Plagiarismo



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A arte secreta do plágio produziu recentemente mais um episódio curioso.  Em geral plagiários se defendem dizendo que não conheciam a obra original e tudo foi coincidência; ou que estavam homenageando o artista de cuja obra se apropriaram; ou que era uma experiência de metalinguagem.  Não foi o caso de Quentin Rowan, que lançou em 2011 um romance de espionagem, “Assassin of Secrets”, sob o pseudônimo de Q. R. Markham.  Poucos dias depois do livro ir às lojas começaram a pipocar nos blogs e na imprensa denúncias de que o romance continha parágrafos inteiros copiados de outros livros. Edward Champion, do websaite Reluctant Habits, apontou 34 exemplos de plágio nas primeiras 35 páginas do livro.  Críticos (e os editores do livro, claro) começaram a jogar trechos no Google e encontrar exemplos onde apenas os nomes próprios e pequenos detalhes técnicos tinham sido alterados, trechos de livros de Robert Ludlum (autor da “Supremacia Bourne”), Charles McCarry, James Bamford, Geoffrey O’Brien e de autores como John Gardner, que estão (com consentimento dos herdeiros) escrevendo novas aventuras de James Bond, após a morte de Ian Fleming.

Uma longa matéria no “The New Yorker” (http://nyr.kr/zZmqk7) traça o patético perfil de Rowan, um garoto filho de pais intelectuais que sempre esperaram dele façanhas literárias.  Na adolescência, ele copiava palavras difíceis para inserir em seus contos e poemas; daí para copiar frases inteiras (que achava bonitas) foi um passo.  Ajudado por uma memória excepcional, ele sempre lembrava onde encontrar exatamente o parágrafo que precisava (descrição de ambiente, cena de briga, cena de sexo, meditação dos personagens, etc.).  Poderia ter dito depois que estava produzindo metaliteratura ou algo assim, mas confessou ao jornalista, com candura: “Há anos eu tenho medo de ser descoberto; acordo no meio da noite e vou me olhar no espelho. (…) Eu lutei contra o plágio do mesmo modo que outros lutam contra o fumo, o vício do sexo, da comida, do jogo. (…) Nunca pensei em oferecer meu livro como uma colagem. Eu queria, sinceramente, que as pessoas pensassem que eu era o autor”.

Ele próprio compara o vício do plágio à cleptomania.  Diz que nunca roubou nada em lojas, mas que isso explica por que pessoas com talento literário sentem a necessidade de plagiar. “Cleptomaníacos em geral são pessoas que não precisam furtar, como as madames do Upper East Side ou Wynona Ryder”. Pelo sim, pelo não, a editora tirou o livro do mercado e exigiu de volta o adiantamento de 15 mil dólares pago ao autor.  Que agora está trabalhando em um novo romance, sem transcrições, para mostrar que sabe escrever.

 

 

 

 

 
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Bráulio Tavares é escritor e compositor. Estudou cinema na Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais, é Pesquisador de literatura fantástica, compilou a primeira bibliografia do gênero na literatura brasileira, o Fantastic, Fantasy and Science Fiction Literature Catalog (Fundação Biblioteca Nacional, Rio, 1992). Publicou A máquina voadora, em 1994 e A espinha dorsal da memória, em 1996, entre outros. Escreve artigos diários no Jornal da Paraíba: http://jornaldaparaiba.globo.com/ Blog: http://mundofantasmo.blogspot.com/ E-mail: btavares13@terra.com.br




Comentários (2 comentários)

  1. Luis Fernando, Vício em plágio! Essa é fantástica, Braulio!
    19 março, 2012 as 21:56
  2. luiz ernesto mellet, braulio, pior é que essa sem-vergonhice já invadiu os meios acadêmicos. Plágio no meio dos apavonados é legal e tem nome: bicolagem. Aqui o que tem de doutor de meia-tigela que se valeu desse ardil… Pal Schmitt, o presidente da hungria, pediu o boné e foi embora envergonhado. bom seria que essa maldição tomasse esses vapiros da obra alheia. Por sinal, publiquei Recife 2093, em 1992…
    10 abril, 2012 as 19:44

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