Ação
O resultado final por si só não é o graffiti. Só o muro pintado não traduz. O graffiti é um acontecimento, momento, movimento. Sem a ação, sem intervenção que resulte em transform(ação), sem ser na rua, sem ter inter(ação) com o público espontâneo e democrático, não é graffiti. É outra coisa que usa a linguagem do graffiti, não é graffiti.
Para o graffiti é muito importante o aqui-agora, porque como arte que contém muito porâneo, ele tem como característica a efemeridade.
A ação corporal, muitas vezes a entrega física, a criação se configurando e reconfigurando na mente a cada instante, a variação de dinâmica, o acontecimento, o estar vivo, a meditação, a paz interior, o silêncio interno, a entrega real, o deixar os problemas um pouco pra depois, a evolução, o enfrentamento de você por você mesmo, …quando acontece isso, aí sim acontece graffiti. Esse é o trampo.
O atravessar de rua para ver de longe, o prazer, o suor, o cheiro de spray misturado com o da rua, a cerveja gelada, a cerveja quente, os amigos, o amor, a visão que quanto mais tempo se olha mas se afina e por fim se cansa, a sensação da textura da superfície na pele, o sol no corpo, o som, a intolerância, os elogios, a repressão, a discussão, a aceitação, a improvisação, a negociação, o diálogo que se faz na rua, a moviment(ação) e principalmente a transformação do espaço compõe essa abrangente manifest(ação) com algumas dessas variáveis.
E move o corpo todo: agarra no muro, fica de pé num apoio improvisado, ajoelha diante do “espelho”, a boca assopra para que não escorra, os braços são compassos, o tronco e as pernas dão a base… tem muita energia envol(vida), muito tempo de nossas vidas. Os movimentos são grandes, são mínimos… são empolgados, cansados, com velocidade, vontade. O que fica é apenas consequência, o registro.
.
Falo com foco no processo, no estar fazendo, nas formas de fazer e não no feito, no cuidado do como se faz, foco no meio do caminho, nos meios, no caminho do meio (não de medíocre e sim de equilíbrio diante do caos)… até o fim.
Entre no [entre] da experiência, entre no seu corpo.
.
.
Street Art no Museu: http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp819/pag08.htm
.
yá! é o codinome de Yara AMaral, artista urbana paulista, que colore e transforma as ruas de São Paulo e outras cidades com seus graffitis desde 2003. É formada em performance no curso Comunição das Artes do Corpo pela PUC-SP, começou a graffitar em uma oficina da ONG Projeto Aprendiz com os mestres Boleta e Zezão, já expos em espaços importantes
como MAC-USP, Carmichael Gallery, IQ Gallery entre outros, realizou diversas curadorias na área e atua também como arte-educadora em projetos sociais pela ONG Cenpec, na Fundação Casa e outros. Sua pesquisa, sempre autobiográfica, começou com personas femininas punks, passou por mães, famílias e hoje são flores da espécie helicônea rostrata e grafismo indígena, resgatando parte de suas descendências. Cores vivas, latinas e tropicais. Temas: o resgate da família, o budismo, a maternidade, a transformação do ambiente, arte indígena e popular. E-mail: ya@ya.art.br Site: WWW.ya.art.br
Comentários (5 comentários)
Comente o texto

27 fevereiro, 2012 as 19:22
27 fevereiro, 2012 as 20:53
29 fevereiro, 2012 as 0:58
8 abril, 2012 as 2:09
30 julho, 2012 as 21:27