Patafísica
A Patafísica é uma ciência, uma pseudo-ciência, ou uma paraciência? É um clube literário ou uma corrente filosófica? É um grupo de humoristas ou de gozadores? Ela foi criada por Alfred Jarry, o iconoclasta autor da peça Ubu Rei, que produziu grande escândalo, e surgiu no livro Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien (1911, póstumo). “A patafísica será sobretudo a ciência do particular, mesmo que se diga que só existem ciências do geral”, diz ele. “Ela estudará as leis que regem as exceções.” O livro foi lançado agora pela Nephelibata, com tradução de Eclair Antonio Almeida Filho e Odulia Capelo Barroso.
Para honrar a memória de Jarry, que morreu na miséria, criou-se o Collège de Pataphysique, uma daquelas instituições francesas que motejam da solenidade da cultura oficial do seu país. O Colégio é uma mistura de academia de letras e de clube de aficionados. Entre os seus membros famosos estiveram os artistas Juan Miró, Max Ernst e Man Ray; o romancista e autor de “chansons” Boris Vian; Raymond Queneau, o autor de Zazie no Metrô, Exercícios de Estilo e muitos mais.
Queneau pertencia também ao grupo da OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentielle), onde se reuniam ele, Georges Perec, Italo Calvino, Harry Matthews, François Le Lyonnais e vários outros. Parece ter sido inicialmente um departamento do próprio Colégio de Patafísica. O interesse da OuLipo era produzir ficção ou poesia seguindo algumas regras ou simetrias arbitrárias, de natureza numérica ou geométrica.
Tanto os patafísicos quanto os oulipoetas têm, não só no que escrevem, mas no modo como se comportam, uma mistura de informalidade estética aliada a espírito lúdico. A Patafísica é uma espécie de arte de jogar belota enquanto o absurdo não desaba. A oulipoesia é uma exploração de parâmetros meio aleatórios (e nisso se parece às ciberpoesias eletrônicas atuais) ou inconscientes, e nisso se aproximam de um terceiro movimento, o Surrealismo.
O Surrealismo se sonhou internacional mas a história situa seu epicentro em Paris. Dos três, é o movimento literário mais exaltado e talvez o mais crente, o menos leviano ou alienado. O movimento tem forçosamente a cara de seu líder, André Breton, o que é inevitável, já que ele excluía do grupo quem ficava diferente dele.
Não importa se os membros do Colégio de Patafísica acreditam que algumas de suas proposições mais anárquicas possam ser verdadeiras. Seria bom saber se elas ajudam a construir uma máquina de viajar no tempo, como aconteceu ao Dr. Faustroll, ou se desencadeiam chacinas até hoje inexplicadas como a de Maxwell Edison e seu martelo de prata.
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Braulio Tavares é escritor e compositor. Estudou cinema na Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais, é Pesquisador de literatura fantástica, compilou a primeira bibliografia do gênero na literatura brasileira, o Fantastic, Fantasy and Science Fiction Literature Catalog (Fundação Biblioteca Nacional, Rio, 1992). Publicou A máquina voadora, em 1994 e A espinha dorsal da memória, em 1996, entre outros. Escreve artigos diários no Jornal da Paraíba: http://jornaldaparaiba.globo.com/ Blog: http://mundofantasmo.blogspot.com/ E-mail:btavares13@terra.com.br
16 outubro, 2016 as 2:42