Campos de Carvalho


 

Campos de Carvalho vai à Forra

Hoje em dia o termo ‘forra’ tem outro sentido, para o populacho quer dizer simplesmente dar o troco, ou coisa que o valha. Creio que a escolha desta expressão Banda Forra, para dar nome a seu livro de ensaios é uma alusão ao primeiro deles, cujo título é Da Tristeza Brasileira. Nesse texto ele examina a formação do povo brasileiro. No prefácio ele explica para os leitores: “Banda Forra dizia-se, ao tempo de nossos avós, daquelle escravo que, tendo juntado pequeno pecúlio, ou espórtula, conseguia comprar com elle ao seu senhor, certo quinhão de liberdade, podendo então trabalhar para si aos domingos”.

O livro é de 1941, escrito numa linguagem que exita entre o português clássico e algumas conquistas do modernismo. A Reforma Ortográfica daquele período só iria ocorrer quatro anos depois. Foi publicado às suas expensas, para usar uma palavra que muito bem poderia ter sido dita por ele neste livro. Em minha avaliação fazia parte de seu projeto literário buscar estas palavras já esquecidas para dar novo sentido a elas, Banda Forra como Púcaro búlgaro neste sentido tem muitas semelhanças. Mas nestes ensaios ele é mais sério, parecia que à luz da ciência, filosofia e do conhecimento estava em busca de explicações para as questões brasileiras e humanas. Seu projeto literário depois muda, parte para o humor e o nonsense, talvez tentando falar das mesmas coisas, mas num outro tom. Nos anos 1970, vai publicar em O Pasquim,um jornal de humor. O próprio jornal reedita dois de seus livros, recolocando-o no campo literário como humorista.

Bem, o próprio Campos renegou este seu primeiro livro, nunca deixou que o reeditassem. Pesquisadores que tratam de sua obra também não querem mexer neste vespeiro, poucos comentam sobre ele, a não ser muito vagamente. As editoras que republicam seus livros se ocupam de relançar apenas os clássicos do período digamos “humorístico”. Tomei conhecimento desta obra por iniciativa de um bibliófilo, que copiou nestas impressoras modernas alguns exemplares, e os encadernou para gáudio de alguns poucos leitores. Poucas pessoas hoje tem acesso a esta obra, que é em certa medida uma raridade, encontrada apenas em poucos arquivos ou bibliotecas.

 

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João Antonio Buhrer é jornalista, ex-bancário, ex-blogueiro, ex-livreiro. Colecionador de livros e Arquivista. E-mail: jabuhrer.almeida@gmail.com




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