Cabaret Revoltaire – Premier Anniversaire


A Volta Triunfal do Cabaret Revoltaire

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Os dias e noites se sucediam iguais e banais na net, até que comecei a ler menções, aqui e ali, a um certo Cabaret Revoltaire. O que seria? O nome insinuava um alto astral. Então, quiseram as musas que eu encontrasse, na Casa das Rosas, a poeta Isadora Krieger – uma das mentoras do Cabaret, junto com o poeta Daniel Minchoni –, que me fez um convite para ir lá dizer poemas.

Desci ao Baixo Augusta e entrei no Beat Club, que abrigava então o Cabaret (até ser vendido, e será provavelmente demolido para dar lugar a mais um prédio esquálido).

Nessa noite, e nos meses seguintes –  pois o Cabaret baixa à terra a cada 15 ou 30 dias –, tive surpresas em série. No primeiro andar, encontrei uma jovem cujo torso nu estava sendo pintado por um artista. Com seus ombros e seios raiados de cores, ela me parecia uma nativa do planeta Fantasia. Enquanto observava,  um verso me veio à mente: o pincel acaricia sua pele… Nesse mesmo local, a poucos passos, havia uma modelo nua, sob luz amigável, posando para um grupo de artistas, que a desenhavam com seus crayons. Toulouse Lautrec amaria esse cenário, produzido pelo pintor Maurício Eloy.

A cada edição do Cabaret, uma nova modelo surgiria em cena: me lembro de uma mulata linda e grávida – e de ter vislumbrado, certa noite, uma vulva com um design tão perfeito quanto o de uma concha marinha.  Alumbramentos, diria Bandeira.

No palco, alternavam-se músicos, poetas, performers diversos. Os magos do som Pedro Zopelar e Paulo Beto propunham uma moldura sonora para a leitura de cada poeta, Pedro ao teclado eletrônico, e Paulo fazendo vibrar um theremin. Brilhantes.

Numa dessas noites, o mestre dos marionetes Rafael Leidens encantou o público com sua boneca “Elis Regina”, que interpretou Vou deitar e rolar. A cada inflexão da cantora, a cada qua-qua-ra-qua-qua, a marionete correspondia com um gesto de mão, um trejeito de ombro ou de quadril. Um espetáculo fascinante, que me reconduziu à infância por alguns momentos.

Em noite mais feérica, a dançarina de burlesque Clóris Fontainebleau nos deleitou com sua fina arte de strip-teaser. Em noite mais sombria, num festim vampírico, vimos um servo de Drácula deitar uma jovem nua (sob uma camisola translúcida), numa banheira cheia de sangue cênico. A moça tinha um “talho” horrível na garganta, obra de um maquiador muito habilidoso.

E assim, noite após noite, o Cabaret se fez ateliê, estúdio musical, teatro, circo, sarau e arsenal de frissons, sob o comando da hostess Isadora Krieger, assistida por sua mana gêmea, a notável fotógrafa Carolina Krieger.

Fui emendando estas recordações para dar uma ideia do efeito da atmosfera do Cabaret Revoltaire sobre nossa sensibilidade. Outros tantos poetas e escritores, que lá  estiveram – Flávio Viegas Amoreira, Marcelo Ariel, Fabiana Faleiros, Luís Rodolfo Dantas, Vanderley Mendonça, Marcelo Mirisola, André Sant’Anna, Marcelino Freire e Sérgio Fantini,  para citar alguns  –, poderão dizer mais e melhor sobre esse refúgio itinerante na Paulicéia megalítica.

E agora uma grande notícia: neste 15 de dezembro, na rave cultural da Casa das Rosas, vai ter mais Cabaret Revoltaire, que celebra seu Premier Anniversaire.

Vinde todos, poetas, seresteiros, namorados, notívagos, boêmios. Como eu já disse alguma vez, um dia vou gostar de ser fantasma num cabaré astral muito parecido com o Revoltaire.

 

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Cabaret Revoltaire – Premier Anniversaire
15 de dezembro, a partir das 21 horas, na Casa das Rosas.

Desorganizadores: Isadora Krieger e Daniel Minchoni

Artistas convidados desta edição: o poeta Luiz Roberto Guedes, a poeta Fla Perez, o artista plástico Maurício Eloy e o diretor de arte Vinicius De Lima Costa dirgindo a pintura com modelo vivo, o tecladista Pedro Zopelar, o marionetista Rafael Leidens, a dançarina burlesca Cloris Fontainebleau, a dupla Fabiana Faleiros e Rafael Rg, a banda Tranqueiras Líricas (Marcelo Montenegro, Marcelo Watanabe e Fabio Brum), Leo Gonçalves e Kanzelumuka com a performance Poemacumba, Giovani Baffô com o “Menor Sarau do Mundo”, Daniel Minchoni com “A poesia é maior que eu”, a poeta e artista plástica Sinhá, as djs Glaucia Nascimento e Isadora Krieger, LOZ-2962 STUDIO (Chiu Yi Chih, Irael Luziano e Guidival Verde) com a performance “Philomundus”, Kika Ortiz com a performance “BATHORY”, exposição do fotógrafo Rafael Avancini, exposição da artista plástica Ilúa Hauck da Silva, projeções do artista Pontogor, exibição do filme “Apetit” de Marcos Nasci, Exibição do filme “Eu Cínico” baseado no romance de Luis Rafael Montero dirigido por Paulo de Moraes, exibição do filme “Os Degenerados” de Manu Sobral, exibição do filme “Sailor’s Wife” de Manu Sobral, Dacio Pinheiro e Antonio Sobral, o artista Mick Mengucci.

 

 

 

 

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Luiz Roberto Guedes é poeta e escritor. Publicou, entre outros,    Calendário Lunático — Erotografia de Ana K (2000),  O Mamaluco Voador (2006),  Minima Immoralia/ Dirty Limerix (2007), Meu Mestre de História Sobrenatural (200 8), e Alguém para amar no fim de semana (2010). E-mail: lrguedes@hotmail.com




Comentários (1 comentário)

  1. joão antonio, Guedes Me revolto por não poder frequentar este Cabaré. Fazer o quê… Belo texto meu caro, deu vontade de ir atrás deste evento, seja lá onde for que esteja. abracadabraço joão antonio
    17 dezembro, 2012 as 0:47

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