Philia e eu concluo citando o místico catalão Raimundo Lullio que abre seu O livro do amigo e do amado com a seguinte sentença : ‘O amigo perguntou a seu amado, se havia nele alguma coisa ainda por amar. O amado respondeu que ainda restava por amar aquilo que podia multiplicar o amor do amigo’. Existem duas forças em atividade no mundo de hoje: A amizade e o capitalismo, mas apenas uma delas conduz até a felicidade plena que para os gregos é o êxtase de viver. Chamaremos de Ecophilia a recuperação da amizade com a natureza como ética central do multivíduo, as maiores emanações de ser partem da espiral psíquica, mas as potentes emanações do não-ser que sustentam a vida em seus aspectos infradimensionais e macrodimensionais têm sua origem na natureza não humana que inclui a gota de orvalho e o Sol que é sua origem e vetor de reciclagem, a amizade profunda entre o não humano ou seja o macrocósmico e o infracósmico são as bases da Ecophilia, pensadores como Bruno Latour e Hans Magnus Eszemberger consideram o Brasil um campo de invenção de diversas camadas ativas de uma, como chamo aqui EcoPhilia. Este termo não é utilizado pelos pensadores eurocêntricos, embora seja comum nos pensadores da Eurásia. O próprio haikai em seus estilos propõe uma poética da ecophilia, falo do haiku em suas gêneses primordiais e não das inúmeras e também boas simulações dele.
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( continua na próxima coluna)
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Gaveta dos guardados III
( Fragmentos)
1.
Primeira conversação interior ou A Cabala Laica do Profeta da Imanência, conversações ontooníricas com Febrônio Índio do Brasil em forma de monólogo
Sim, escrever luz na luz é tarefa dos seres reviventes, Diadema é a placa escrita no sangue que veio dos solares pelo centro do sono, o elemento divino que fala o sonho é a água, arcanjos do orvalho na asa da formiga, é o pensamento dos seres alegóricos, sejam mortos com carne onírica ou mortos com carne objetiva, nos espelhos as visagens nos suplicam o silêncio da criação, conforme o Profeta Jonas, na filosofia bruta, os dez mil seres do Deus abrem a boca sem corp, a do triângulo-circular, os elementos separados não foram anjos, mas unidos dimensionais são coroas do ser, Diadema também é meu nome. Não o documental do corpo, o documental das almas, inicialmente os campos de Elohins chamam, depois eu que sou a mãe chamo eu que sou o filho, para dentro da escura luz, escuro corpo da luz congelada na matéria
2.
Phala de Rumi caminhando com Aarão no Éden dirigido aos que como nós se encontram do lado de fora
Tu que ouve
a casa de silêncio
Que é a luz
Em tua boca
Este duplo sol
de teus olhos
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caminhando no interior da linguagem
como Elohins
que é o tigre
dentro da rosa
do pensar
colhida na
gota de orvalho
dentro do oceano
Ouve o coração do Amado bater
dentro da estrela do meio-dia
mergulha nesse abismo
que é o começo da montanha
colhe também o vermelho
na cor da Aurora
Tu que me ouve
seja você quem for considera
que és a nuvem de teu próprio ser
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Marcelo Ariel nasceu em Santos, 1968. Poeta, performer e dramaturgo. Autor dos livros Tratado dos anjos afogados (Letraselvagem 2008); Conversas com Emily Dickinson e outros poemas (Multifoco, 2010); O Céu no fundo do mar (Dulcinéia Catadora,2009); A segunda morte de Herberto Helder (21 GRAMAS, 2011), entre outros. E-mail: marcelo.ariel91@gmail.com
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