Alfabeto das Nuvens
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Inicio essa prosa dizendo entre outros papos, questões e reflexões que:
A voz da literatura infantojuvenil está aí há um bom tempo. Datam do século XVII, XVIII suas primeiras manifestações. Dos Irmãos Grimm passando por Andersen e companhia se discute: se a LIJ é gênero ou não, se é para leitores de 0 a 100 anos, se é para fins pedagógicos, se é moralista, poética ou lugar, por excelência, do imaginário fantástico, do devaneio, da diversão, entre outras meditações que sempre dão pano para manga.
Escritores de períodos e nacionalidades distintas vêm cultivando o exercício da escrita para crianças e jovens, sejam àqueles que se dedicam exclusivamente a ela ou àqueles que transitam pelos diversos públicos. E para além dos rótulos, a verdade é que (e não é de hoje) a LIJ vem ganhando cada vez mais espaço e conquistando leitores de todas as idades e críticos dos mais exigentes, com exceção daqueles escravizados por cânones. O que se pode concluir é que o preconceito está sendo superado e a qualidade de muitos autores reconhecida, sem necessariamente pertencerem ao rol dos escritores “sérios”. Escrever boa literatura seja para criança, jovem ou adulto é uma atividade que exige muito trabalho: reescrever, reescrever, reescrever, burilar, cortar, ler, ler, ler, reler…Assim é: produzir algo que se sustente não é e nunca foi fácil.
Outro fato que precisa ser dito é que escrever para crianças não é dar aulas de bons modos, não é enquadrá-los, não se trata de ter uma mensagem moralista, nem servir de sossega leão literário. Subestimar o leitor é um crime. É preciso ter boas histórias bem escritas e não “mensagens” catequizantes. E o que realmente interessa é o sensível, o poder que cada autor tem de dançar e encantar com palavras o leitor. De sussurrar segredos no ouvido dos elefantes ou de devanear sobre a pena e a pedra.
Escrever para jovens leitores tem haver com despir-se de opiniões já estabelecidas, está mais afinado com subversão do que com sistema de regras. É mais quântico do que cartesiano. Neste sentido o texto literário dedicado aos pequenos aproxima-se do texto poético, pelo princípio de experiência e potencialidade inerente a sua essência imaginosa e delirante. Costumo dizer que para escrever para crianças é necessário conhecer o Alfabeto das Nuvens, plainar entre nuvens líquidas ou as cumulonimbus (aprendi isso assistindo a animação UP, da Pixar), independente das correntes de ventos atmosféricos. É claro que nem sempre os textos precisam ir por esse caminho, textos mais realistas também tem o seu lugar garantido. O que não se pode perder para nenhuma literatura é o despertar do sensível, início e abertura de toda e qualquer produção artística. Enfim, há muito que devanear sobre nuvens e alfabetos.
Até o próximo voo.
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Marcelo Maluf é Mestre em Artes pela UNESP. Escritor e músico. Medita no metrô, dança com sua sombra, adora comer moedas de ouro de chocolate. Escreveu as novelas infantojuvenis Meu pai sabe voar (FTD) em parceria com Daniela Pinotti, Jorge do pântano que fica logo ali (FTD), organizou a antologia de contos Era uma vez para Sempre (TERRACOTA), entre outros. Tem contos publicados em antologias, revistas e sites literários. Bloga em: http://www.marcelomaluf.blogspot.com E-mail: malufmarcelo@gmail.com
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31 dezembro, 2011 as 20:53