O Fantástico e o Poético


Duas leituras: o Fantástico e o Poético no mundo de Colin Thompson e Cyro de Mattos


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Duas leituras. Dois modos de escrever e pensar a literatura para crianças e jovens.
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Primeiro vou escrever sobre a experiência que foi ter lido Sonhos Fantásticos, do inglês Colin Thompson. Thompson é aquele tipo de autor que nos convida a mergulhar em seu universo, sem restrições, regras ou certezas. E o seu mundo é povoado por mistério, aventura e fantasia.  A história do jovem Max que, logo após perder o pai, é enviado para passar um tempo com a avó, em Savernake, um lugar onde tudo é possível é, sem dúvida, um dos textos mais empolgantes que li. Thompson sabe ter bom humor, lidar com as questões do estranho e do fantástico, do mistério e da aventura psicológica de Max, como um mestre no gênero. É na gigantesca e misteriosa casa da avó, com seus infinitos cômodos, com o centenário gato Webster, o cão Neville, e a Menina dos Sanduíches que se passa boa parte desta história. Imagens como a de um submarino de selos vermelhos encantam pela força do imaginário de Thompson, que diga-se de passagem, também é o ilustrador do livro.

O livro Sonhos Fantásticos (Brinque-Book), de Colin Thompson, já está entre os meus favoritos do autor, já li também e recomendo: Como viver para sempre e O violinista.

Para saber mais sobre Colin, acesse a sua página oficial:

http://www.colinthompson.com/index.html

Já em outra vertente, a belíssima prosa poética de Cyro de Mattos em seu O Menino e o boi do menino (Editora Biruta) começa por nos encantar assim: “Era ainda um bezerro quando chegou ao sítio. As orelhas de gavião, recurvas nas pontas. Cresceu e virou novilho. O menino havia colocado o nome de Pintado nele”. Já neste pequeno instante do texto afinadíssimo de Cyro, dá para perceber que a partir daí o menino e o boi não serão nunca mais os mesmos. Com uma prosa enxuta e densa, Cyro constrói uma narrativa para todas as idades. Não se trata de um livro fácil; tem uma melancolia que, aos poucos, nos faz entender que toda boa tristeza é na verdade o princípio da compreensão da beleza. O pai do menino, às vezes, lhe dizia que “o boi vale como ouro”. E o menino ficava todo arrepiado com aquilo, vislumbrando o futuro do boi no açougue. Ao ler o livro de Cyro acompanhado pela não menos lírica ilustração de Maria Lúcia de Campos Brandão, aproximei-me do meu menino interior e desejei profundamente ser amigo daquele boi, acariciá-lo, protegê-lo. Depois desejei cuidar do menino. E, por fim, quis ser o próprio boi.

E o que melhor podem as palavras senão servir como machados a romper o que nos impede de mergulhar dentro de nós mesmos? É isso o que me fez a leitura da história do menino e o seu boi.

O que se apresenta são linguagens distintas, modos diferentes de narrar e contar boas histórias para pequenos e jovens leitores. Há quem diga que não existe na literatura essa coisa de destinatário leitor, assim como não existe uma literatura feita para adultos, também não existe uma que seja infanto-juvenil…O que vale são bons textos que indicados pelo mercado editorial ou eleitos pelos próprios leitores tomam para si e o experimentam como uma deliciosa fatia de bolo. Bem, isso é matéria para outro texto…O que vale é a diversidade e as múltiplas possibilidades da literatura e os caminhos dessa arte de narrar boas histórias para todas as idades. O que esses dois livros tem de sobra.

 

 

 

 

 

 

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Marcelo Maluf é escritor, apanhador de palavras dançarinas e terapeuta corporal. Mestre em Artes pela UNESP. Medita no metrô e dança com sua sombra. Escreveu as novelas infantojuvenis Meu pai sabe voar (FTD) em parceria com Daniela Pinotti, Jorge do pântano que fica logo ali (FTD), organizou a antologia de contos Era uma vez para Sempre (TERRACOTA). Seu mais recente trabalho é o livro de contos Esquece tudo agora (TERRACOTA, 2012). Bloga em http://www.marcelomaluf.blogspot.com E-mail: malufmarcelo@gmail.com




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