O poeta roda a bolsinha
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Ei você!, jovem com pretensões literárias, ansioso para publicar seus livros e, com eles, mudar o mundo e mudar de vida.
E ei você!, coroa beletrista, mais que passado da hora de eternizar suas verdades, em prosa ou verso, seu cantos do cisne.
Nos dois lados da ampulheta, tudo isso fiz, faço e farei.
E hoje, escritor profissional, posso dizer com todas as letras, literalmente, que esse sonho, o de viver apenas do que se ganha como autor no Brasil belga e indiano é uma roubada.
Deliciosa, heróica e furada canoa.
Em qualquer idade ou ritmo de produção, trabalha-se muito e ganha-se pouco.
Numa rápida contabilidade, dou a seguir alguns números do padrão Livros Vendidos = Poder de Consumo. Ganha-se 10% do preço de capa, lembrem-se.
Portanto, para um café com pão na padaria da esquina, tenho de vender 3 livros. Para um quilo de feijão, idem. Para um almoço com refrigerante dolly, 6 livros.
Ir ao cinema com a paquera, 22 livros. Somando a pipocona estilo americano, 28.
Para comprar um carro popular usado, 13 mil livros. Viagem a Paris, 15 mil livros numa trip de mochileiro.
Precisaria existir um Bolsa Escritor pra aliviar a barra? Não sei. Precisamos é de mais leitores, não de mais escrevinhadores.
Por isso existem tão poucos escritores e poetas profissionais tupiniquins. A grande maioria, que não é louca nem estóica como eu, amarra seu burrico num carguinho do governo e deixa a literatura como um luxuoso e supérfluo hobby.
Se bem que vender a alma ao diabo do sistema e a deusa da literatura raramente produz um Carlos Drummond de Andrade. A maioria escreve e publica só por vaidade mesmo.
Mas o excluído do capitalismo aqui, continua rodando a bolsinha mas não abre.
Chato é que aquilo que uma garota de programas de um Bahamas ou bordel top ganha em uma hora, eu só ganho se vender 500 livros!
É soda.
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Ulisses Tavares ainda não publicou em bulas de remédios e em chinês. Por enquanto. Comemora 52 anos de militância com a palavra escrita, falada, desenhada, encenada, cantada, televisionada e filmada. Mais de 112 livros publicados em todos os gêneros e assuntos. Mais de 20 milhões de exemplares vendidos. Não fosse brasileiro, estaria rico. Mas é rico de imaginação e planos. Budista, ativo ecologista e defensor dos animais. Professor, publicitário, marketeiro, jornalista, dramaturgo, compositor, roteirista, ator e sempre poeta. E-mail: uuti@terra.com.br
6 abril, 2012 as 18:15
6 fevereiro, 2014 as 20:31