Preste Atenção
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Outro dia ouvi no rádio um estudante dizendo – com a maior naturalidade – uma coisa assombrosa. Queixava-se ele de que os professores queriam que os alunos prestassem atenção na aula. Exatamente. Era como se o professor estivesse pedindo algo impossível de ser atendido.
Devo esclarecer que passei mais de 30 anos dando aulas dentro e fora do país. Hoje não sei como estão as coisas. Contam-me coisas estranhas: que os alunos ficam consultando os celulares todo o tempo, que o professor fica fazendo um esforço danado para atrair a atenção da classe, isto sem falar nas escolas que verificam se os alunos estão armados e até agridem os professores.
Sou do tempo em que o professor era uma autoridade na sala de aula. Em alguns colégios, sobretudo, religiosos os alunos se levantavam quando o mestre entrava para dar aula. O mundo mudou. Muitas escolas não conseguem acompanhar a evolução. Estamos em transição para alguma coisa que não sabemos como será. Antigamente o saber tinha dono e estava nos livros. Hoje está na internet. Todos têm acesso à informação. E nem por isto somos melhores.
Vivemos uma época que tem duas características: a dispersão e a transgressão. Quando essas duas coisas vêm juntas, a situação piora. Por isto aquele aluno estava se queixando de que tinha que prestar atenção na aula. Mas não tem outro jeito de estudar e aprender. Os desatentos podem se dar mal. O mundo é feito de regras e sinais. Tentem atravessar a rua quando o sinal é vermelho.
[Texto para Rádio Metrópole-Salvador]
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Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista “Imprensa” um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987. Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984). Blogue:http://affonsoromano.com.br/blog/index.php E-mail: santanna@novanet.com.br