Poesia Alheia



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Minha dica para os leitores do Blablabloques da Musa é o Poesia Alheia, do poeta Ricardo Silvestrin. A chamada na página de abertura vale como uma clara definição de propósitos: “Em vez de falar da vida alheia, resolvi falar da poesia alheia”. Raridade! Um poeta voltado para o Outro, em regime de confraternização, em vez de ficar girando, em círculo fechado, sobre as engrenagens do próprio Ego.

Além disso, essa mesma chamada define também uma estratégia, posta em prática a cada edição: falar, falar – sem medo de errar ou de ser feliz. É disso que se trata, uma voz humana, a demonstrar que a poesia permeia o nosso cotidiano, para talvez iluminá-lo com um pouco de vida autêntica; uma voz que fala a todos nós, não só ao especialista ou ao erudito, quase sempre um pouco pedante.

Ricardo Silvestrin sabe que poesia não é uma especialidade, é uma generalidade, e compartilha com os leitores o seu espanto diante da enorme variedade de poemas que se oferecem à sua curiosidade, à sua sensibilidade e à sua inteligência.

Poesia é questão de gosto? Não dá para negar, nem seria o caso. Então não se discute? Aí é que mora o erro. Exatamente por depender, também, do gosto de cada um, poesia se discute, sim, e como! A chave, Ricardo Silvestrin conhece bem: primeiro, jamais tentar impor o seu gosto ao leitor, ainda que seja o principiante, sequioso de “conselhos”; segundo, jamais esquecer que além de ser questão de gosto, poesia é também questão de conhecimento, cultura, espírito crítico, experiência acumulada. E tolerância.

Conclusão: Silvestrin nos ajuda a compreender que, afinal, toda poesia é alheia, nisso de que está aí fora, a nos revelar quem somos. Toda poesia sonha em ser alheia, inclusive a de cada poeta, para ele próprio.

 

 

 

 

 

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Carlos Felipe Moisés é autor de, entre outros livros de poesia, Círculo imperfeito, Subsolo, Lição de casa e Noite nula. Como crítico literário, publicou, entre outros: Literatura, para quê?, O desconcerto do mundo e Poesia & utopia. Traduziu Sartre (O que é a literatura?), Marshall Berman (Tudo o que é sólido desmancha no ar), Proust (Retratos de pintores e músicos) e vários outros ensaístas e poetas contemporâneos. Especialista em Fernando Pessoa, sobre quem publicou vários livros, é responsável pela curadoria da exposição “Fernando Pessoa: plural como o universo”, no Museu da Língua Portuguesa (SP), no Centro Cultural Correios (RJ) e na Fundação Gulbenkian. E-mail: carlos_moises@uol.com.br




Comentários (3 comentários)

  1. Philippe, A virose me pegou, alheia. E torno-me alheio nela, em catarros e esmorecimentos que não são meus, que vou jogando fora, talvez até algo de mim que nem sabia. Poesia alheia, inevitável.
    7 junho, 2012 as 23:45
  2. Edvan Moura, Olá, como faço para divulgar meu trabalho com vocês? Escrevo poesias desinteressadas. Meu link é: http://www.diasdepoesias.wordpress.com abs.Ed
    22 agosto, 2012 as 21:43
  3. André Francisco Gil, poesia pode ser pétala mas também pode ser marreta,depende do estado em que se encontra o leitor,porque se ela pensa com a cabeça,ela sente com o coração,e a palavra tem esse poder de highlander,ou cicatriza ou estraçalha.vixe maria poesia é bálsamo e alivia a febre,limpa a sarna da pele.
    2 setembro, 2013 as 22:12

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