Gaveta de guardados


……………………………………………O Silva dos Silvas

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Voltando para a floresta-sem-floresta que a película de Berkeley sempre confundida erroneamente com o véu de Maya continua escondendo… Nesse lençol de luz e gravidade que chamamos de VISÕES a ‘Une rose seule, c’est toutes les roses’ continua cantando:
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“Ó imenso mar das formas coberto por este manto de olhares imensamente fechados…Logo mais TUDO estará flutuando… como o sonho

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Para acabar de uma vez por todas com o amor,basta chamá-lo de amor e esperar que a palavra dissolva A COISA..Que morre dentro do pote de vidro fechado de um nome ou passa como essas nuvens clonadas na superfície desse mar emprestado por um filme onde elas se deitam como putas ou dentes-de-leão filtrando um ex-poema dentro do pó…O amor é o esqueleto de um inseto.

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A insônia dissolve as ilusões como um ácido..esse deve ser o único trunfo dos que não conseguem dormir..mas.sem iluões a vida se torna um continuum à serviço do esvaziamento.. Notas dispersas.. para essa cadenza da existência. às quinze para as quatro.. a frase não quer dizer nada..estou tentando preencher um vazio..o meu e o seu..com essa picaretagem.Essa porra de poesia.. É como a droga do filme A Scanner darkly.. cria uma outra realidade?
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esquizofrenia em estado bruto..estou me repetindo… são os poderes do vazio… ou da desmistificação.. Enfim.. O que tenho para comer? Bolachas cream cracker e água mineral.. termino de ler pacote de bolachas.agora vamos para a pilha de livros na minha frente.. é o meu titanic mental.. outra frase que não quer dizer nada.. Free Fall, baby… pego o de cima da pilha.. é o Lobo-Antunes.. Boa tarde as coisas aqui em baixo.. o negócio é abrir e entrar.. assim funcionam as putas, os livros e as paisagens.. mas é preciso pagar o preço antes e depois.. parei na frase : “- Preferimos chamá-las de alvos, compreende?” (Pág. 33)

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marcada com um folheto de propaganda de uma palestra que um amigo meu.. o Tadeu vai realizar sobre o cultivo de orquídeas.. ‘Noções básicas sbre orquídeas’.. vejam só.. como tudo se relaciona com tudo.. Free fall.. orquídeas…. insônia.. vou até a pracinha da esquina.. está deserta.. ou quase.. A porra dos pásaros cantando.. os gatos.. se lambendo.. uma fôlha seca caindo da árvore.. O Sol… Vou dormir…

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Azrael, filho de Ananias, porta-voz de Jeová.
Elias, filho de Azrael, o cérebro que combateu corpo a corpo com o esquecimento.
Volf, filho de Elias, príncipe raptado à Torá no seu décimo nono aniversário.
Judas, filho de Volf, rabino de Cracóvia e Praga.
Oh, morte, oh, cobiçosa, oh, ávida ladra, por que não tens compaixão de nós, ao menos uma vez? ”
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Isaac Babel em ‘A cavalaria vermelha’, tradução de Roniwalter Jatobá, ed. Clube do Livro.

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Esse apelo-pergunta do final, sempre me devolve ao abismo sem solução da minha infância..Li esse texto há mais de dez anos, quando voltava do enterro da minha mãe…Babel naquele momento, ampliou meu luto e o transformou em um patético e absurdo luto pela humanidade inteira e principalmente por mim mesmo..E esse luto é o centro de tudo o que escrevo..esse luto e a frase ‘Não acredito na humanidade e em seu Carnaval triste’..Álias..Abdico de ser humano..Quero ser o último tigre branco atingido por um míssil..A última baleia afogada no petróleo..A última flôr do Ártico..

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O que temos em Farnese ?
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Querubins com cabeça cortada como os assassinados nas rebeliões dos presídios..Anjinhos incinerados e pendurados no açougue de nosso olhar…A exposição do gênero humano cmo algo radicalmente falido e despedaçado…Não é assim que estão as crianças que fomos dentro da nossa memória..em pedaços..boiando no nada…)

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O fato é que estou narrando a partir de ontem… sempre no ontem.. aqui a nadificação elide o tempo.. fiquem à vontade para tentar alterar ” o passado”… para mergulhar na impossibilidade como se fossem fantasmas tomando um banho de piscina no quadro do Hockney.. A Bigger Splash.. Aqui o ‘Como se fossem,’ é igual a um ‘Fodam-se’… É claro que também me refiro à essa piscina vermelha.. Essa que aparece quando olhamos para o Sol de olhos fechados… para sermos humilhados por essa falsa eternidade.. nós e o oceano.. que também movimenta suas pálpebras em direção ao irremediável..
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Marcelo Ariel e Emanuel Ors

