Diário de Moscou


Diário de Moscou – Temporada de Primavera – Ano VI – Episódio IV

“Knowing that Mrs. Mallard was afflicted with a heart trouble, great care was taken to break to her as gently as possible the news of her husband’s death”.

Este trecho de abertura do conto “The Story of An Hour”, da escritora Kate Chopin (1851-1904) entrou para a minha galeria dos melhores começos.

Lemos e discutimos este conto na última aula de inglês.

Nunca tinha ouvido falar em Kate Chopin antes. Baixei um livro com sua obra completa. Espero ler algo dela nas férias.

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Estou na reta final da leitura de “Anna Karênina”. Comprei um ingresso para assistir ao musical baseado no romance, uma belíssima produção (assisti uma transmissão online na época da Peste), em cartaz há seis anos no teatro Operetta, de Moscou. Quem interpreta Anna Karênina é Ekaterina Guseva, atriz que conheci da série “Brigada”.

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Há muito o que falar sobre este romance monumental. Fiz algumas notas. E por coincidência, não faz muito tempo, minha grande amiga Luisa Gadelha, também leu o livro. Marcamos uma conversa pública sobre “Anna Karênina”, em junho, em João Pessoa.

Darei mais detalhes depois. Tenho a felicidade de contar com a interlocução intelectual de Luísa, uma mulher brilhante, que é mestre em Linguística pela UFPB e doutoranda em Estudos Literários e Feministas pela Universidade do Porto.

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Como terei algum tempo ocioso entre as escalas de um voo a outro, talvez eu assista alguma série russa baseada no romance também. Tentei fazer isso no começo da leitura, mas me senti invadido na minha imaginação e deixei para lá. Agora talvez seja o caso de assistir.

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Estamos em 1906.

O jovem Kolya, aos trancos e barrancos, e o empurrãozinho de um diretor também poeta,  conseguiu terminar os estudos.

Gumiliov tem vinte anos.

Já publicou seu primeiro livro: “Put’ konkvistadorov”, que poderia ser traduzido como “caminho dos conquistadores”.

Mas ele ainda não conseguiu conquistar o coração de uma moça também poeta, de olhos maresia enfurecida, que o mundo reverenciará pelo nome de Anna Akhmátova.

Conseguiu o feito de dobrar o pai que acedeu ao pedido do jovem de estudar na França, mais precisamente, na universidade de Sorbonne, em Paris.

Àquela altura, o rapaz já foi apadrinhado por um dos mais influentes poetas russos da época, o simbolista Valeri Briusov que lhe escreveu uma das muitas cartas de recomendação com as quais Kolya tentará se enturmar com os círculos literários parisienses.

Lidos 11% da biografia.

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Fui a um sebo, na nova Arbat. Mas fui informado de que havia dois estabelecimentos no mesmo ambiente. Um deles, um antiquário de livros.

Havia primeiras edições de praticamente todos os medalhões da Era de Prata: Iessiênin, Akhmátova, Pasternak, Mandelstam… Aliás, o livro dele era um dos mais caros. Mais de 100 mil rublos (pouco mais de R$ 7 mil).

É Arina quem me apresenta. Diz que sou brasileiro: a senha que abre espantos e sorrisos. Arina diz que estou trabalhando numa antologia, ao que a senhora, me mostra uma. Julgo que seja a de 1957, resenhada por Boris Schnaiderman, em um dos seus primeiros textos no Suplemento do Estado de São Paulo. Mas não.

– É mais antiga. E a atendente me mostra aquela pequena fortuna encadernada e incrivelmente conservada. Meu espanto: é uma antologia do regime soviético com nomes que depois vieram a ser banidos das listas oficiais. Lá estavam Mandelstam, Akhmátova…

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Além da conversa que terei com Luísa sobre “Anna Karênina” vou falar sobre poesia russa, com ênfase nos autores que traduzi. Será na primeira semana de julho, na Fundação Casa de José Américo. Estarei lá com o editor do jornal A União, meu parceiro de longas datas, André Cananea.

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Por falar em A União, sigo com a coluna todos os sábados, no jornal impresso, preferencialmente escrevendo sobre poesia russa.

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No antiquário estava à venda uma curiosa e rara (ao menos nunca tinha visto) fotografia na qual se veem Stálin e Churchill aos sorrisos.

 

 

 

 

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Astier Basílio é poeta e dramaturgo. Autor de mais de uma dezena de livros, entre os quais poesia, conto e teatro. Vencedor do Prêmio Funarte de Dramaturgia, 2014. É mestre em ensino de literatura russa pelo Instituto Estatal Pushkin, de Moscou. E-mail: astierbasilio@gmail.com




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