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Nota : As frases em ítalico são do meu duplo suiçidado Emanuel Ors..ele é exatamente o contrário da porra do Emanuel do Chico xavier ou seja..sou eu mesmo..suiçidado ontem.Não há como confundí-lo com o meu clone-fantasma…Assim eu ao menos assumo a ezquizofrenia parcial no varejo e no atacado..Jamais acreditei nessa falsa unidade provisória imersa no sonho ou no pesadêlo..depende de quanta grana você têm…

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Da série ‘Isso era poesia e ninguém me dizia’
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Meat is murder
(Stephen Morrisey/The Smiths)
Tradução livre de Marcelo Ariel
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Comer carne é assassinato.

Heifer whines could be human cries
O choro do bezerro é como o nosso

Closer comes the screaming knife
Quando a faca está bem perto de cortar

This beautiful creature must die
O que é belo e vivo deve morrer?

This beautiful creature must die
O que é belo e vivo deve morrer?

A death for no reason
Uma morte sem lógica nenhuma

And death for no reason is murder
uma morte sem lógica nenhuma é assassinato

And the flesh you so fancifully fry
a carne que você tão tranquilamente frita

Is not succulent, tasty or kind
não é saborosa, suculenta ou algo assim

It’s death for no reason
é morte sem lógica nenhuma

And death for no reason is murder
e morte sem lógica é assassinato

And the calf that you carve with a smile
e a picanha que você estraçalha com um sorriso

Is murder
é assassinato
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And the turkey you festively slice
E o peru que você esquarteja nas festas

Is murder
É assassinato

Do you know how animals die ?
Todos vocês sabem e saberão como os animais morrem

Kitchen aromas aren’t very homely
E os cheiros na cozinha, tão familiares

It’s not “comforting”, cheery or kind
Isto não é acolhedor,

It’s sizzling blood and the unholy stench
O sangue fritando e o saboroso pedaço derretendo na sua boca

Of murder
É assassinato

It’s not “natural”, “normal” or kind
Não é algo natural, nem normal esse pedaço

The flesh you so fancifully fry
De carne fresco que você saboreia

The meat in your mouth
Essa carne dentro da sua boca

As you savour the flavor
Que você acha deliciosa

Of murder
É assassinato

No, no, no, it’s murder
Não é outra coisa, é assassinato

No, no, no, it’s murder
Não é outra coisa, é assassinato

Oh… and who hears when animals cry ?
Quem entre os assassinos se importa com os animais chorando?

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Enquanto isso em alguma dimensão paralela meu clone vai até a livraria e compra este livro:

 

 

 

 

 

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Marcelo Ariel nasceu em Santos, 1968. Poeta, performer e dramaturgo. Autor dos livros Tratado dos anjos afogados (Letraselvagem 2008), Conversas com Emily Dickinson e outros poemas (Multifoco, 2010), O Céu no fundo do mart (Dulcinéia Catadora, 2009), A segunda morte de Herberto Helder (21 GRAMAS, 2011), entre outros. E-mail: marcelo.ariel91@gmail.com




Comentários (3 comentários)

  1. Carlos Pessoa Rosa, mariscos em abismos cálcicos, retornelo das noites adormecidas e de guardiões em naufrágio, o fundo é escuridão de Kurosawa, silêncio de Bergman, no túmulo os sonhos são eternos, e o Sol, esta ilusão humana a invadir o lunar de meu pathos, a estimular em minha retina químicas lisérgicas: os precipícios da luz; que merda é essa, este vídeopoemavida que traga ao infinito…
    24 novembro, 2012 as 20:52
  2. Marcelo Ariel, Carlos meu amigo, meu irmão…O infinito está na UTI dos nossos sonhos…Um grande abraço!
    28 novembro, 2012 as 17:19
  3. Fernando Rocha, A palavra é um limite pouco extenso para a expressão do humano, se é que ainda existe esta espécie. Marcelo, o ritmo da primeira parte é alucinante, escrevo meio tonto este comentário. Morrissey é de fato um poeta? Acreditei, duvidei e agora não sei o que pensar sobre isso. Talvez o melhor seja não pensar ou rotular, apenas fruir.
    5 dezembro, 2012 as 21:44

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